O ENTERRO DO SAPO - Cap. IX
_ Pode deixar, Zico! Eu pego a caixa onde eu guardo meus besouros chifrudos, é tudo igual.
Liviva seguiu dando ordens.
_ Vamos ter que arranjar velas, flores e também fazer uma cruz.
_ Por quê uma cruz? – quis saber Menina.
_ Porquê toda sepultura tem que ter uma cruz.
Respostas assim, jamais convenciam a pequena que queria saber a razão de tudo.
_ Pra que serve a cruz? - insistiu.
_ Se não tiver cruz a pessoa não vai pro céu.
_ Mas sapo não é “pessoa” e também não vai pro céu.
Menina estava disposta a contestar. Zico, ouvindo a conversa delas, encerrou a questão de forma simples.
_ Sapo vai pro céu sim! Teve até uma festa lá e ele foi. A vovó contou essa estória pra gente.
Encantada com a espontaneidade inocente do irmão, Menina deixou-se convencer. Só restava entrar na brincadeira de Liviva. Com certeza seria uma manhã divertida.
Decidida, entrou correndo na casa, foi até o quarto e pegou a caixa onde estavam os besouros. Após esvaziá-la, colocou os besouros no vidro onde havia aprisionado alguns vaga-lumes.
Em seguida, procurou uma vela no quarto da mãe. Não encontrou nenhuma, mas viu uma lamparina sobre a cômoda e estendeu a mão para apanhá-la. Mas logo desistiu, pois as lamparinas eram úteis. Se não fossem as lamparinas, ninguém poderia sentir-se seguro à noite. Seria melhor procurar no quarto da avó.
Mas lá no quarto da avó, encontrou a irmã Latide, a soturna. Como quem não queria nada, procurou aproximar-se do altar dos santos da avó. Quando estendeu a mão pra pegar a vela, a garota alertou-a:
_“Se você pegar qualquer coisa daí eu chamo a vovó!"
Menina desistiu da idéia, mas, ao sair do quarto, mostrou a língua pra irmã. Então foi até à cozinha e pediu uma vela para Maria.
_ "Pur causo di que ocê percisa di uma vela, Minina?"
_ Deixa de perguntas. Eu preciso de uma vela e pronto!
_ "Num dô não. Só si ocê dizê pra que qui é."
Continua...