O cãozinho TURISTA

O cachorrinho Turista

João e seus avós estavam de férias a beira. Mar. A casa alugada tinha um quintal enorme. Todos os dias, na hora do almoço, um cãozinho bem magrinho, vinha rondar a cozinha e abanava o rabinho feliz, quando ganhava alguma comida. Depois de alguns dias, aparecia também na hora do jantar.

João estava acostumado ao amiguinho. O cãozinho acompanhava a família para todos os lugares. Ia até a praia, a praça, ao supermercado. A avó Maria via chegar o final da temporada. Comentou com o marido, precisavam arrumar as malas. Conversou com João e informou que no próximo sábado voltariam para casa.

Malas arrumadas, carro organizado, a família estava de partida. João já estava no banco traseiro, o carro já estava com o motor ligado e Maria já estava entrando no carro, quando sentiu aquele focinho gelado e uma língua lambendo suas pernas. Não chegou a fechar a porta. Entrou no carro e sentou-se, o cãozinho se jogou em seu colo, antes que ela fechasse a porta.

Ela perguntou ao marido: - E agora o que eu faço? Ele sorriu e respondeu: - Feche a porta, vamos seguir. Passarei na padaria do Napoleão e vamos arranhar uma caixinha de papelão para acomodá-lo melhor. João ficou tão feliz com o inesperado, e logo perguntou: - Vovós, vovô vão levar mesmo? A avó respondeu: - Vamos levá-lo para o Rio de Janeiro.

Dois dias depois quando chegaram finalmente em casa, e já tinham arrumado algumas coisas da viagem, João perguntava ao avô: - E o nome, qual vai ser? O avô respondeu: - Acho que o melhor só pode ser: Turista. Gritou duas vezes bem alto: Turista, Turista. O cãozinho veio correndo para junto deles.

Menino e cãozinho cresceram juntos. Turista tornou-se um belo cachorro todo malhado, muito forte e enorme. Morando com os avós de João em uma casa no subúrbio, aprendeu a caçar ratos, brigar com os gatos da vizinhança, e também a jogar bola com João. Alguns anos depois Turista teve uma virose que o deixou muito caidinho, o doutor veterinário que o tratava, não tinha mais esperanças de curá-lo. Uma tarde Maria chamou várias vezes na porta da cozinha: - Turista! T U R I S T A!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!. Ele não apareceu. Pedro, o vovô, João, os amigos, colegas, vizinhos, cansaram de procurar e o cachorro não conseguiram encontrar.

Mais de ano e meio se passou, João agora estava na sétima série e estudava em uma escola bem distante da casa dos avós; Seus pais tinham se mudado para outro bairro e o menino agora um adolescente tentava se habituar ao novo horário da escola. Custava a se levantar pela manhã. Chegava sempre atrasado e na hora do almoço voltava correndo, pois a fome vinha apertando. Durante algumas vezes na volta da escola não percebeu que vinha sendo seguido.

Aconteceu em uma esquina antes de chegar na rua onde morava. Dois moleques o atacaram. Um apontou um canivete enquanto o outro segurava João e tentava arranchar-lhe o tênis do pé. Surpreso João viu uma fera imunda avançar em cima do pivete que empunhava o canivete. Com a surpresa o outro saiu correndo. O cachorro jogou o pivete ao chão e lhe cobria de mordidas. Logo apareceram algumas pessoas que ajudaram João com a mochila, e tentaram tirar o cachorro de cima do pivete. O cachorro só largou quando o garoto estava fora de combate, sangrando muito nas pernas, nos braços, no rosto. João voltou para casa acompanhado do cachorro. Turista estava imundo parecia que tinha saído do inferno. Sujo e com o focinho coberto de sangue.

João contou a história para os pais, os amigos na escola, e tantas outras pessoas. Ninguém acreditou em sua aventura. Somente os avós não comentaram o fato, talvez para não magoar o garoto. Contavam que Turista estava morto. João passou a ser acompanhado na ida e na volta a escola pelo cachorro, que sempre o deixava na esquina da rua onde ele morava e desaparecia pelo resto do dia.

Algum tempo se passou, um dia b em cedo quando João saía para a escola, achou em sua porta Turista dormindo com os olhos fechados Chamou a mãe, ela veio e triste viu que seu filho falava a verdade. Turista havia voltado. João abaixado ao lado do cachorro não conseguia compreender porque ele ainda dormia profundamente em seu sono, visitava sua infância distante brincando nas dunas de areia da praia. João não pode conter os soluços que começaram a sair, e as lágrimas a rolar. Falou baixinho para o companheiro:- Vai com Deus meu amiguinho, Turista.

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 07/08/2008
Código do texto: T1117749
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