Trava-Língua

Quando criança aos domingos eu sempre viajava para a casa de meus avôs que moravam em uma chácara no interior. Para chegar a casa tínhamos que atravessar uma rua de paralelepípedos toda paralélepipeidada. Atrás da casa havia um montanha linda, lá havia cinco bicas, cinco pipas, cinco bombas e meu avô sempre dizia, tira a boca da bica, bota a boca na bomba. Bote a bota no bote e tire o pote do bote.

Nas árvores sempre repletas de frutas existiam também inúmeros pássaros como os sabiás que sabiam que a mãe do sabiá sabia que sabiá sabia assobiar.

Muitos animais como o porco crespo amarrado no toco preto que comia no tacho sujo o chuchu chocho.

Muitas galinhas com seus pintinhos que ficavam perto da torneira que pingava e sempre de olho neles o gato. Atrás da pia tem um prato, um pinto e um gato. Pinga a pia, apara o prato, pia o pinto mia o gato.

Existem outros bichos esquisitos como a tatu-peba com seus sete tatu-pebinhas. Quem destatupebá ela, bom destatupebador será.

Tem também um ninho de carrapatos, cheio de carrapatinhos, qual o bom carrapateador, que os descarrapateará.

Tem também um ninho de mafagafos, com sete mafagafinhos, quem os desmafagafizer será um bom desmafagafizador.

Meus primos também vão lá de vez em quando. Tem o Juca, o Cajá, o Juju e o Cacá. Uma vez minha avó deu frutas para todo mundo, o caju do Juca e a jaca do Cajá. O jacá do Juju e o caju do Cacá. Mas o Cacá não queria caju. O que é que Cacá quer? Cacá quer caqui. Qual caqui que Cacá quer? Cacá quer qualquer caqui.

Minha Avó também gosta de fazer doce e sempre nos dizia que uma vez o doce perguntou ao doce qual é o doce mais doce e o doce respondeu ao doce, que o doce mais doce é o doce de batata-doce.

Tem também o seu Pedro vizinho do vovô que arruma coisas. Uma vez seu Pedro pregou um prego na porta preta do galpão. De tanto ficar no sol seu Pedro tem o peito preto. Preto é o peito de Pedro. Quem disser que o peito de Pedro não é preto, tem o peito mais preto que o peito de Pedro.

Seu Pedro é irmão de seu Paulo Pereira Pinto Peixoto, pobre pintor português, pinta perfeitamente portas, paredes e pias, por parco preço padrão.

Lá também tem sapos. Uma vez meu primo colocou um sapo dentro do saco. O saco com o sapo dentro. O sapo batendo o papo. E o papo soltando o vento.

E tem também a Maria empregada da vovó. Eu sempre brincava quando ela aparecia Maria-Mole é molenga, se não é molenga, não é Maria-Mole. É coisa malemolente, nem mala, nem mola, nem Maria, nem mole. Um vez a tigelinha de água fria, que caiu da prateleira, foi nos olhos de Maria que chorou segunda –feira. Maria é de Jaguaminbaba, mas seu marido nasceu em jaguanambi. Ela é excelente cozinheira e sempre diz que farofa feita com muita farinha fofa, faz uma fofoca feia. Ajuda também na limpeza, afinal casa suja, chão sujo, mas eu não gosto do cheiro da cera. Quando chego logo digo, chega de cheiro de cera suja.

Eu lembrei tudo isso por que hoje é domingo, pé de cachimbo, o cachimbo é de ouro, bate no touro, o touro é valente, bate na gente, a gente é fraco, cai no buraco, o buraco é fundo acabou-se o mundo.

Mark Brunkow
Enviado por Mark Brunkow em 18/01/2009
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