BOI-DE-PIRANHA

Às vezes, a vida na natureza nos parece cruel; o Louva-a-Deus se alimenta devorando uma borboleta desavisada que borboleteia sobre as flores em busca de néctar; a onça mata a paca ou o porco do mato para comer, a aranha caça o grilo e assim por diante. Mas, quando direcionamos o nosso olhar para o comportamento humano é que a palavra crueldade pode ser entendida na sua plenitude, isso sem falar no que fazem os políticos com as massas humanas no exercício dos seus poderes...

O Boi-de-Piranha é uma dessas crueldades inventadas pelo ser humano e é usada para atravessar uma boiada em rio infestado por piranhas. Consiste em abater um dos bois, o mais fraco ou doente, do rebanho de forma que sangre abundantemente para chamar a atenção das piranhas sobre o pobre animal. O boi em questão é levado para dentro da água, um pouco mais abaixo do local onde a boiada deverá passar sendo ali sacrificado e largado rio abaixo. Sobre eles todas as piranhas farão a festa enquanto o restante da boiada atravessa em segurança.

Mas, Boi-de-Piranha pode ser também uma metáfora. Nós temos um Presidente que adora metáforas e, a princípio, achei muita graça quando um amigo se referiu à Ministra Dilma como o Boi-de-Piranha do Lula. Logo imaginei o nosso Presidente, no uso seu tom mais solene, apontando para a sua Ministra e falando:

--Companheiros, aqui está a pessoa escolhida para que o PT chegue aos vinte anos de Poder nesse País!

Confesso que achei engraçado e ri bastante, mas, logo em seguida comecei a pensar mais seriamente no que fazem certos grupos políticos para chegarem ao Poder, cada qual dentro das suas devidas ideologias, e, depois, nas artimanhas que usam para se manterem no Poder. Já ouvi em algum lugar a frase “os fins justificam os meios”.

Eu disse-lhe que não acredito que o episódio que ficou conhecido como Mensalão fosse uma dessas engenhosidades, e tive que escutar o meu amigo usar outras metáforas para me enquadrar – me chamou de Avestruz e Velhinha de Taubaté ( aquela personagem do Luiz Fernando Veríssimo que morreu quando soube do caso Palloci – Palloci é com dois eles? Fiquei traumatizado depois daqueles dois famosos eles de um ex-presidente...) - mas, pero que las hai las hai. Numa noite dessas, sonhei e acordei assustado: havia amanhecido um imenso Cavalo-de-Tróia na Praça dos Três Poderes, mas era grande mesmo, enorme, tão grande que rivalizava com a imponência do conjunto arquitetônico do Congresso Nacional, havia uma estrela na testa do bicho, e Brasília dançou, bebeu e comeu durante três dias e três noites ao redor da besta de madeira porque pensavam que aquilo era um presente dos Deuses até adormecerem todos, então, na calada da terceira noite, saíram da barriga do cavalo hordas de pessoas com aspecto medieval, armados de paus, lanças de taquara, pedras e foices, lideradas por um bárbaro de aspecto Wiking que invadiam, saqueavam e queimavam tudo, mas, o que mais me assustou foi ver gente conhecida saindo logo depois; muitos deputados, senadores e até ministros; os antigos mensaleiros saíram todos do ventre da besta, e também antigos ministros e dirigentes de partidos políticos saiam furtivamente da barriga do cavalo e se infiltravam nos prédios públicos – loucura, acordei!

No caso de uma ideologia, há também os sacrifícios pessoais, principalmente aqueles que não têm o perfil para ocuparem o Cargo de Presidente, mas, sabem mandar no Cargo; são os heróis do Sistema, os imolados às piranhas, que, no caso, podem ser representadas apenas por um “balão de ensaio” usado para se verificar reações dos outros grupos políticos ou da opinião pública, então, a Companheira vai de bom grado ao matadouro político enquanto ou outro é preservado e passa ileso.

Jura o meu amigo que esse outro é o Ciro Gomes... Eu estou pouco interessado nesse assunto agora – de que adianta se os candidatos virão dos Partidos Políticos e nós sabemos que não há muita boa coisa por lá desde os “tempos imemoriais”, escrevi isso porque me passou pela cabeça uma situação cômica: imaginem uma gafe, sabem como é, até entre eles se auto-nomeiam metaforicamente falando como se suas vozes fossem de animais, por exemplo, cacarejos, zurros e berros – ainda que possa resultar disso um ato de desrespeito; boi normalmente entende-se como um bovino do sexo masculino, no caso o boi-de-piranha; vocês já pensaram se o Companheiro Mor comete uma gafe no afã de justificar o sacrifício da Companheira?

Não quero nem pensar, isso é assunto para o Casseta e Planeta criar uma personagem para acompanhar aquele outro distinto personagem do programa que parodia o Presidente Lula.

Chico Steffanello
Enviado por Chico Steffanello em 22/04/2008
Código do texto: T957792
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