Ozne e o Livro Dourado

Era uma vez um menino, seu nome era Ozne, um nome estranho eu sei, mas nome a gente não escolhe, não é? E no mais tem gente com nomes ainda mais estranhos como Epaminondas Bombas, Escolástica Estica, Tertuliano Torto, Galvânio Galito, Blimunda Chunda, Lindomar Feiorrio, entre outros.

Ozne tinha seis anos era muito inteligente e levado sempre aprontando picaretisses e traquinagens, mas era muito doente, mas tão doente que nem podia ir para escola. Seus pais eram muito pobres e trabalhavam o dia todo para poder comprar comida e remédios para ele, mas mesmo assim muitas vezes eles não tinham o suficiente. Moravam em uma cidade no sul do Brasil. E o maior sonho de Ozne era aprender a ler e escrever.

Ozne passava o dia todo sozinho dentro de casa sem fazer nada, pois nem brinquedos tinha para brincar e ele ficava muito triste com isso. Ele passava horas olhando para fora pela janela de seu quarto e sempre via as mesmas coisas, até que um dia viu passar uma velhinha perto da casa dele.

Ela tinha os cabelos brancos, roupas escuras e andava meio curvada. Vinha puxando um carrinho que parecia ser muito pesado. Ela arrastava o carinho com estrema dificuldade. Ozne logo pensou que ela era uma bruxa e se abaixou para esperar ela passar. Ele ficou assim durante algum tempo e quando achou seguro resolveu espiar para ver se ela já havia passado.

Com estremo cuidado levantou a cabeça bem devagar e olhou para fora e nesse instante bem em sua frente quase colado em seu nariz viu a velhinha que sorria. Ozne levou um susto tão grande que caiu sentado.

A velhinha ainda sorrindo apenas falou:

- Oi!

Ozne olha para ela assustado e não respondeu nada. A senhora ainda sorrindo disse:

- Você poderia me dar um copo de água? É que esta muito quente e a minha mala esta muito pesada.

Ozne ficou com pena dela correu o mais rápido que pode e como um raio foi até a cozinha buscar um pouco de água para a senhora.

Ela tomou toda a água e agradeceu a ele.

- Muito obrigada. Você é um menino muito bom e como recompensa vou lhe dar este livro.

Ela colocou a mão dentro da mala e retirou um livro de capa dourada muito bonito e entregou a ele. Era o livro mais bonito que Ozne já havia visto. Ele era grosso com capas grossas em couro dourado e bem no centro saltando aos olhos um símbolo lindo. Ozne pegou o livro e com um olhar triste disse:

- Muito obrigado, mas eu não sei ler. Não posso ir à escola. Este livro não vai me adiantar, mesmo assim muito obrigado!

A senhora ainda sorrindo.

- Este livro é especial. Ele é mágico. Tudo o que você tem que fazer é dizer a palavra mágica e então uma coisa maravilhosa irá acontecer.

Ozne ficou encantado e muito curioso. Queria saber qual era a palavra mágica.

- Verdade! Por favor me diga qual é a palavra mágica?

E a senhora sempre sorrindo:

- Claro, a palavra é: IMAGINAÇÃO! Antes de abrir o livro feche os olhos e diga com toda a força IMAGINAÇÃO!

Ozne já ia dizer a palavra quando escuta alguém mexer na porta. Olha rápida para o lado e era sua mãe que retornava do trabalho. Quando volta a olhar para a janela a senhora havia sumido.

- Oi filho. Eu já pedi para você não ficar na janela!

O garoto muito excitado.

- Olha mãe o que eu ganhei! Um livro mágico!

A mãe dele olha para o objeto na mão do garoto e irritada fala:

- Onde você arrumou isto?

-Foi a velhinha que me deu!

A mãe dele fica muito brava e fala séria para ele.

- OZNE! Quantas vezes eu já lhe disse que você não deve falar com estranhos. Quanto mais pegar qualquer coisa de um estranho!

- Eu sei mãe é...

- Não tem nada de é! Filho isto é muito perigoso. Prometa para mim que você nunca mais fará isso!

Ozne sabia que não devia falar nem pegar nada de estranhos, nem balas, doces, chocolates nada! Assim como nunca deveria acompanhar ninguém a lugar nenhum. Que no mundo existem muitas pessoas más e que podem machucá-lo ou levá-lo embora para sempre.

- Eu prometo mãe. Desculpe.

- Esta bem. Dei-me ver este livro.

Ela pega o livro aprecia durante alguns minutos encantada com a beleza do objeto e abre. Ozne olhava paralisado esperando o que iria acontecer. Com a respiração presa e os olhos arregalados espera. Mas para sua surpresa nada acontece.

