O CACHORRINHO DA MADAME

Donato, assim que viu Vanessa, desmanchou-se de amores pela morena.

Diante de tanta beleza, o rapaz não conseguia tirar a menina do seu pensamento.

Assim que se aproximava o término das aulas, Donato encostava-se no muro próximo do colégio e ali permanecia até que a estudante passasse e lhe dirigisse um simples olhar.

A paquera já durava alguns dias e todos os amigos de Donato já sabiam daquela paixão.

Certo dia, quando a garota voltava do colégio, o rapaz encheu-se de coragem e dirigiu-se a ela frisando:

- Tudo bem, Vanessa?

- Tudo bem, Donato - foi a resposta.

- Podemos conversar? - disse ele novamente.

- Claro, vamos andando.

- Posso levar seus cadernos? - o rapaz já demonstrava gentileza.

Sem responder, Vanessa entregou-lhe seus cadernos, e ambos andaram alguns metros em silêncio.

De repente, Donato ousou novamente, diminuindo o passo; fixou Vanessa e lhe afirmou:

- Vanessa, eu gosto muito de você, há muito tempo eu queria esta conversa entre nós. Você quer namorar comigo?

- Olhe, Donato, eu também gosto muito de você e aceito o seu pedido.

E assim prosseguiram a caminhada, agora de mãos dadas.

Ao chegar à praça que ficava próximo da casa da estudante, pararam para a despedida.

- Podemos nos ver mais tarde, Vanessa?

- Claro, Donato, aqui mesmo às seis horas.

No horário marcado, Donato já esperava a moça.

Vanessa chegou muito bem vestida e sorridente. Após cumprimentar o namorado, ela lhe disse:

- Donato, tenho um convite a lhe fazer.

- Pois não, estou ouvindo, Vanessa.

- Olhe, Donato, sábado, na semana que vem, é meu aniversário, vou fazer quinze anos e quero que você dance comigo a valsa. Você aceita?

- Com muita honra, Vanessa, com muita honra - respondeu-lhe eufórico.

Já em casa repousando, Donato passava horas imaginando o momento da valsa. Certamente os amigos iriam “morrer” de inveja, afinal Vanessa era bastante cobiçada.

Faltava uma semana para a grande festa e Donato já tinha tudo pronto, terno, sapatos, somente esperando a hora da apoteose.

O pai de Donato tinha um carro tipo “perua”, que se chamava rural e que o rapaz praticava direção com ajuda do amigo Anfilófio. Já dirigia até bem, apto a fazer o teste para obter a carteira.

No sábado, dia da grande festa dos quinze anos da eleita, Donato, logo pela manhã, saiu bem cedo dirigindo a “rural” do pai.

Passou em casa de Anfilófio chamando-o para passear. Depois apanhou um outro companheiro, Ranulfo, daí seguindo o trio na direção da casa de Vanessa. Donato logicamente queria mostrar à namorada que já estava dirigindo.

Ao passar diante da casa da namorada, de lá saiu em desabalada correria um cachorrinho “pequinês” buscando atravessar a rua, com o que acabou por ser atropelado pela “rural”.

Com a pancada o cachorrinho ficou estatelado no chão, sob os olhares condoídos de Vanessa e outras mulheres que se arrodearam do corpo inerte.

Donato bem que tentou parar o veículo e socorrer o infeliz cãozinho, contudo, diante de tanta gritaria que faziam as moças, não teve coragem, talvez temendo ser linchado.

Pelo retrovisor, ele ainda via as moças acenando e gesticulando ameaçadoramente.

Assim que chegou em casa, correu para o telefone ligando para a moça.

Vanessa atendeu-o e Donato foi logo perguntando:

- Vanessa, eu atropelei o seu cachorrinho?

- Donato, primeiro não é cachorrinho, é cachorrinha, e chamava-se Dondoca. Segundo ela morreu e junto com ela nosso namoro respondeu-lhe, chorosa, Vanessa.

- Mas, Vanessa, e a valsa hoje à noite?

- Se você quiser dançar, Donato, vá a um cabaré e dance com uma parenta, prima, irmã, quem sabe até com sua mãe!

RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA
Enviado por RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA em 23/01/2008
Reeditado em 23/01/2008
Código do texto: T830229
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