Coisas de criança

Coisas de criança

Augusta Schimidt

Criança que se preza tem ventania nos pés, minhoquinhas na cabeça e sorriso largo no coração.

Menino então nem é bom falar... Parece chuva de verão; de repente é tempestade e logo vira sol que aquece o coração de gente grande.

Milico, um menino que mora lá na cidade grande é assim. Nos seus 10 anos bem vividos repletos de gostosuras, faz travessuras e acha que é o tal.

Certo dia levantou com mania de inventor, e com um pedaço de pau e mais alguns artefatos que achou nos seus guardados fez um revolver com direito a gatilho e pólvora só pra escutar o barulho da sua arte. Em dado momento, quando o invento já estava quase pronto, Milico teve uma dorzinha de consciência, pois sabia que uma arma não era coisa de brincadeira. Pensou, repensou e logo resolveu. Terminou o seu brinquedo e quase sem medo foi usar o experimento.

Subiu no muro do quintal, apontou a arma para o alto e gritou: Fuja vento que vou espantar os maus pensamentos! Era para isso que serviria sua invenção. E que mal havia nisso? Ninguém mais teria maus pensamentos disse ele a si mesmo. Puxou o gatilho e atirou. O barulho foi tão forte que Milico se assustou, fora o tombo que levou. Naquele momento, não via mais nada. O pavor tomou conta de seu pensamento e ele viu que tinha feito uma grande bobagem.

Não gostou da experiência que lhe rendeu alguns arranhões e uma grande dor, pois tinha um galo enorme no cocuruto.

A mãe de Milico, que chegava da rua nesse momento, quase teve um surto de susto também, pois de longe ouviu a explosão. E correndo, com o coração aos pulos e quase na mão, acudiu Milico que estava sentado no chão.

Ela pressentia que coisa boa não havia acontecido ali. Fredi o cachorrinho, já velho e assustado com o rabo entre as pernas parecia saber tudo que ainda estava por vir. A bronca que Milico fez por merecer estava prestes a acontecer.

Depois de se explicar e ouvir o que a mãe tinha a falar, Milico entendeu que armas não são brinquedos de criança e que uma simples brincadeira poderia provocar uma grande tragédia.

Levantou-se do chão e com todo o jeito de quem já estava preparando outra arte, falou baixinho pro Fredi: Que se dane o vento, de hoje em diante vou espantar os maus pensamentos com a vassoura de bruxa da minha irmã.