Só quero guaraná

Naqueles dias a vida na Terra era assim um coisa arredondada e levemente achatada nos polos. Unir o norte e o sul com a linha do Equador não era uma tarefa fácil para quem trabalhava o tempo todo com outra marca para costura: isso era corrente e recorrente. Os dias iam e vinham sem perspectiva: um dia era sábado, o outro era domingo pede cachimbo e a única novidade era que, passeando pela estepe africana, a certa altura da viagem o lobo da estepe teve o dissabor de ver um pneu do seu jipe pedir para ser trocado. Por sorte ele tinha um estepe, um pneu reserva, então logo depois o problema estava resolvido.

Mas é claro que enquanto o lobo da estepe trocava o estepe algumas hienas que passavam pelas imediações ao ver o lobo bobo bancando o mecânico se cagaram de tanto rir. Mas foi só isso que mereceu registro então. Depois, já no continente americano, nosso lobo europeu quis conhecer alguns parentes distantes que viviam no Brasil e eram famosos por aqui. Tanto que um deles servira como inspiração para a criação da nota mais valiosa que um brasileiro poderia ter na carteira - a de 200 reais - mas raramente tinha. Infelizmente pouquíssimos trabalhadores tinham visto a nota de perto, colocado as mãos numa alguma vez, ou mesmo visto o lobo-guará, que a ilustrava.

Lá pelos lados de Guaratinguetá o lobo da estepe e seu primo distante, o lobo-guará, se encontraram, conversaram muito, trocaram dados culturais e beberam guaraná. O guaraná, o guará explicou ao outro, na verdade não era uma cerejinha, mas uma sementinha que transformada em pó permitia e produção da bebida. As plantações de guaraná ficavam especialmente no norte do Brasil, então o lobo europeu disse ao primo que quando passasse por lá, mandaria para ele algum açaí e um pato no tucupi.

E como tinham gastado muita energia naquele dia, não queriam encarecer ainda mais a conta de energia, então foram dormir, um no mato outro em sua barraca. E se alguém dormiu enquanto tentava ler essas linhas é porque provavelmente anda tomando guaraná ruim, que bom mesmo é o da Antarctica, que não dá sono, muito pelo contrário. Pelo de lobo? Não, só pó de guaraná mesmo.