Pescarias & Estórias - Curva do “U”

Toda tardinha, naquelas que eu podia, fazia minhas idas à curva do “U” no nosso Ribeirão Bonito, rio próximo à cidade, pelas bandas do cemitério, para arrancar das aguadas singelas, bagres, traíras, ...

Já noitinha, começa uma brisa e em seguida um sopro, idas e vindas de vento.

Instantaneamente, um lamento musicado pouco ritmado, tem inicio: “Maria Laoooo...” , um espaço, e novamente: “Maria Laooooo...” e, calma ..., logo em seguida dá começo: “Maria Laoo...”, tempo curto, tempo mais longo!

Começo a rebuscar dos lados, atrás, ... , nada, só eu e Deus! O vento soprava agora, mais leve, ..., leve brisa ... cantiga silenciosa, curta disforme -“Maria Lao...”- incomodado, larguei a vara de bambu tratada com sebo, e, fogo, retinha qual vela “parma-sete”, encabrestada com linha de algodão Corrente 50, espetada no barranco, e saí à cata do tal do gemido cantado. Procura que procura, já estava quase breu, eis que encontro o tal do resultado sonoro, estranho, esquisito, solitário:

-Um pedaço de disco 78 rotação, aqueles de carnaúba, preto, preso no meio do arranhagato, trazido pela ultima enchente, no qual, movido pelo vento, um galho esfregava sitemático, um longo espinho feito agulha, com função, arrancava da lasca de disco o lamento:- “Maria Laooooooo...”.

Bem já estava escuro, começava novo vento, juntei as trai e, fui seguindo p`ra casa, sem bagre, sem traíra, mas, ouvindo o tal lamento insistente: “Maria Laoooo...”, “Maria Laooooo...”, “Maria Laoooooo...”, “Maria Laoooooo...”, “Maria Laooooooo...”

Pura verdade!!!

marinho
Enviado por marinho em 06/12/2005
Código do texto: T81822