Os Chineses - mensagem do Barnabé Varejeira

Bão dia, Cérjim, meu amigão, amigão-do-peito. Há quantos dia eu não envio, pelo Uátesape, mensage po cê? Já faz um punhado de tempo, não faz? Faz. Eu tava com sardade de mensagear po cê as instória acontecidas por aqui e argumas indéia que pensei ca mia cabeça que Deus Nosso Senhor pôs em cima do meu pescoço pa eu, além de nela criá pioiô, cos meu botão, que são pôco, pensá, e pensá bem, nem sempre, é vredade, pensamentos escorreito, digno, bom, dos qual me orguio; às vez, penso cada bestêra que Deus me livre. Véxo-me de alembrá! Não tenho corage de contá pa ninguém, tampoco pa mim, o que me vai na teia uma vez e ôtra, e sempre. É cada uma! Parece, inté, que um anjinho diabóico qué me testá a ombriedade, pa vê se eu resisto às tentação.

Ma veja o cê, Cérjim, uma coisa muinto coisada que ca mia cabeça pensei ônte à noite, pôco dispois que o Sór foi drumi, após queimá os neurônio dos fio de Deus. Antes de contá po cê o que pensei ônte e pruque pensei os pensamento que pensei e não ôtros pensamento, quero sabê do cê, agora que mia curiosidade me afeta, quero sabê do cê, Cérjim, uma coisa, uma coisa só: Neurônio existe? Arresponda-me com sinceridade. Tô achano que tar instória de neurônio é do arco-da-véia, pêta, invencionice do Pedro Malazartes, e não de gente respeitárve, séria. Eu nunca vi neurônio na cabeça de ninguém. Diz-se por aí e por aqui, mais por aí do que por aquí, que na massa cinzenta que recheia a cabeça dos óme o tar de neurônio é quem dá as carta do inspírito dos óme. Sei não... Parece instória pa boi drumi, pa enche linguiça; e mais do que aqui, aí em Piamoangaba fala-se mais da estrovenga; por aí, mais do que por aqui, tem doutor, muintos doutor, que exibe suas cabeça, dizêmo a vredadeira vredade, cheia de nhaca. É cada bêstera sonante que eles fala que só veno. Só veno e só ovino. Deus me livre! Esta é uma das razão que me faz não entrá dentro da cidade e nem saí fora do campo. De gente doida quero distança, e muinta distança.

Agora, ansim que po cê preguntei o que eu queria preguntá, vâmo pa conversa que me fez ligá o teofone e enviá po cê esta mensage. Veja o cê, Cérjim, como que é engraçado o mundo. Até ôtro dia, não faz muinto tempo, não, ninguém ovia falá, e se ovia não escuitava, não dava muinta corda, dos chinês, os óme de zóinho puxado inguar os dos japonês. Diz-se que os japonês são nipônico, e os chinês sino. Sino, que eu saiba, tão nas igreja. Os chinês são aparentado cos japonês, e cos vietnanmitas tamém. Todos ele, de zóio puxado. Só os zóio; as zoreia, não.

Uma famia de chinês, sabe, Cérjim, visitáro transandonte a mia famia. É uma gente que eu e mia esposa conhecêmo há um bom tempo. E fazia muinto tempo, já, que nós não gasta um bom dedo de prosa co ela. São gente fina, trabaiadôra que só veno. Eu não sei falá os nome dele, os nome chinês; então, eu chamô eles por nome brasilêro, mermo: seu zé e dona Ana. O nome chinês dele é Zé, ou Né, ou Pé, sei lá; e o dela é Nan, Ná, ô ôtra geringonça. Não faço indéia de quar seja. O nome dele aos meus ovido soa inguar Zé, então é Zé o nome dele; e o nome dela aos meus ovido parece Ana, então é Ana o nome dela. Pra que compricação?! Eu chamo ele de Zé e ela de Ana; ela atende pelo nome Ana e ele pelo nome Zé; se ele não faz questão que mia muié e eu o chame de Zé e a muié dele tamém não se ocupa disso, e se ela não faz pruquê mia muié e eu a chame de Ana, e o marido dela tamém não se percupa co isso, então mia muié e eu chama ele de Zé e ela de Ana, e ansim, nos entendemo como se fosse todos nós quatro fio de prutuguês de Lisboa, os pai do imperador. Do mermo jeito, digo pa título de curiosidade, eu chamo aquele americano batuta, o Uóchito, que me visitô ôtro dia, de Tónho. Ora bolas! o nome dele é de ôtro praneta, tá, no originar, em ôtra língua, que os prutuguês não sabe falá, e quando ele se me apresentô pela primêra vez, e até então eu não o comnhecia e ele não me comnhecia, ansim que ele me falô o nome dele, entendi ele falá Tónho, então ficô Tónho o nome dele, e pa mim Tónho ele é, e pa ele eu so o Nabé. E ansim nos entendêmo.

Mas veja o cê, Cérjim, que divertido. Os chinês têm cada nome! Os fio do seu Zé e da dona Ana são dois, o Chan Tan Tan e o Chen Tan Pa. Eu, pru respeito, aos meus amigo Zé e Ana não rio, é craro, sempre que tenho dos óio diante aqueles menino de zóio puxado inguar os do pai e da mãe deles, mas que sinto vontade de derramar uma gargaiada, sinto. Onde já se viu um sino com tampa e um tantã! É do balacobaco, né, não, Cérjim?! Coisa de gente de ôtro praneta.

Cérjim, por hoje é só. Fique com Deus Nosso Senhor e ca Nossa Senhora Mãe do Menino Jesus. Inté.

Ilustre Desconhecido
Enviado por Ilustre Desconhecido em 24/11/2022
Código do texto: T7656780
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