A PIRATARIA

Quem, quando criança, não imaginou voar como Peter Pan, lutar contra o Capitão Gancho, sendo ele um pirata com perna de pau, de tapa-olho e papagaio empoleirado em seu ombro?

Pois é, esse era o pirata barbudo que as crianças, longe da era da internet, imaginavam existir.

Hoje, no entanto, vemos os piratas contemporâneos, alguns de jeans, outros até de paletó e gravata, enterrando seus tesouros (que na verdade não são seus), disfarçados de agentes: políticos, religiosos, empresários, etc (isto é claro, não generalizando todos dessas classes), na ânsia iminente de esconder, em um baú, se possível fora do país, só retornando depois o tesouro mais lavado e limpo que macacãozinho de recém-nascido.

Bem... Esses são os piratas considerados ricos, os quais não querem nem pensar em aposentadoria, pois, com certeza, deixariam de acumular mais tesouros e também por medo de que se descubra onde realmente estão enterrados os seus baús.

Entretanto, existem aqueles piratas considerados pobres: eles não têm mais o romantismo de outrora entre as crianças, inclusive elas se apavoram só de pensar em ser um deles, depois de adultas. Esses piratas pobres atuais são sacoleiros. Não roubam. Buscam tesouros no Paraguai, na forma de bugigangas, e lutam para apresentá-las ao público, só as escondendo quando chega o “rapa”.

Quase todos nós, um dia, compramos, mesmo sem saber, algum pedacinho desse tesouro dos pobres piratas, chamados produtos de pirataria. Eles vêm na forma de CD´s, brinquedos, roupas, sapatos, eletroeletrônicos, etc.

Já os piratas considerados canalhas, falsificam, na pirataria, até remédios fabricados com farinha. Esses últimos poderiam ser jogados aos tubarões que não fariam falta nenhuma, não é mesmo?

Para se ter uma idéia, os piratas da atualidade obtêm seus tesouros como ferro banhado em ouro. Existem produtos no mercado que enganam bem: você acha que é legítimo, tamanha a perfeição de detalhes na cópia de sua fabricação, mas, ao utilizá-los, se autodestroem, como “homens-bomba”.

Nessa onda de falsificar tudo, fico pensando... na medicina, a “clonagem” não seria uma espécie de pirataria? Isso porque o produto final é uma cópia fiel, feita através de manipulação humana do original, criada por Deus.

E por falar tanto em pirataria, lembrei-me do filho de sete anos de um amigo meu, que lhe pediu, como presente de Natal, um caminhãozinho de brinquedo, do Corpo de Bombeiros. Tratando-se de data expressiva, e por estar sempre “desprevenido”, esse meu amigo resolveu arriscar-se na compra de um brinquedinho bem baratinho, não lhe importando ser produto de pirataria. O que não poderia acontecer, de jeito nenhum, era o seu filho ficar sem presente de Natal.

Então, andando pelas bancas dos “piratas”, entre as calçadas das ruas estreitas, na “feira do rolo”, este meu amigo encontrou um caminhãozinho com escadas magirus, giroflex com sirene, mangueiras enroladas atrás, e... pasmem... tinha até um bote salva-vidas fazendo parte dos apetrechos dos bombeiros.

“Ótimo!” – pensou meu amigo.

E ainda mandou ao pirata:

- Pode embrulhar pra presente! Este caminhão dos bombeiros vai ser para o meu filho!

Retornando à sua casa com o brinquedo, teve o cuidado de escondê-lo como um “tesouro”, pra só entregar ao filho no Natal.

Chegou, enfim, a data festiva. Amanhecendo o dia, o garoto foi até o pé da árvore enfeitada, onde encontrou o presente cuidadosamente deixado pelo Papai Noel.

Meu amigo, então, tomado por todo aquele clima natalino, disse ao menino:

- Abra logo, filho! Vamos ver o que tem aí dentro!!!

E após abrir ansiosamente o presente, o menino fala para o pai, em tom “sem graça”:

- É... o caminhão é até bonito! Mas, poxa... acho que o Papai Noel errou... O CAMINHÃO DOS BOMBEIROS É VERMELHO, E NÃO AZUL!!!