Caborezin de Caicó
Solenidade marcada para às oito horas da noite, no antigo prédio do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. No auditório onde se daria a posse de Orlando Caboré, alguns poucos homens e escassaz mulheres aguardavam anciosamente pelo seu discurso, dando como certo que de suas palavras sairiam labaredas de fogo que aqueceriam ainda mais o já escaldante auditório. No alto, um velho e único arcondicionado, ao invés de rajadas frias de ar, quando muito dava os seus últimos suspiros mornos.
Precedeu-o no falatório o Dr. Énélio Petrovich, presidente do IHGRN, que proferiu discurso em homenagem aos cem anos de nascimento do memorialista Raimundo Nonato. Em seguida Valério Mesquita, proponente do Caboré, assumiu a tribuna para saudá-lo com um discurso, ao contrário de seus causos, nada pitoresco, já que arquitetado bem ao estilo laudatório e encomiástico dos acadêmicos. Feitas as juras e completado o ritual de posse, lá vai Caboré para a tribuna. Ao chegar lá, ficou olhando para cima. O microfone se elevava uns 50cm acima de sua cabeça. Rápido, um dos serviçais do instituto tentou socorrê-lo e mesmo ajustando o pedestal na altura mínima, Caboré ainda teve que esticar bem o pescoço para ajustar sua boca ao objeto fálico-falante. Sem saudar ninguém da mesa, começou por dizer assim: Se eu desabar daqui, Valério, a culpa é sua! e passou a destilar o seu veneno e o seu rozário de lamentações. Culpou o poder público estadual e municiapal pelo que chamou de abandono de Caicó; lamentou a ignorância histórica de seu conterrâneos que confundem inclusive a data da emancipação política do município; lembrou nomes da fauna popular das terras do cuó, todos personagens de seus livros; tudo isso aos trancos e barrancos por causa das páginas do discurso que teimavam em não passar direito, provocando pausas nervosas em seu discurso. Emocionou-se ao mencionar a filha, ali presente, e convidou a todos, principalmente aos boêmios do senadinho, a irem beber por sua conta e risco.