Milagre de natal

Na madrugada do dia vinte e cinco de Dezembro de 2007 o jovem Michel, menino de apenas doze anos, se levantou durante a noite e caminhou pela casa até chegar à sala onde sabia que seu pai colocaria os presentes junto da árvore adornada com bolas reluzentes de cores variadas e luzes que piscavam como vaga-lumes; sobre a qual havia também no ponto mais alto, uma estrela emanando uma luz dourada.

Chegando na sala o jovem notou a presença de uma pessoa parada junto à árvore de natal, porém, não era seu pai, os presentes já estavam todos arrumados exatamente como ficavam todos os anos, um ao lado do outro.

Quando percebeu que havia mais alguém na sala, o estranho se virou vagarosamente; trajava roupas volumosas e em um tom de vermelho tão vivido que parecia reluzir ao ser iluminado pela luz da estrela. Era um homem velho, sem dúvida, pele clara e longos cabelos e barba branca, alvas como neve; embora o menino nunca tivesse visto neve alguma na vida e desejasse muitíssimo algum dia poder vê-la.

_ Quem é você?_Perguntou o jovenzinho.

Além das roupas em vermelho e o clássico chapéu também da mesma tonalidade, o velho homem também trazia consigo uma grande sacola; usava botinas pesadas e luvas negras. O velho sorriu afetuosamente.

Michel percebendo de quem se tratava, mesmo sem crer e achando que aquilo poderia ser alguma armação de sua família, resolveu fazer algo que gostava desde que se entendia por gente. Caminhou devagar, com os pés no chão frio da casa enquanto o velho o observava com os olhos vividos e tão azuis quanto se fossem feitos de vidro.

O menino foi até a árvore e já sabendo qual era seu presente que o pai tinha deixado na noite anterior antes de dormir, tomou e ofereceu ao homem de vermelho.

Condoendo-se por dentro o velho ao ver aquele menino franzino vestido num pijama listrado e com as mãos erguidas lhe ofertando voluntariamente o presente que esperara tanto tempo para ter; pensou:

“Talvez ainda haja esperança para o mundo, crianças puras como essa ainda podem conhecer o Salvador e recuperar a inocência que se perdeu”.

Porém ele não disse palavra alguma logo de início.

Michel ainda com os braços para o ar segurando o presente que estava dando, esperava que o outro aceitasse.

_ Você é realmente ele?_ perguntou novamente o jovenzinho curioso e entusiasmado.

O velho se limitou a balançar a cabeça positivamente, mas não sorria mais, sua mente estava povoada por lembranças antigas e pela vivacidade do juramento que fizera a muito, muito tempo atrás.

_ Então é verdade!? Você existe mesmo!?_ O pequeno coração de Michel não cabia dentro do peito de tanto entusiasmo.

Finalmente o velho fez um movimento e segurou o presente; a face do menino se iluminou de tal forma, com um sorriso longo e bonito, que emocionou também ao outro. Seus olhos ficaram marejados.

_Obrigado._ A voz do homem de vermelho era potente e grave quando ele agradeceu.

_ Como você faz para entregar os presentes durante a noite?_ cochichou Michel.

_É segredo._Cochichou de volta.

A curiosidade do garoto crescia a cada instante e ele continuava a perguntar:

_O que faz aqui?

_ Toda noite de natal eu escolho uma casa e vou até ela, hoje foi a sua casa.

_ Tem quanto tempo que você faz isso?

_ Muito tempo, mas não importa para mim. Sou imortal.

O som da palavra imortal bateu nos ouvidos do menino com uma sonoridade diferente, atiçando-o ainda mais.

_ Por que imortal?

O velho respirou fundo antes de responder; como se estivesse remetendo sua memória a uma longa jornada no tempo.

Finalmente iniciou:

_ Há muitos anos eu estive numa terra distante daqui; lá juntamente com outros, vi uma estrela tão bela e grande nos céus que era capaz até de ofuscar o brilho da lua. A estrela se movia pelo céu e me levou a uma casa onde encontrei um menino; este menino é até hoje o motivo pelo qual todos comemoram o natal e tanto eu quanto meus companheiros, inebriados pelo fato de vê-lo fizemos isso que você acabou de me fazer. Demos presentes para o recém nascido; ouro, incenso e mirra. Não sei porquê, mas desde aquele ano eu ainda vivo, vendo ano após ano as festividades que começaram conosco naquela noite abençoada em que meus olhos viram o Rei dos Reis.

Michel estava boquiaberto, não sabia o que dizer, nem mesmo o que perguntar. O velho continuou:

_Prometi a mim mesmo que presentearia uma criança todos os anos em que se completasse o aniversário de nascimento do menino Deus e desde então faço isso, Mas como você me presenteou aqui então farei algo diferente com você. Vou lhe conceder um milagre.

_Você acredita em milagres Michel?_perguntou.

A imediata resposta foi um sonoro sim. O homem de vermelho colocou o presente que recebeu do menino em sua sacola e a deixou de lado momentaneamente, depois voltou a perguntar:

_Você já viu neve?

Ao que o garoto respondeu:

_ Não neva nesse país.

Automaticamente o ar esfriou, mas não incomodava o pequeno jovem; em seguida pequenos flocos branquinhos começaram a descer do teto e em pouquíssimo espaço de tempo não só a sala onde estavam, assim como tudo o que nela havia, incluindo o menino e o velho, estava com neve sobre si.

Michel ficou tão feliz que não conseguiu se conter; pulou alegremente e com os braços abertos, os olhos fechados sentindo o tênue e gelado toque das pequenas gotas de gelo; ele sentia-se dentro de um daqueles globos de natal, cheios de neve branca e flutuante.

Ouviu-se um barulho vindo dos outros cômodos, provavelmente os familiares do menino tivessem ouvido o barulho causado por ele, e, quando Michel abriu novamente os olhos, estava sozinho na sala coberta de neve. Junto da árvore, agora salpicada por uma fina e branca camada, havia um outro presente que antes não estava lá, uma caixa grande e embalada cuidadosamente com papel enfeitado e adornada com um grande laço de seda.

Ele havia ido embora.

Luiz Cézar da Silva
Enviado por Luiz Cézar da Silva em 14/12/2008
Código do texto: T1334397
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.