"O PEQUENO PRÍNCIPE SERTANEJO" Peça teatral infantil de Flávio Cavalcante

O Pequeno

príncipe

Sertanejo

Peça teatral infantil

de

Flávio Cavalcante.

O PEQUENO PRÍNCIPE SERTANEJO

TEXTO

DE

Flávio Cavalcante.

Sinopse

Depois de vários textos infantis já escritos, vi nesse uma espécie de desafio, por ser um regional e não costumeiro ver regionais para criança. Esse texto se trata de um conto infantil, pela própria ingenuidade dos personagens, mas com uma mensagem muito interessante! Analisando de uma forma psicologicamente profunda, se trata de uma riqueza de pensamentos de forma ingênua e com uma linguagem também, aparentemente ingênua. É de fato, uma boa lição de vida para os adultos, que muitas vezes até os mais intelectuais gostariam de mergulhar profundamente nesse mundo de uma ilusão tão real. O nordeste tem muita riqueza que pode ser explorada. Muitos autores nordestinos desenvolveram grandes trabalhos, com contos, ditados populares, lendas... Muitas vezes dramáticos e na maioria das vezes hilários, sendo na maioria dos casos, fatos reais. A estória do pequeno príncipe sertanejo é passada em alguma cidade do interior do nordeste brasileiro, onde existia um garoto por nome Jeca, que tinha um sonho de ser príncipe e viver num castelo, onde toda ilusão fosse passada para a realidade, levando seus pais a entrarem no mundo magico que ele vive. O pequeno príncipe sertanejo é uma comédia infantil que vai agradar a criançada por causa da agilidade que tem esse moleque travesso, para salvar a flor do que o mesmo acha que esta presa pelo sapo do brejo, que vai transformar a flor numa bruxa malvada e se isso acontecer o sertão nunca mais vai sair da miséria que está! Adquirindo o mapa magico, o pequeno príncipe sertanejo consegue chegar ao sapo do brejo, aprontando muitas confusões.

ROLL DOS PERSONÁGENS

HOMEM 1

HOMEM 2

JECA

SERAFINA

JUMENTO FREDY

GALINHA

MANDACARÚ

CASCAVEL

TATU BEBERRÃO

CACHORRO (CHOCAIO).

FLOR

SAPO DO BREJO

Cena escura, a sonoplastia libera através de instrumentos rústicos sons de grilos, cigarras e som de alguma ave sertaneja. Repentinamente, entra a mãe do Jeca, trajando roupa bem no estilo nordestino, varrendo o quintal da casa e chamando as galinhas. Nesse momento, a sonoplastia libera um som de muitas galinhas no terreiro. Em algum lugar do cenário surge dois homens meio embreados. O Cenário é único, os personagens correm de um lado para outro do palco, sem alterar o cenário.

SERAFINA

(Chamando as galinhas). Ti, ti, ti, ti... Onde tá essas galinha? (Transição. Grita chamando o Jeca). Jeca, cadê as galinha, fio? (Transição). Onde diacho tá esse menino? Ara! (Transição).Ti, ti, ti, ti, ti... Quando eu pegar o Jeca, eu vou dar uma chinelada... (Transição). E onde tá essas bicha sem vergonha que num vem cumer o mío?! Ti, ti, ti, ti... Galinha medonha, que num vem cumer... Ti, ti, ti... Ara! Ti, ti, ti... (O papagaio chama Serafina). Cala a boca louro, que eu arranco tuas pena sem pena! (Transição com as galinhas). Tá bom, galinha... xô... Ara! Quem come tudo caga tudo... (Transição). Engraçado! Eu num vi a minha galinha predês... Eu acho que o jeca deve tá brincando cum ela... (Transição chama o Jeca). Jeca! Venha aqui, menino. (Serafina fica paralisada. Sobre ela, fica só um ponto de luz. Outro ponto de luz em dois homens meio embriagado em outro lugar do cenário).

HOMEM 1

Os probrema de minha casa ninguém tem nada haver, mas eu vou dizer assim mermo, pra quem quiser orvir! E se ninguém quiser orvir, vai orvir assim mermo, ou antonse fecha os orvido, que eu vou falar assim mermo...

HOMEM 2

Desabafa cumpade! (Faz um cigarro de palha). E, precisa desabafa mermo!

HOMEM 3

Eu também tou aqui, pra orvir o teu desabafo...

HOMEM 1

O sinhô pode inté dizer que eu tou bebo, mas o Jeca meu fio que eu crio, é fio da minha muié cum outro home, que eu nunca cunheci... E num é que esse menino anda estranho urtimamente, cumpade!? E eu num seio cuma é que vou fazer pra acertar os miolo dele de novo!

HOMEM 2

Vai, cumpade... Desabafa! (Lambe a palha do cigarro para fecha-lo).

HOMEM 1

Eu seio que o senhor num tem nada cum isso, mas é pra isso mermo que existe amigo, num é? (O homem 2 balança a cabeça afirmando com desdém). Ele tá cum uma cunversa , que eu mermo num intendi ainda ! Oia só, cumpade! Cum toda cacetada que eu levei da vida, ainda num consegui intender esse menino!

HOMEM 3

Mas muleque é assim mermo, cumpade! Fique à vontade no seu desabafo!

HOMEM 2

Ele tá tan tan? Desabafa, cumpade!

HOMEM 1

O Jeca de repente apareceu aqui em casa, com os oio bem arregalado e diche cum todas as letra que tou lhe dizeno!

HOMEM 2

Tu num falou nada inté agora...

HOMEM 1

(Repreende). Home deixe eu continuar o meu desabafo, se não eu vou acabar esqueceno!

HOMEM 3

Deixa o cumpade desabafar, home!

HOMEM 2

Antonse continua! Desabafa, cumpade!

HOMEM 1

Misera! Esse menino é uma traia! Farta de uma boa surra! Ah, se eu fosse pai dele mermo! (A cena escurece e clareia em resistência no ponto de luz da Serafina).

