O MENINO PASSARINHO

Garoto esperto, de pés descalços, vivia no meio da natureza, contemplando suas belezas, aspirando o perfume das flores, subindo em árvores, nadando nos rios, vendo as cachoeiras despencando das alturas suas belezas, formando depois lindos arco-iris.

Tinha uma predileção especial pelos passarinhos e admirava seus cantos e suas belezas.

Conhecia todas as espécies, como os curiós, sabiás laranjeira, pintassilgos, bem-te-vis, tesoureiros, coleirinhas, canários, sanhaços, rolinhas, maritacas, periquitos, papagaios, tucanos, arapongas, araras, socós, jaçanãs, gaviões, beija-flores e muitas outras, inclusive as que eram caçadas pelo seu pai e que ele não gostava, pois sempre o repreendia quando chegava em casa com os embornais cheios de perdizes, nhambús, jacutingas, jaós, mutuns, juritis.

Tinha uma admiração especial pelo joão de barro que construia a sua casinha pacientemente até que trazia sua namoradinha para ali construir seu ninho e os filhotinhos nascerem dos ovinhos botados.

Sabia imitar os cantos dos curiós, pintassilgos, canários do reino, sabiás, assobiando ou tocando os pios que seu pai fazia para atrair as presas que eram abatidas, que ele detestava, pois eram criaturinhas tão inocentes e puras.

Gostava de ver os pássaros voando, quando em revoadas iam em busca de alimentos, os insetos, para alimentarem seus filhotinhos.

No entardecer, admirava quando bandos e bandos de garças, patos selvagens, vinham chegando em perfeitas formações, como que guiados por um lider que não permitia que debandassem, até chegarem aos seus destinos, alimentando os filhotes e depois repousarem da longa jornada do dia.

Admirava o vôo dos urubús, apesar de serem pássaros agourentos, feios, mas de extrema importância na natureza, pois comem as carnes dos animais mortos, evitando que as bactérias causem doenças que poderiam até matar animais e também a espécie humana.

Gostava de ver eles voando tranquilos nas alturas, planando, como que tocados pela brisa, e de repente, num ímpeto, soltavam seus corpos, numa velocidade estonteante, até localizarem a carcassa que seus faros privilegiados distinguiam e depois se banqueteavam.

Isso causava um frenesi no pequeno garoto, que também queria ser como eles, voar, voar, ganhar imensas alturas e de lá, contemplativo e sereno, ver toda a natureza, transpor os montes, passar por cima das cidades, seguir a rota dos aviões e depois repousar seu cansaço numa árvore frondosa ou num penhasco bem alto, até que o entardecer sereno chegasse para poder dormir.

Quando empinava pipas, imaginava-se um pássaro valente, ousado, que desafiava até os ventos uivantes e subia lá no alto, fazendo firulas, despencando, e quando parecia se chocar com um obstáculo, ganhava novamente alturas até plainar, calmo, tranquilo, sereno, onde olhava todos os horizontes sem fim naquele recanto privilegiado, com muitas matas, e as flores pincelando o verde das árvores de todas as cores.

Nos seus sonhos imaginava-se uma pássaro forte, com asas bem delgadas para poder lançar-se num ímpeto de uma árvore, no alto de um penhasco, no cume de uma montanha e depois voar, sem destino, olhando as paisagens, admirando todos os horizontes, vendo até sua pequena casinha onde morava feliz com seus pais e irmãozinhos, parecendo até um risco tanto a altura que conseguia se elevar e localizar até o rio encachoeirado onde aprontava suas estrepulias.

Acordava assustado e sua mãe preocupada perguntava o que lhe aconteceu, só que seus segredos jamais revelou para ninguém, sómente seu coração pequeno sabia que ele queria ser um menino passarinho e também voar, um sonho de criança que foi se dissipando à medida que ia crescendo e compreendendo seus limites, um garotinho que mal podia transpor um pequeno valo num pulo e isso trouxe uma tranquilidade que acalmou seu coração para sempre.

23-07-2009