Serafina aprendiz de feiticeira

Olha, olha, olha... - sovaco de cobra

Ria, ria, ria... - unha de jia

Coma, coma, coma... - sopa de bafo de onça

Espelho meu, espelho quebrado

Dentro deste caldeirão

Viverás para sempre aprisionado...

Para nunca mais responderes enigmas

Que não podem ser revelados.

Espelho, espelho caolho

Será que pelo seu olho

Não vias que estavas enganado?

Eu é que sou a mais bela

Eu, a Serafina feiticeira esperta

Para sempre do seu lado.

Olha, olha, olha... - sovaco de cobra

Ria, ria, ria... - unha de jia

Coma, coma, coma... - sopa de bafo de onça

Caldeirinha minha, caldeirão de aço

Dentro de ti, liquido fervendo

Não sobrará nenhum sapato

Nem meu, nem seu, nem dela

Nem daquela pobre Cinderela

Com os pés cheinhos de calos.

Caldeirinha minha, caldeirão de aço

Depois deste meu feitiço

Estralo os dedos no espaço

Digo, repito e grito para dentro

Que não sobre nenhum cadarço.

Olha, olha, olha... - sovaco de cobra

Ria, ria, ria... - unha de jia

Coma, coma, coma... - sopa de bafo de onça

Tempo quente, tempo nublado

Tempo de quem dorme sossegado

Nem a mais bela das belas

Que teve o sono despertado

Por um principezinho de araque

Que nem soube capinar o mato.

Tempo, tempo de fervura

Não posso agir com doçura

Com quem dorme por moleza

Alegando fadiga e cansaço.

Olha, olha, olha... - sovaco de cobra

Ria, ria, ria... - unha de jia

Coma, coma, coma... - sopa de bafo de onça

Cestas, doces e salgados

Lobo mal, vovozinha, soldados

Neste meu feitiço quero

Que o chapéu da Chapeuzinho Vermelho

Fique todo desbotado.

Dente de aranha, lendia de mosca

Menina que não escuta, não escuta

Vai parar na fervura ou na barriga da loba.

Olha, olha, olha... - sovaco de cobra

Ria, ria, ria... - unha de jia

Coma, coma, coma... - sopa de bafo de onça

No caldeirão do meu feitiço

Quero fios de cabelo

Daquela horrenda Rapunzel

Para transformar em novelo

Quero todos os fios caídos

Do seu imenso cabelo

Para que ela nunca saia

De onde a coloquei agora

Com muito e prazeroso zelo.

Olha, olha, olha... Sovaco de cobra

Ria, ria, ria... Unha de jia

Coma, coma, coma... Sopa de bafo de onça

- Deixa, deixa, deixa... - Entrar em minha caldeira

Êpa, quem disse isso? Quem disse?

Ficará prisioneiro até que mereça

Ver novamente a luz do sol

Ou que o dia anoiteça.