SERAFINA

Ti, ti, ti... (Transição). Zé, oh, Zé! Onde diacho também tá esse home, meu Deuso... Eu já num tou gostano disso... Em vez dele tá trabalhando, cum certeza tá bebendo pro aí... (Clareia em resistência nos três homens).

HOMEM 1

E assim é minha vida, cumpade! Meu fio quereno ser príncipe... (Rir). Minha muié quereno mandar neu... É um inferno a minha vida!

HOMEM 2

Bota inferno nisso... Pode ficar à vontade! Desabafa cumpade!

SERAFINA

(Transição). Ah, ocê tá aí, cunversano o que num deve! Eu tou procurano o Jeca já faz é tempo! (Transição). Ah, que saber de uma coisa!? Eu num vou mais gritar não... pro que se não, eu vou ferir os meus grugumío... Eu só vou gritar mais uma vez e se aquele moleque num aparecer pra essas banda, eu já vou tá cum o meu chinelo aqui, nas minha mão... (Transição com a platéia). Ocês me ajuda a chamar o Jeca? Eu conto de um até três e todo mundo grita chamando o Jeca, tá certo? Um, dois, três e... (Gritando). Jeca... (Entra o Jeca correndo).

JECA

O que é, mãe Serafina?! Tá me chamano? Eu tava brincano...

SERAFINA

Oh menino, onde diacho tu botou a minha galinha predez do meu terreiro?! Já tá na hora dela comer o mío...

JECA

Tá lá no meu castelo...

SERAFINA

Castelo?!

HOMEM 1

O que foi que eu diche cumpade?!

HOMEM 2

Escurte, as dispois o sinhor desabafa, cumpade!

JECA

É, mãe Serafina, é o meu palácio... Eu agora sou um príncipe...

SERAFINA

Príncipe?! ... Mas príncipe de que, Jeca?! Tu num tem nem onde cair morto, fio, quanto mais ser príncipe... Oi... Vá dar de contas da galinha que ela tem cumer mío se não ela vai ficar fraca, maga, amalera, feia, bochuda e cum as perna tremeno...

JECA

Feia assim cuma a senhora?

SERAFINA

(Com raiva). Cuma eu, o que, seu safadinho!? Espere aí, que quano eu te pegar, ocê vai ver quem é feia... ? ! Vá buscar um gaio de goiabeira, pra eu te dar uma surra, pra ocê nunca mais se meter a besta de me chamar de feia, ocê me respeite, que eu sou sua mãe, num sou sua pareceira não, Jeca...

JECA

E eu sou um príncipe que num se ceva diante de uma... (Transição). Sabe que a senhora me deu uma idéia do cranco agora?! ...

SERAFINA

Ara! Que diacho de idéia é essa, menino?! ...

JECA

A senhora podia brincar cum a gente... E papai podia chamar o amigo dele também... Lá no meu castelo tem tudo e dá pra todo mundo... Lá ninguém tem probrema, tudo é uma brincadeira mermo... Eu bem que tou precisando da senhora mermo... Nóis precisa encontrar a frô que foi amardiçoada pelo Sapo do brejo... É... É por isso que aqui no sertão tudo morre, mãe... Se a gente encontrar o Sapo do brejo, nóis toma a vara mágica dele e aí, sarva a frô e o sertão vai ter comida e água de montão... (Transição). A senhora num vai bater neu, num é mainha?!

SERAFINA

Pensano mió, não! Antonse quer dizer, que ocê é um príncipe!? (Dá uma gargalhada).

JECA

Acredite se quiser... Vá lá no celeiro, que lá é meu Castelo... Agora eu já vou, que eu preciso dar orde nos guarda... Mais tarde eu venho cumer...

SERAFINA

E a galinha predez, Jeca?

JECA

Tá procurano a frô... Cuidado cum a mardição do sapo! (O Jeca sai correndo).

SERAFINA

Esse menino! Ara! (Transição). Mardição do sapo! Oçê orviu, Zé  Oçê devia dar mais atenção ao seu fio! Pro que tu num vai brincar cum ele?

HOMEM 1

E tu acha que eu tenho idade pra tá viveno fantasia de criança, Serafina?!

HOMEM 2

É, o cumpade tava disabafano aqui cum eu!

SERAFINA

E se ele tiver falano a verdade?! Se rearmente existir esse sapo do brejo!? Vai ver que é a mardição dele, fazeno tu tomar cachaça sem parar... O Jeca deve tá falano a verdade... Vamo dar uma oiada no celeiro, pra ver isso de perto! (Nesse momento a sonoplastia libera um som de tambor e os atores começam a se transformar nos personagens. O homem 1 se transforma no Jumento Fredy, o homem 2 se transforma num pé de cacto e a Serafina na galinha. No ponto do cenário a cena escurece e no celeiro, a luz clareia gradativamente. Lá se encontra com príncipe Jeca. Dando ordens ao burro Fredy).

JUMENTO FREDY

Eu já procurei pro tudo que é lugar e num encontrei, Jeca... Nóis devia ir procurar na caatinga!

JECA

Num me chame de Jeca... Me chame de Arteza, se não eu te mando todo mudo pra o calarboço...

JUMENTO FREDY

Num faça isso, Jeca... Quer dizer Arteza... Eu num seio mais aonde encontrar o Sapo do brejo... E também, pra fazer o que ele fez cum o sertão, ele num deve ser frô que se cheire! Vamo deixar isso pra lá!

JECA

(De salto). Deixa de ser medroso, Fredy! Eu já mandei todo mundo procurar a minha frô... E eu quero ela com os espinho também...

JUMENTO FREDY

Mas pro que, Arteza? Espinho fura, doe... (Transição). Ai, só me lembrar da furada, já sinto a dor antes... E é a parte mais feia da frô...

