O PROFESSOR DE “PORTUGUEIS”, OP’S, PORTUGUÊS!

Ninguém gosta de levar uma repreensão, uma advertência, enfim, um puxão de orelhas, seja lá onde for. No trabalho, por exemplo, em frente aos colegas, aquele chefe “nazista” colocando você encostado no paredão, só faltando o pelotão de fuzilamento... é demais! Como hoje em dia é mais fácil achar diamante na Avenida Paulista do que emprego, a gente finge que “güenta”, e, se bobear, a gente finge que trabalha...

Ser chamada a atenção pelo irmão mais novo, no meio da “galera”, é quase imperdoável. Depois você dá uns “croques” nele, e tá tudo bem.

Entretanto, não é só aquele que leva o puxão de orelhas que fica passando “carão”. O que repreende sofre tanto quanto! Você pode perguntar-se: “Como assim?” Respondo-lhe, com firmeza: O que repreende é perfeccionista. E todo perfeccionista sofre, pois nada é perfeito.

Hugo, desde criança, já exibia essa “qualidade”: se tivesse um brinquedo seu fora do lugar já era motivo suficiente pra “puxar a orelha” de sua mãe. Não interessa se o dito brinquedo estava fora da estante, jogado ao chão, “foi ali que o coloquei, portanto, ali ele vai ficar”. Pra ele, aquele era o lugar certo para o brinquedo ficar. E não tinha quem o fizesse mudar de idéia, fosse qual fosse o argumento utilizado.

Como aluno, por ser perfeccionista, só tirava notas “A”. Se tirasse um “B+” se penitenciava sobremaneira, estudando para a próxima prova, como um louco varrido. “Isso jamais poderá ocorrer novamente” – pensava, instrospectivamente.

Dessa maneira, Hugo formou-se professor de Português, e, pelo fato de ser professor e ter a facilidade com essa tão complicada e interessante língua, aos menos desprovidos de tais predicados, Hugo costumava interromper diversas conversas dos amigos, “consertando” erros, dos mais ínfimos aos mais grosseiros. “Que cara chato!” – diziam uns. “Falar sem errar? Nunca! Só Deus! Será que ele pensa que é divino?” – diziam outros.

Mas Hugo sempre lhes explicava:

- É que, ao ouvir alguma palavra errada, ou uma construção verbal desconexa, sinto uma dor profunda nos ouvidos. Errar é humano, não querer aprender é burrice!

Pensando bem, Hugo está certo. É muito bom ouvir uma pessoa procurar falar corretamente. No entanto, Hugo, por seguir a perfeição como professor, pegou, sem querer, o Cícero para Cristo. Cícero era seu aluno, e tinha muita dificuldade no aprendizado dessa pomposa língua.

E pega no pé do Cícero...

E vão passando-se os anos...

- Cícero, não é “nóis vai”, é nós vamos.

- Que “seje”.

- Não é que “seje”, Cícero, é que seja!

Um dia, o professor Hugo foi a um restaurante com sua esposa, e, na mesa ao lado, encontravam-se Cícero e sua namorada nova.

- Oi, “fessor” – cumprimentou o abismado aluno, devido à presença inesperada de seu professor ali.

- Cícero, não é “fessor”, é professor – corrigiu-o, na frente de sua namorada nova.

- Eu “tô” brincando com o “sinhô” – disfarçou ele. “Que vergonha! Na escola, tudo bem, mas aqui?!” – pensou Cícero.

“Ai, Deus do céu.” – reclamou baixinho, Hugo, para sua mulher.

Nesse momento, o garçom encostou junto à mesa de Cícero, e lhe perguntou:

- O que vai ser?

- Bom... pra “começá”, quero uma cervejinha pra “mim tomá”. – respondeu-lhe.

E, não se agüentando, o professor Hugo interveio na conversa:

- Cícero, não é pra “mim tomá”, é pra “eu” tomar!!!

Em seguida, entrou no restaurante o filho “delicado” do professor Hugo, e, ao encontrar-se com seu pai, pediu-lhe:

- Papi! Dê-me um dinheirinho para eu sair com as minhas “amiguinhas”, pois estou liso!

E, atendendo ao pedido de seu “sensível” rebento, entregou-lhe uma nota de cem reais.

- Silvinho, tome aqui, mas não vá demorar muito em voltar para casa, OK?

Então, Cícero, vendo e ouvindo aquele breve diálogo, dando também uma de perfeccionista, disse ao seu professor:

- Professor, não é SILVINHO... é SILVINHA!!!