Calanguinha

        Lanlan é uma iguana muito travessa e falante.Não é sem razão que recebeu o apelido de " Lanlan, a calanguinha".
        Certa manhã, ela estava muito aflita, correndo pelo jardim da casa de Alicinha, sua amiga. Corria, às vezes de súbito, parava, olhava atentamente de um lado para o outro. Parecia muito aflita mesmo.
        Quando viu Alicinha chegar ao jardim para começar a brincar com seus amiguinhos da natureza, como o jovem grilo Pipo, as florezinhas, as formiguinhas e outros, a agitada iguana gritou, com sua voz fininha:
        - Lili! Liliiiiii!
        - Que aconteceu? Perguntou Alicinha. Por que está gritando tão cedo assim?
        - Você ainda não viu? Não sabe de nada? Tá por fora!
        - Não faça mistério, Dona Calanguinha agitada! - brincou Lili.
        - Não sou calango! Sou uma iguana, com muito orgulho!
        - E se fosse calanguinha de verdade também seria muito orgulhosa.
        - Pôxa, Lili! Só quero ajudar!
        - Pode ficar manhosa, mas, por favor, conte-me o que está acontecendo.
        - Então, vou contar... Também, tá o maior cochicho: da rosa com a petúnia, da lagartixa com a joaninha...
        - Vamos, Lanlan. Afinal, que está acontecendo aqui? Cochicham sobre que assunto ou sobre quem?
        Lanlan foi direto ao assunto, desta vez: Que a margaridinha rosa, aquela que já é mocinha, sabe qual é?
        - Sei, é a Belinha. Que há com ela? - perguntou Alicinha muito preocupada.
        - Está com uma doença forte!
        - Grave, você quer dizer? Vou logo chamar Bené, o jardineiro.
        - Não, nem pense, disse Lanlan, dona da verdade. A enfermidade dela não é física. Ela está esplendorosa! Suas pétalas são mais macias que o veludo, sua cor tem inigualáveis nuances! Dizem que o que ela tem é psicolístico.
        - É psico... o quê, Lanlan? Perguntou Alicinha chorando de rir, mas disfarçando para Lanlan não se zangar.
        - Você não entendeu. Lanlan assumiu um ar professoral e disse:
        - Ela está depressionada. Chora muito, o dia inteiro!
        - Ela está com depressão? Perguntou Alicinha.
        - Bingo! Até que enfim.
        - Então, Lanlan, ela está deprimida.
        - Isso é só um detalhe. Que vamos fazer?
        - Ora, vamos conversar com ela agora, para ver se descobrimos o motivo de tanta tristeza.
        Quando se aproximaram do canteiro, Belinha abraçou as duas e, deixando uma lágrima perfumada cair, falou:
        - Lili, ninguém gosta de mim! O gatinho Skiny é tão preguiçoso, que só me olha com meio olhar e cai no sono de novo.Mindy, a cachorra pretinha com patinhas marrons, vive querendo arrancar minhas pétalas para enfeitar suas longas orelhinhas. As cianças, tão alegres, não podem chegar perto de mim porque o Doutor Bené não deixa. É que sou muito frágil e eles podem me machucar até sem querer. Outro dia, sua irmã mais velha, que já está apaixonada, queria fazer de mim instrumento daquele jogo: mal-me-quer, bem-me-quer, enfim... Outra lágrima de maravilhosa essência brotou em seu rostinho e um raio de sol a refletiu. 
        Atraído pelo perfume inebriante e pela luminosidade especial, aproximou-se um elegante e belíssimo beija-flor. Voou por entre todas as flores de todas as cores, mas só se interessou pela margaridinha. Fazia lindas acrobacias a sua volta, depois, foi se aproximando, até que sussurrou-lhe algumas doces palavras. Belinha mudou de semblante, mostrava um sorriso meio tímido, mas muito meigo. Até que o beija-flor ficou a voar parado, extasiado. Entreolharam-se longa e languidamente, até que o pássaro beijou a flor , delicadamente... carinhosamente. Belinha ficou toda dengosa, amada, feliz.
        Lili e lanlan foram saindo devagarzinho.
        Alicinha disse, baixinho:
        - Aprendeu, Lanlan? O amor cura todos os males. Para que sejamos felizes, é necessário amar.
        Inesperadamente, Lanlan respondeu:
        - E ser amada! ... Já terminou de falar a frase aos prantos.
        - Que foi, perguntou Alicinha?
        - Estou emocionada, disse Lanlan. E vou tratar de arranjar um calanguinho bem lindinho... só pra mim. Afinal, também sou criaturinha de Deus!
          
Flávia Melo
Enviado por Flávia Melo em 30/01/2009
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