JECA

Mas eu gosto dela assim mermo... Quando se tem um amigo de verdade, a gente num vê a feiura... O que ele tem dentro do peito, é muito mais bonito... Ocê num acha bonito o seu rabo, Jumento Fredy?

JUMENTO FREDY

Não, arteza... Mas sem ele cuma é que vou me coçar...

JECA

Antonse num recrame... Se num fosse o espinho que a minha frô tem, cuma era que ela ia se defender?! As lagarta, sempre aparece pra cumer a minha frô que num sabe se defender... Até tu se for cumer ela, já viu...

JUMENTO FREDY

Eu num tinha pensado nisso, Arteza Jeca... Antonse é pro causa disso que as largarta vira borboleta?! Mas ela é feia...

JECA

A minha frô?!

JUMENTO FREDY

Não, a lagarta...

JECA

Mas nóis tem que aguentar elas, pra ver as borboleta... Vá buscar a minha frô burro Fredy... Eu quero ela cum espinho e tudo que tiver dereito... Num me importa se ela tem esse defeito! Ela é minha amiga e eu gosto dela assim mermo... Se o sapo do brejo fizer mal a minha frô, ele num vai gostar da brincadeira... E pro que nóis num vai junto procurar a minha frô, eu e tu.

JUMENTO FREDY

Eu ir procurar o sapo do brejo, Arteza?! O senhor deve tá brincano! Ele tem a boca grande, os oio dele faz medo só de oiar... Vai ver que ele cumeu a galinha que tu mandou procurar a frô... E eu num quero ser o outro...

JECA

Eu sou responsável pela minha frô, pro que ela é minha amiga... Assim cuma também sou por ocê, Burro Fredy... (Entra apressadamente a Galinha rodando e cacarejando).

GALINHA

Cocoricor, co co , Cocoricor , co , co ...

JECA

Endoidou de vez, muié? Pro que esse labafero todo 

GALINHA

Cocoricor ... co , co ... Eu Já descobri onde mora o sapo do brejo , Arteza ... roubei esse mapa do Cachorro chocaio ... ele é um otário de maica maior !

JECA

E ele lhe deu o mapa assim fácil, foi

GALINHA

Eu também ganhei uma mordidinha de presente, perdi argumas penas, mas também roubei o mapa... Ele latiu, dizendo que eu nunca mais aparecesse pra quelas banda... Eu num tou doida vortar ali nunca mais, né?! Agora nóis acha o bicho da boca grande!

JECA

Maravía, Galinha! E a minha frô?! Ocê viu a minha frô?!

GALINHA

Ela tá presa... Cocoricor , co , co ... Dentro de uma...

JUMENTO FREDY

(Tremendo de medo). Dentro de uma...

GALINHA

Cocoricor, co , co ...

JECA

O que é isso?

BURRO FREDY

Fala logo, Galinha... Eu tou tremeno na base de medo... Se for numa jaula, eu num vou lá de jeito nenhum...

JECA

É numa jaula, Galinha?

GALINHA

Cocoricor, co, co... É numa jaula sim, Arteza... E dentro do rio no fundo brejo... Só que o cachorro chocaio, num vai deixar a gente chegar perto não, ainda mais agora que nóis tem o mapa... O sapo do brejo quer ver tudo seco pra essa banda de cá... Pra passar pelo Chocaio, vai ser difíce, viu? ... Cocoricor, co, co ... (Cisca o corpo cheio de pena). Tô cheia de pichilinga...

JECA

Nois vai assim mermo... Nóis precisa sarvar a frô, se não nunca mais a gente vai ver chuva de novo aqui no sertão... Eu nunca vi brejo aqui pra essas banda, Galinha...

GALINHA

Eu também não! Mas o cachorro Chocaio diche que tinha! Vá lá pra ver de perto...

JUMENTO FREDY

Quem vai atrás do sapo, eu  Eu num vou mermo! Mas eu num vou não, de jeito nenhum! Eu num quero ser mordido pelo cachorro Chocaio... Vai ocês sozinho...

GALINHA

Burro medroso... Eu diche que num ia, mas num tou doida deixar o arteza sozinho nessa... Se nóis tem que sarvar a frô, antonse nóis vai ter que sarva-la logo, antes que ele transforme ela numa bruxa marvada... A mardição do sapo do brejo num é brincadeira não, arteza... Aquela frô, que é boazinha, pode se transformar numa bruxa feia, veia da trouxa... Cocoricor, co, co, eu num quero nem pensar...

JECA

Num vai precisar ocê ir cum nóis não, Galinha... A sua parte já foi fazida! E aí, Jumento Fredy, vai querer ficar aqui?

JUMENTO FREDY

É craro que não, num é, Arteza... Num é muito do meu agrado não, mas se o jeito é ir mermo, antonse vamo lá...

GALINHA

Bom, a minha parte eu já fiz! Oçês vai procurar, que eu vou comer mío... Cuidado cum o sapo do brejo...

JECA

É, vá depressa, que mamãe já proguntou pro oçê, um montão de vez...

GALINHA

Oi... segure esse mapa... Proque cum ele ocês vai chegar mais depressa no palácio do sapo do brejo... Boa sorte... Adeus! Até breve... (A galinha sai). Cocoricor, co, co ... Cuidado cum os espinho do mandacaru, viu  Eu levei uma pregada que ainda tou toda doída...

JECA

O que ela quis dizer cum espinho do mandacarú  (Transição). Deixa pra lá! Com esse mapa, a gente descobre cuma chegar inté lá! Ocê me ajuda, Jumento Fredy?

JUMENTO FREDY

E eu num tou ajudano, Arteza? O que é que tu quer mais, hein

JECA

Seu burro... O que eu tou quereno dizer, é que ocê vai me levar nas costa!

JUMENTO FREDY

A pior parte tinha que sobrar pra eu... Agora quano eu cansar, ocê vai me carregar também, tá?

