No Coração Da África

No coração da África, o sol queimava e fazia lustro nas costas do negro suado que guiava o grupo de riquinhos americanos que insistiam em conhecer o pedaço mais bonito do continente.

-Têm certeza de que desejam chegar até lá ainda hoje? - Indagou o negro Mahina, apontando para o alto de um morro.

-Oh, já está entardecendo! Creio que se nos abrigarmos por aqui mesmo e seguirmos viagem amanhã ao amanhecer será melhor! - Disse Jack, um loirinho de estatura mediana que acompanhava o grupo.

Depositaram no chão seus sacos-de-dormir e minutos depois já estavam todos dormindo; exceto Mahina, que de cima de uma árvore, observava a escuridão que reinava na noite sem estrelas e sem luar.

No dia seguinte, pouco antes de seguirem para o alto da elevação, um americano perguntou a Mahina:

-O que tanto teme que encontremos quando formos conhecer a floresta?

-Há uma grande árvore bem no centro da floresta, na qual vocês jamais deverão subir, nem que for para localizar um integrante do grupo que esteja perdido.

Como ninguém entendesse a recomendação do negro, partiram para o topo do morro.

Dentro de alguns minutos, já estavam a contemplar a paisagem que se estendia por todos os lados do grande morro em que se encontravam.

-Estupendo! Nunca vi coisa igual! Os raios dourados que derrama o sol refestalam-se por entre as árvores, iluminando as pequenas folhas secas que disseram "adeus!" ao verdume e vitalidade de outrora! - Logo vê-se que quem formulou a frase foi o intelectual do grupo, de nome Mike.

-Vêem aquele conjunto de árvores lá no meio? Pois bem, não se aproximem de lá. - Recomendou Mahina.

-Mas o que pode nos acontecer? - Indagou um rapaz alto, embora curvado e magro, mas que aparentava ter muita coragem.

O negro não respondeu, apenas baixou a cabeça e coçou uma cicatriz que tinha desde os tempos de criança. A cicatriz chamava a atenção dos americanos riquinhos por parecer um dano causado por cinco dentes de diferentes tamanhos. Mahina os explicou que a fizera ao entrar na floresta à procura de seu pequeno leãozinho de estimação, do qual só fora encontrado o corpo no dia em que o ferimento fora feito.

No dia seguinte à escalagem do morro, os rapazes seguiram para a floresta para conhecê-la de perto, mas sem a companhia de Mahina, pois este havia voltado ao povoado às margens do rio.

Jack, o espirituoso loirinho de estatura mediana foi logo para a concentração das grandes árvores à procura da explicação para as recomendações de Mahina. O grupo se despersara e já não mais ouvia os passos dos colegas. Aproximou-se da maior árvore que encontrara ao centro das outras e não viu, não pôde ver nada mais que cinco dentes de tamanhos desproporcionais agarrando-o pelo pescoço; sentiu escorrer-lhe pelos braços, pelas pernas, pelos joelhos o sangue negro que jorrava de seu corpo; sentiu quando os cinco dentes cravaram-se em seu peito, e no ápice da dor abriu os olhos e viu o rosto preocupado e amigo dizendo:

-Não é melhor dormir na cama, mocinho? O sofá é desconfortável e o filme da África já terminou.

-Mas mãe...

-Nem mais, nem menos, querido! Amanhã você tem aula, boa noite!