Rocinha

Lá o grilo cricrilava

toda noite no paiol

Na rocinha de alfavaca

as bundinhas de farol

iam todas se acendendo

uma a uma iam piscando

A casinha ou o casebre

foi feito num barranco

onde o céu no teto dava

e cobria feito manto

Era pobre, não tinha nada

só café, farinha e água

A lagoa de peixinhos

nem sempre tinha peixe

mas sapo sempre havia

que vivia gorjeando

uma canção bonitinha

à fêmea ia chamando

Lá o burrinho rinchava

todo dia no matinho

Na rocinha de batata

as bundinhas de feijão

iam todas se batendo

uma a uma caminhando

A casinha tinha luz

luz fraca de um lampião

tinha o fogo do fogão

que apagava com o vento

Da janela sem cortina

via a rede no relento

A lagoa sem peixinhos

secava todo verão

via seca, via o chão

só a água não via não

não chovia uma gota

para alegrar o sertão

Lá a vida era boa

era pobre, tinha fome

não sabia ler, proseava

não faltava letra, só o pão

Tinha um pouco de paçoca

e Maria no coração

Da casinha ou casebre

todo céu eu contemplava

e na rede que dormia

eu sentia a minha amada

Sob aquele universo, vi

nós dois n’era nada