JECA

Mas é nada, Jumento... Quem é jumento aqui, é ocê, sua besta... E também, ocê tem que por obrigação atender as minhas orde... Esqueceu, que eu sou arteza? (Transição). Vira as costa...

JUMENTO FREDY

(Relincha). Que humilhação!

JECA

Vamo Jumento fredy... Vamos encontrar o sapo do brejo... (O Jumento sai saltitando, acompanhado de sonoplastia, com o príncipe nas costa. Entra um Musical e eles fazem a coreografia).

(Os dois cantam). Abre o mapa, procura no mapa

Que nóis deve ir para lá

O sapo do brejo, o cachorro chocaio

A gente precisa encontrar

JUMENTO FREDY

Tú tá enganado, que o mapa é errado

Eu acho que nóis deve vortar

JECA

Além do teu medo, tu tá é cansado

Por isso que tu quer parar... (Continua o ritmo e os dois fazem a coreografia).

(O Jumento fredy diz que está cansado).

JUMENTO FREDY

Eu num tou arguentano mais não, arteza... Vamos descansar... Eu tou cum sede... (O pequeno príncipe vê o mandacaru).

JECA

E quem é que num tá cum sede, Jumento Fredy  (Ouvem uma voz).

MANDACARÚ

Eu tenho água aqui, venha beber!

JUMENTO FREDY

(Morrendo de medo). Tá veno, arteza, tá veno só o que tu aprontou  Agora ele vai pegar nóis e jogar a mardição dele... Eu tou perdido, eu tou cum medo... (Relincha).

JECA

Deixa de tua latumia, Jumento Fredy! É só o mandacaru...

JUMENTO FREDY

E eu fico muito feliz que seja ele mermo... Muito feliz mermo... Mas, mandacaru fala  Tem coisa errada nisso...

MANDACARÚ

Eu falo sim... Eu orvi ocês dizer que tava cum sede! E eu que num sou besta, guardo água bem aqui dentro de mim... Pare um pouco pra descansar...

JECA

Nóis num pode parar! Nóis tem que encontrar o sapo do brejo... Ocê cunhece ele... 

MANDACARÚ

Eu não, nunca orvi falar...

JUMENTO FREDY

Antonse vamo imbora, que nóis já perdeu tempo demais! Esse caba num sabe é de nada!

JECA

Dá tempo tomar um gole d’água! Quano a gente anda sempre pra frente, num pode mermo ir longe... (Transição). Eu num vi ocê aqui no mapa!

MANDACARÚ

Oxe! Craro que tu num viu, que eu tou aqui!

JECA

Tá bom, eu vou me bora daqui... Brigado pela água... Vamo embora Jumento fredy... Eu agora quero encontrar esse sapo do brejo... Aqui tem dizeno que a gente vamos encontrar um cobra cascavel... Vamo depressa que ainda tem muita coisa pra nóis fazer!

JUMENTO FREDY

Quer vê se ele num vai querer montar de novo nas minhas costa!

MANDACARÚ

Não vai embora agora não, eu preciso de uma companhia... Fique mais um pouco! Daqui a pouco o dia vai terminar e gosto muito do por do sol... Vamo ver um...

JECA

Não tenho tempo... A minha frô tá nas mão do sapo do brejo...

MANDACARÚ

Pára de tá falano nesse sapo do brejo, que eu num tou arguentano mais!

JUMENTO FREDY

Cuma é, seu mandacaru, o sinhô tem ou num tem água pra nóis

MANDACARÚ

Tem sim... Oia aqui... (O Jumento Fredy e o pequeno príncipe bebem).

JUMENTO FREDY

Gostosa! Agora vamo dormir um pouquinho pra descansar!

JECA

Que descansar, Jumento Fredy!? A frô tá presa e nóis tem que sortá... (O pequeno príncipe vê uma cobra cascavel). Olhe lá uma cascavel, do mermo jeito que tá no mapa?

JUMENTO FREDY

É, mas agora é que o perigo vai começar a rodear na cabeça de nóis, arteza... Eu vou pegar um pau pra matar ela...

JECA

Oçê tá ficano doido, Jumento Fredy! Se tu matar a serpente, nóis num vai saber onde tá o sapo do brejo...

JUMENTO FREDY

Tem razão... Mas que ela é perigosa, é, Jeca... Quer dizer Arteza?! As presa dela é um mistério...

JECA

Eu sei, mas no mapa mostra a cobra, Cascavel... Quando nóis se aproxima do desconhecido, a gente não deve desobedecer! Ela é muito perigosa... Só uma picada, é morte na certa!

JUMENTO FREDY

Nesse caso, eu tou morreno de vontade de fazer isso!

JECA

Mas nóis vai ter que arriscar... Ela não é tão braba assim... Será que ela engole um elefante?!

JUMENTO FREDY

Que progunta, Arteza!

JECA

No mapa tem uma cobra engolindo um elefante?!

JUMENTO FREDY

Uma cobra engolindo um elefante?! Deixe eu ver! (O Jumento Fredy abre o mapa. Transição). Mas isso num é uma cobra engolindo um elefante, Arteza, isso aqui, é um chapéu...

JECA

Da tuas venta, Jumento Fredy... Isso é uma cobra engolindo um elefante, sim... Deixa de ser burro, home?

JUMENTO FREDY

Cuma é que eu vou deixar de ser burro, se eu sou Jumento?! Mas eu num tou veno nada de cobra engolindo o elefante aí... Nem elefante aqui no sertão tem!

JECA

Se tu olhar dentro do coração, tu vai ver um elefante! Deixa de ser burro, Fredy... Vamo falar cum ela... (Se aproximam da Cascavel). Bom dia, dona Cascavel...

CASCAVEL

(A cascavel balança o chocalho). Bom dia! O que vocês querem?

JECA

Ara! Oxente! Nóis quer falar cum tu, muié...

JUMENTO FREDY

Ela num gostou da gente, Arteza... O chocaio dela tá balançano...

JECA

Bom dia cobra...

CASCAVEL

Eu num já proguntei o que ocês quer?

JECA

É que nóis tá procurano o sapo do brejo, sabe?!

CASCAVEL

Ah, quer dizer então, que ocês tá querendo pegar o Sapo do brejo? Muito bem... (Transição com raiva). E quem é ocês pra querer fazer isso cum o futuro home do sertão 

JUMENTO FREDY

É, pro acaso, a senhora viu, sabe cuma encontrá ele pra essas banda?

CASCAVEL

Não, num... Sei... Quer dizer... Pode ser até que eu diga como encontra-lo... (Começa a contar os chocalhos). Um, dois, três... Com quatro, sete... Ah, sim... Pensei que tinha perdido algum... Com mais sete, é quatorze, com nove fora cinco e mais cinco, dez...

JECA

(Dando um basta na cobra). Pára cum essa estória de tá contano chocaio, que coisa mais besta! Parece que tá ficano doida! Pro que a senhora se procurpa tanto em contar esses chocaio?!

JUMENTO FREDY

Arteza, ela tá contano o Chocaio pra dá a botada em nóis... Vamo embora...

CASCAVEL

Não é nada disso... Eu estou contando o meu chocalho, porque cada vez que cai um, eu fico um ano mais velha... E ficando mais velha, nunca mais eu vou ver o pôr do sol.

JUMENTO FREDY

Pôr do sol?! Mais ainda é cedo!

JECA

É, e nóis tem que encontrá o sapo do brejo até antes do entardecer... Nóis já vai ter que ir, que já tá ficano tarde... A minha frô tá correno perigo... Mamãe disse que lá, tem um carneiro que come tudo que vê pela frente... Mermo as frô que tenha espinho...

CASCAVEL

Os espinho servem de defesa dela... Ela sabe se defender...

JECA

Num sabe não, ela é muito fraca!

CASCAVEL

Aí, é onde ocê está enganado... Finalmente quem é você? Você me conhece, mas eu não sei quem ocê é...

JUMENTO FREDY

Como ousa fazer progunta desse tipo pra o arteza?! A senhora pro acaso tá cega, que num tá veno que o Arteza é príncipe?

CASCAVEL

E aqui no sertão tem um prícipe?! (Dá uma risada). Essa é boa!

JUMENTO FREDY

Ela tá quereno tirar prosa cum a cara de nóis Arteza... Vamos embora daqui...

JECA

Se ocê num quer dizer, antonse num diga... Nóis já vai... Agora eu apagar ocê do mapa...

CASCAVEL

Não faça isso, seu moleque travesso... Eu vou lhe pegar e dar umas pregadas com as minhas presas afiadas... Aliás, eu sei onde tá o sapo do brejo, mas eu num vou falar... Eu vou sim, dizer pra ele, que ocê tá querendo roubar a frô... Ele não vai gostar de saber disso... Ocês tá fritos...

JUMENTO FREDY

Essa cobra já passou conta, eu vou dar uma coiçada nela...

CASCAVEL

Venha pra cá, que eu jogo meu veneno em cima de ocê, seu burro sem graça... Tu num me conhece ainda... Fique bem longe deu...

JECA

Tú num tá servino mermo, Cascavel... Eu quero saber onde tá o sapo do brejo e se tem o seu nome aqui no mapa, tu tem mais é que dizer, se não tu vai perder a boquinha... E eu vou fazer isso é agora mermo...

CASCAVEL

Me dê isso aqui... (Toma o mapa do Pequeno Príncipe). Ninguém vai apagar o meu nome do mapa... Ele agora me pertence...

JECA

Quem foi que disse, sua cobra velha... Descamada...

CASCAVEL

Eu, velha? Ai, que decepção... Tanto que eu me produzo... (Transição). Tome esse mapa e desapareça da minha frente...

JUMENTO FREDY

Mas premero diga sem mentira nenhuma, onde tá o sapo do brejo...

CASCAVEL

Pro aqui... Ocê tá bem no meio do brejo... Tá veno só cuma ele é perigoso?! Mas deixa isso pra lá, me cativa um pouquinho...

JUMENTO FREDY

Num faça isso, Arteza... Ela é perigosa... Ela tá quereno dá uma bocanhada... É bom ter coidado cum essas coisa que a gente num conhece!

CASCAVEL

Eu vou chorar... (Faz menção que vai chorar). Ocê num quer me cativar!?

JECA

Bem que eu queria, mas num posso... Tenho que sarvar a minha frô das mão do sapo do brejo... Já que ocê num quer falar onde ele tá, antonse eu vou procurar sozinho... Adeus...

JUMENTO FREDY

Deixe essa perua aí, Arteza...

CASCAVEL

(Transição de salto e com raiva). Quem é perua aqui, seu Jumento imundo?

JUMENTO FREDY

(Decidido). Ocê...

CASCAVEL

Eu tenho cara de perua? Se quer saber mermo, eu sou uma cobra! Ocê deixe de ser besta! Tú num tá veno essas escama?! É própio de uma cobra e essas baje, é de cascavel gostosa, bonita, cheia de graça! (Com a platéia). Não é mermo?

JECA

Eu num quero saber dos seus defeito! Num faça eu perder as estribeira... E me diga onde tá o sapo do brejo...

CASCAVEL

Ele tá aqui... Ele aparece de repente... O sapo é mágico... Ele pega quarquer um pra fazer o sopão... Eu vou me camuflar, que a chocaio tá vindo aí, eu tou sentino o cheiro dele... Tchau... Muito coidado tchau... E tenha coidado, que ele se disfarça de Galinha, Mandacaru... (A cobra desaparece).

JECA

Galinha, Mandacaru  (Transição). E cobra cascavel! Onde tá essa cobra? (Transição). Tú intendeu arguma coisa, Jumento fredy?

JUMENTO FREDY

Nadica de nada... E é pro isso que todo mundo me chama de burro! Deu um nó aqui no meu quengo! Mas também tu num intendeu foi nada, num foi arteza? Imagina eu que sou um Jumento... Ela também é o sapo do brejo...

JECA

Ela diche que é o sapo do brejo! Vamo fazer um negócio... Tu vai me levar nas costa até a gente achar o brejo, que num deve tá muito longe! Se ela, o Mandacaru e a Galinha é sapo do brejo, antonse o cachorro chocaio num vai ser diferente! Dessa vez, nóis pega ele...

JUMENTO FREDY

Eu acho que nóis devia esperar pro aqui, sabe?! A cascavel diche que o brejo é aqui!

JECA

E se ela tiver mentino?

JUMENTO FREDY

Num tá de jeito nenhum... Que ela é o sapo do brejo, esqueceu ! E o mapa num indica mais lugar nenhum!

JECA

Mas é engraçado mermo... E num é que isso é uma grande verdade!? (Ver um beberrão). O que é aquilo?! Dessa vez ele num vai enganar a gente!

JUMENTO FREDY

É um Tatu, arteza...

JECA

Parece que ele tá bebo... Vamo inté lá... (se aproxima do Tatu, que está com uma garrafa cheia e outra vazia)...

JUMENTO FREDY

Misericórdia, o home tá que num fica em pé... Vamo inté lá se não ele vai acabar fazeno uma arte nele mermo...

JECA

Bom dia moço...

TATÚ BEBERRÃO

Bom dia?! E já é dia?!

JECA

Esse tá mau mermo... O senhor viu o sapo do brejo pro qui, pra essas banda?!

TATÚ BEBERRÃO

Sapo do brejo?! E tu já viu brejo numa seca medonha dessa, fio... Tu tá trasvariano!? Aqui só tem mermo, é um deserto de pranta seca e água que é bom, nem em pensamento... Mas graça a Deus, ainda existe um tiosco, pra gente se afogar na cachaça...

JECA

Num me interessa sua cachaça... Eu tou procurano o sapo do brejo... Se ocê num sabe, tudo bem, eu vou procurar sozinho, com o meu Jumento... Inté... (Faz menção que vai sair).

TATU BEBERRÃO

Espere aí!

JECA

O que é que ocê quer cum eu 

JUMENTO FREDY

Tú tá fedeno à cachaça... Arteza, ele agora vai mostrar as unha! Vamo imbora, Arteza...

TATÚ BEBERRÃO

Eu num tou veno motivo nenhum pra tu ficar cum medo!

JECA

Ele pode tá cum medo, mas eu num tou não, seu sapo disfarçado! Ou ocê sorta a minha frô agora mermo ou eu vou cortar o seu precoço cum a minha pexeira...

TATÚ BEBERRÃO

Que estória é essa de sapo disfarçado 

JUMENTO FREDY

É oçê, sim... Tu sabe muito bem do que nóis tá falano! Tú num é burro!

JECA

Cuma é, vai sortar ou num vai a minha frô

TATÚ BEBERRÃO

Mas eu num tou cum frô de ninguém! E também num sou sapo de coisa nenhuma! Oçês parece que tá ficano tudo é doido!

JECA

Tá certo que no mapa num tem ocê mermo!

JUMENTO FREDY

Mas isso num quer dizer nada, arteza!

TATÚ BEBERRÃO

Como num quer dizer nada! Eu passo a minha vida inteirinha bebendo pra esquecer os probrema! E quano esqueço, eu bebo pra tenta lembrar do que esqueci! (O pequeno príncipe da uma gostosa risada). Paga uma pra eu 

JUMENTO FREDY

Num vi motivo pra risada, arteza!

JECA

Ele é engraçado! Mas cuma é, ocê é, ou num é o sapo do brejo

TATÚ BEBERRÃO

Não, eu num sou o sapo do brejo! Meu nome é tatu! Todos me chama de tatu beberrão! Eu num ligo pra o que eles fala! Acho que o feliz é eu mermo, que num levo os probrema pra casa! Mas quem é eu mermo?! A cachaça já perdeno o efeito... Já tou esqueceno quem é eu... Vou beber pra lembrar!

JECA

E pro causa disso, se afoga na cachaça! E pro que ocê carrega uma cheia e outra vazia?

TATÚ BEBERRÃO

É proque se eu ficar triste proque tem uma garrafa vazia, eu num preciso beber pra me alembrar, que tenho outra cheia pra me alegrar... E a garrafa fica sempre cheia!

JECA

Tá bom, fique pro aí, cum as suas garrafa, que eu vou procurar o cachorro chocaio...

TATÚ BEBERRÃO

Aquele vira-lata pulguento 

JUMENTO FREDY

Arteza, ele cunhece o Cachorro Chocaio...

JECA

Onde é que nóis pode encontrar esse cachorro, senhor Tatu beberrão  ... Ele sabe onde tá o sapo do brejo...

TATÚ BEBERRÃO

Ele tá em toda parte do sertão! Logo, ele aparece... Oçês vai andando, andando... Siga o mapa!

JECA

É isso mermo que nóis vai fazer, seguir o mapa! Vamo, Jumento Fredy, vira as costa!

JUMENTO FREDY

De novo •

JECA

Sem recramar... (Jeca monta nas costa do Jumento Fredy. Enquanto isso o Tatu beberrão fica rindo e sai de cena). Será que esse cachorro vai demorar, jumento Fredy 

JUMENTO FREDY

E eu seio lá, arteza!!! Agora eu num seio mais é de nada! Eu num seio, mas acho que aquele Tatu, num tem nada de beberrão... Eu acho que ele é o sapo disfarçado de novo!

JECA

Eu acho que não! O mapa num fala nada sobre ele! Pode até que pode ser que o chocaio seja o sapo... Que no mapa tem ele! Aí nóis acaba de uma vez pro todas cum isso! Nóis vai descobrir, assim que o chocaio aparecer! (O Chocaio entra latindo. Entra uma música movimentada e o Jumento fica atrás do Pequeno príncipe).

CACHORRO CHOCAIO

Ah, ocês chegou! Muito bem! E eu posso até aduvinhar o que oçês tá quereno pro aqui!

JUMENTO FREDY

É ele mermo, arteza! Agora, é!

JECA

(Pega no pescoço do Cachorro chocaio). Seu vira-lata pulguento, onde tu botou a minha frô!

CACHORRO CHOCAIO

Sorta meu precoço, tá doendo... (O Jeca solta). Ai, quaje morri suforcado...

JUMENTO FREDY

Ou tu fala logo, aonde tá a frô de arteza, ou eu vou te dar uma coiçada...

CACHORRO CHOCAIO

Venha pra cá, que nunca mais tu vai se equilibrar na vida! Tú num cunhece ainda o sapo do brejo! Eu mermo, só faço o que ele manda...

JECA

Craro que ocê só faz o que ele manda! Eu acho que ocê tem muita coisa haver cum ele! Num precisa esconder de nóis... Ocê é o sapo do brejo... E nóis só vai sair daqui cum a frô e num se meta à besta de querer fazer feitiço, que nóis tá preparado pra acabar cum ocê e levar a frô pra casa!

JUMENTO FREDY

Arteza, o senhor tem certeza no que acabou de falar ! Se esse guenzo num for o sapo do brejo, ele pode morder a gente!

CACHORRO CHOCAIO

Guenzo  Agora ocê foi longe demais! Eu vou lhe dar uma dentada pra nunca mais ocê querer fazer gracinha com o grande guarda do rei... Sapo do brejo!

JUMENTO FREDY

E eu vou lhe dar uma coiçada, pra nunca mais se meter à besta cum o Arteza!(O burro fredy fica arrodeando o cachorro e o Cachorro Chocaio fica arrodeando o Jumento e rosnando para morder).

JECA

Eu num quero confusão aqui... Eu só quero que ocê me diga onde é que tá o sapo do brejo e pronto! Nóis vai embora!

CACHORRO CHOCAIO

E trair o meu patrão! Nunca... E também num precisa... Ocês tá tão perto dele que nem imagina!

JUMENTO FREDY

Eu sabia que esse pulguento era o sapo do brejo! Eu juro que eu sabia disso!

CACHORRO CHOCAIO

Quem é pulguento aqui, seu Jumento banguela!

JUMENTO FREDY

É ocê, pro que, quer encarar, é  (Relincha).

CACHORRO CHOCAIO

Mas repara!

JECA

Finarmente onde é que tá o sapo do brejo  (Através de uma explosão o sapo aparece e todos correm pra se esconder).

SAPO DO BREJO

Eu orvi arguém me chamar!(Dá uma gargalhada). Cloack!

CACHORRO CHOCAIO

Cuidado! Silêncio! Ele é muito perigoso!

SAPO DO BREJO

Cachorro Chocaio, cadê ocê, seu mardito... Agora chegou o grande momento! Eu vou ser o grande rei da seca! Através da frô que eu tenho, o sertão nunca mais vai produzir nada... O sol vai queimar tudo que vê pela frente! Eu quero ver rios seco, pranta e bicho morto! E para concruir o meu trabalho, é transformar a frô numa bruxa que vai me ajudar a botar uma sombra no sol e tapar as nuvens, desviano as água!(Dá uma gargalhada). Eu vou acabar cum aquele cachorro! Ele devia tá vivgiano a entrada do meu palácio! Chocaio... Vou pegar a frô e vou preparar uma mágica pra ocê também... (Sai de cena dando gargalhadas).

JECA

Que dizer que ocê num é o sapo do brejo 

CACHORRO CHOCAIO

Num sou nada! Pelo amor de Deus me salve das mão desse sapo! Ele vai me amardiçoar!

JUMENTO FREDY

Eu num fui cum a cara dele!

JECA

Quer dizer que ocê também é prisioneiro do sapo do brejo 

CACHORRO CHOCAIO

Sou! Eu já num tou arguentano mais! Vá embora daqui! Ele vai transformar a frô numa bruxa! E vai ser agora!

JECA

A minha frô numa bruxa  Ele precisa de duas bocas do tamanho da dele!

JUMENTO FREDY

Arteza, eu acho que o Chocaio foi craro e objertivo!

JECA

Num foi craro de nada! Ele vai ver o que é bom pra tosse! Nóis vai se ajuntar e preparar um prano bom, pra acabar cum esse sapo do brejo de uma vez pro todas!

CACHORRO CHOCAIO

Acabar cum o sapo do brejo! Ocê endoidou de vez!

JUMENTO FREDY

Tú tá brincano, Arteza!

JECA

Só ocê cunhece a mágica do sapo do brejo! Antonse ocê sabe cum acabar cum ela!

CACHORRO CHOCAIO

Cunheço sim... Toda mágica dele é pro causa desse mapa aí que ele tem força... E também pro causa da varinha magica!

JECA

Antonse nóis vai fazer um prano! Premeiro tu vai fazer de conta que num sabe de nada e nóis vai ficar escondido! Deixe o resto cum eu e o Jumento Fredy. (Entra uma música tensa). Ele já tá chegano! Vamo se esconder!

CACHORRO CHOCAIO

E a varinha magica?!

JECA

Nois da um jeitinho de pegar ela também... (Os dois saem. Entra o sapo do brejo com a flor).

FLOR

Me larga... Me larga... Seu sapo nojento... Me larga!

CACHORRO CHOCAIO

Cachorro Chocaio... Presente no serviço desde cedo!

SAPO DO BREJO

Tú num tem veigonha de tá mentino não, chocaio  Eu te procurei que só e juro que num vi foi nada!