Depois de folhear algumas páginas sua mãe fala:

- Hi filho, este livro esta em branco! Acho que te enganaram. Mas pelo menos você poderá usar para desenhar nele.

Ozne por um momento ficou decepcionado, mas então lembra que sua mãe não havia dito a palavra mágica. Antes que ele pudesse falar qualquer coisa ela fala:

- Agora vá lavar as mãos que seu pai logo irá chegar e nós poderemos jantar. Hoje eu recebi meu salário e teremos até carne. – sorrindo. Vá logo, vamos, vamos.

E assim o garoto fez.

No dia seguinte Ozne acorda cedo. Seus pais já haviam saído para trabalhar e ele novamente esta só em casa. Procura por todos os lados o livro até que o encontra sobre a estante. Mais que depressa coloca em seu colo e com os olhos fechados fala:

- IMAGINAÇÃO!

O livro em seu colo começa a tremer e cai no chão aberto. Ozne olha maravilhado para o livro. Do meio de uma página em branco começa a surgir uma letra, a letra “A”. Mas não escrita. Ela estava viva. Tina pequeninos olhos, uma boquinha, bracinhos e pernas. Ela olha para Ozne e dando pequeninos pulos sorri. O garoto simplesmente maravilhado fala:

- Legal! Quem é você?

- Olá eu sou o AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!

A letrinha dá um grito que faz com que Ozne caia de costas.

- Nossa calma!

- Desculpe é que sou uma vogal e sou forte. – com os dois bracinhos levantados para mostrar seus pequenos músculos.

- Olá sou Ozne.

- Olá Ozne. Vou lhe apresentar meus outros amiguinhos.

Diante dos olhos do menino começam a sair do livro as letras E, I, O, U, todas com suas perninhas e bracinhos. Ozne fica maravilhado enquanto as letras começam a falar correr e pular em sua volta dando risadas.

- Eu sou o EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE!

- Eu sou o IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!

- Eu sou o OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!

- Eu sou o UUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU!

E todas juntas.

- Nós somos as vogais. A, E, I, O, U!

Logo a sala esta repleta de vogais todas correndo e pulando. Era um tal de Ai para cá, Oi para lá, Ui ali, EIA pra lá. Foi então que Ozne percebe parada no canto da sala uma letrinha muito triste e calada. Ela era diferente das outras.

-Hei! Quem é você?

A letrinha meio encabulada. Com a voz bem fraquinha.

- Eu sou o “B”.

- Oi “B”. Porque você esta triste?

- É que meu som é fraquinho. Não é forte como o das vogais. Sou uma consoante.

Ozne fica com pena da letrinha e olhando para as vogais todas sorrindo e pulando e fazendo o maior barulho tem uma idéia.

- O que acontece se eu juntar você com o “A” por exemplo?

- Eu não sei vamos ver!

Ozne chama um “A” que passava pulando por ali e o coloca junto do “B”.

- E agora como vocês se chamam?

Eles sorrindo e abraçados falam muito alto.

- Somos o BAAAAAAAAAAAA! Agora somos uma sílaba!

A letra “B” fica tão feliz que corre chamar seus amiguinhos o C, D, F, G, H, J, K, L, M, N, P, Q, R, S, T, V, X, W, Y,e Z. E fala:

- Agora nós as consoantes com nossas amigas as vogais juntas formamos o ALFABETO.

A sala da casa de Ozne agora esta repleta de letras correndo, pulando para todos os lados. Era um tal de BA, TA, PI, TU, RE, GO, LU para todos os lados. Ouvindo toda aquela barulheira Ozne teve outra idéia.

- O que acontece se eu juntar as sílabas?

Então chama o B+A o C+A e o N+A e pede para que eles falem seus nomes.

- BA+CA+NA! BACANA! – rindo muito.

Foi então que Ozne aprendeu que juntando as sílabas formavam palavras e que brincado com as letras estava aprendendo a ler.

Sorria e pulava junto com suas novas amiguinhas quando um estrondo enorme faz com que sua casa estremecesse. Assustado olha para fora e vê que o céu fica negro como se uma tempestade estivesse se aproximando. Começa a ventar muito e as janelas começam a bater. As letras começam a correr desesperadas para dentro do livro gritando.

- É ELE! ELE NOS ACHOU! VAMOS FUGIR! NOS ESCONDER!

Ozne fica apavorado e antes que uma letra “A” pulasse para dentro do livro a segura.

- O que esta acontecendo? Quem esta chegando?

- É ELE! O MONSTRO DO CHULÉ AMARELO! Ele detesta aprender. Tem raiva das letras e nos aprisionou. Mas a Bruxa do Bem, a velhinha que te deu o livro, conseguiu enfeitiçá-lo e roubar o livro dourado dele. