A MENINA E A AMIGA
Procurara durante horas,
naquele seu velho baú,
por lembranças que não doessem.
E as encontraria se não fossem tantas as lembranças que trazia do sul.
Fussava tanto porque procurava por algo grandioso.
Mas onde, ali,
naquele velho baú,
ia encontrar presente tão valioso?
Era chaveiro, bola, pião...
era tanta quinquilharia
que a menina até se perdia com aqueles brinquedos baratos não mão.
Revirava as revistas,
os vestidos de renda das bonecas,
as flores,
os galhos secos,
os pincéis
e suas cores que borravam as paredes do baú.
Outras caixas,
meias,
insenso,
e as cartilhas de costume.
Cartas,
chaves,
um nariz de palhaço...
talvez achasse um perfume.
Em vão!
Não havia nada ali que pudesse dar à amiga.
Pobre menina!
Cheia das coisas que não valiam nada.
De que valia sua vida?
Pensou em cantar para a amiga,
talvez isso pudesse agradá-la.
Emprestar as bonecas,
lavar-lhe os cabelos,
recitar-lhe um verso.
Não, não!
Nada servia!
A amiga merecia mais que isso.
O que seria?
Aquele mexe-remexe acabava com sua paciência.
Nunca pensara que escolher um presente cansasse sobremaneira!
Começou a escrever à amiga
e contar-lhe toda a trabalheira que dava ter uma amiga tão especial.
Mas nem um papel em branco tinha!
Ai, ai, o que faria?
Rasgou uma das caixas e encontrou o melhor presente:
tinha uma caneta
e umas palavras que queriam sair do coração.
Faria delas poesia!
Estava decidido, então!
Era noite sem luar,
fazia frio e solidão
e a menina rabiscava palavras num pedaço de papelão.