CACHORRO CHOCAIO

Foi não, majestade! Eu tava aqui o tempo todinho! Num foi?!

SAPO DO BREJO

Você tá falano cum quem, Chocaio?

CACHORRO CHOCAIO

Cum ninguém não, majestade! Eu tava falano cum eu mermo! E a fro?! O senhor vai transformar a frô na bruxa?!

FLOR

Ele num se meta a besta de fazer uma coisa dessa!

SAPO DO BREJO

Como ousa desafiar o grande rei do brejo! Cloak ... Cloak ... Cloak ...

FLOR

Socorro... Eu quero sair daqui! Esse sapo quer me transformar numa bruxa! Você num vai conseguir!

SAPO DO BREJO

Cachorro chocaio me de o mapa pra cá!

CACHORRO CHOCAIO

(Com medo). O mapa, majestade?

SAPO DO BREJO

Cadê o mapa, Chocaio!?

CACHORRO CHOCAIO

Boa progunta, majestade! Sabe o que é, é que... Se eu lhe contar a v. majestade num vai acreditar neu, num sabe?

FLOR

Num diga, Chocaio! Esse sapo, esta querendo aparecer demais!

SAPO DO BREJO

Eu vou calar a boca dessa fro agora mermo! Cloak... Cloak... Cloak... Eu quero que essa fro cale essa boca! (A flor faz menção que não esta conseguindo falar). Bem empregado! (Transição). Chocaio passe pra cá imediatamente este mapa!

CACHORRO CHOCAIO

(Rosnando de medo). Eu perdi, majestade! Eu perdi, pra uma galinha depenada, assanhada, mas muito esperta! Ela me roubou o mapa! (A flor fica fazendo cara de alegria).

SAPO DO BREJO

Você fez o que, seu cachorro pulguento? Quer dizer então, que todo meu poder tá nas mão dos outro, pro sua causa... E ainda pro cima de uma galinha?!

CACHORRO CHOCAIO

Foi sem querer, majestade! Foi sem querer! Eu peco descurpas!

SAPO DO BREJO

Descurpas?! (Da uma gargalhada). Eu vou acabar cum você, chocaio... Eu vou acabar cum você e essa fro feiosa...

CACHORRO CHOCAIO

Cuma tu vai fazer se o mapa desapareceu?!

SAPO DO BREJO

Esqueceu que eu tenho a varinha mágica?!

CACHORRO CHOCAIO

E, tinha me esquecido disso! (Começa a morder os dedos de medo).

SAPO DO BREJO

Está cum medo, Chocaio?!

CACHORRO CHOCAIO

Não, só quaje fazendo um servicinho nas calça...

SAPO DO BREJO

Antonse pode pedir licença, que eu vou fazer o servicinho agora mermo!

JECA

(Sai do esconderijo). Tu pensa que vai fazer o que, seu sapo sem brejo!

SAPO DO BREJO

O que?! E quem é você pra querer atrapalhar a minha magia?

JUMENTO FREDY

Tu num fala assim cum o arteza não que eu te descasco na porrada, seu sapo da boca grande!

CACHORRO CHOCAIO

Cuidado que essa vara mágica! Ela é perigosa!

JUMENTO FREDY

(Pega a vara mágica). Era perigosa... (A vara da um choque no Jumento e o mesmo cai tremendo no chão).

JECA

Tá veno só o que tu acabou de fazer cum o meu jumento?! Mas eu tenho nas minhas mão o mapa! E eu vou rasgar ele agora mermo! E sorte a minha fro, seu sapo mau incarado... Sorte a minha fro! (O pequeno príncipe começa a bater no sapo do brejo)!

SAPO DO BREJO

Desse jeito eu num quero brincar mais! (Tira a máscara).

JECA

E nois tava brincano, era?! (Transição). Oxente, home! Tu era o sapo do brejo?!

FLOR

E eu sou...

JECA

Mamãe! O que a senhora tava fazeno de fro?! E o chocaio?!

CACHORRO CHOCAIO

Eu sou o amigo de seu pai! (Tira o disfarce).

JUMENTO FREDY

Nunca mais outra dessa! Jeca você é um pequeno príncipe sertanejo! Faz de conta que você venceu tudo! Eu num tou arguentano mais! Ai, meu espinharço...

SERAFINA

Tá veno, cuma é a brincadeira de criança, Zé?

HOMEM 1

Nunca mais tu inventa outra dessa! Eu num tenho mais idade pra sastisfazeno capricho de criança...

HOMEM 2

Nem eu, viu?! Eu vou pro boteco tomar mais um gole e depois eu vou drumir! Inte cumpade... Valeu o disabafo... (Sai).

HOMEM 3

Eu também vou... Tchau... (Os dois saem de cena).

JECA

Ah, eu quero brincar mais!

SERAFINA

Amanhã a gente brinca de novo de outra brincadeira! Quem sabe um dia tu num vai ser um príncipe mermo!? Quem sabe, Jeca!? Pelo menos, vontade tu tem muita... Vamo me ajudar a dar mio pras galinha, que é mior que a gente faz... Ti, ti, ti, ti... Cocoricor, co, co...

JECA

Cho, galinha... Cho, galinha... (Todos ficam paralisados. Acende-se um ponto de luz no homem 1).

HOMEM 1

Ara! Que diacho de menino! Se a realidade fosse igual à imaginação, a vida era muito boa... Um diacho que num tem nem o que cumer quer ser príncipe!? Que cabeça! Mas pelo menos eu gostei de entrar no mundo dele! Rearmente eu gostei... Eu gostei mermo! ... (Entra uma musica final e todos os personagens fazem a coreografia e chega o fim da peca “O PEQUENO PRÍNCIPE SERTANEJO”):

PECA: O PEQUENO PRÍNCIPE SERTANEJO

AUTOR: FLAVIO CAVALCANTE

MÊS: JULHO

ANO 1998

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 28/03/2009
Código do texto: T1510686
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