O RELATÓRIO ESCOLAR
 
 
O garoto Pé no Bolo ainda mora com os seus pais e irmãos na Vila Macambiras, próximo à comunidade rural denominada Cafundós de Judas. Não obstante tratar-se de uma criança traquinas, ele é muito benquisto e igualmente conhecido na sua comunidade e nas comunidades vizinhas.
Nos últimos meses, os pais dele têm trabalhado todos os dias da semana na economia informal com o intuito de prover de forma sofrível o sustento da sua pequena prole.
Lá em Cafundós de Judas, que é um núcleo populacional maior que a vila onde ele mora, há muitos pais desempregados, inúmeras crianças que estudam precariamente, além da permanência de algumas delas vivendo parte de seu tempo ocioso preambulando nas praças.
De uns tempos para cá, Pé no Bolo tem estado bastante radiante e não cabe dentro de si de tanta alegria. Isso se deve ao fato de ele ter recebido um convite de sua professora da disciplina de estudos sociais para ir visitar duas escolas situadas em comunidades carentes de dois bairros distintos, situados na periferia da capital do estado onde ele nasceu.
A visita excepcional já faz parte de um projeto pedagógico criado pelos professores das escolas de sua comunidade, cujo objetivo principal é mostrar para os alunos que frequentam as salas de aulas das escolas do interior, as diferenças estruturais existentes entre uma região e outra.
Como forma de desenvolver o raciocínio e o senso de observação dos alunos a respeito dos pontos visitados, os professores os orientaram a fazer um pequeno relatório. Ali, cada aluno deveria citar, de forma sucinta, aquilo que mais lhes chamou a atenção durante a visita realizada e para surpresa da sua professora Pé no Bolo foi o único aluno a fazer dois relatórios distintos.
No primeiro, que ele o intitulou de “Aquilo que vi na escola”, ele mencionou os detalhes de algumas atividades dos alunos em salas de aula. No outro, um pouco mais extenso, cujo título dado por ele foi “Aquilo que vi fora da escola”, contou o que viu na cidade, principalmente sobre o comportamento das crianças que estavam andando, a esmo, nas ruas e encerrou sua atividade “extra” com uma frase de apelo muito curiosa:

- Meu Deus, onde e com quem moram e onde dormem essas crianças que estão a perambular pelas ruas e qual a razão de elas não frequentarem uma sala de aula?
Germano Correia da Silva
Enviado por Germano Correia da Silva em 23/07/2009
Reeditado em 09/06/2020
Código do texto: T1715082
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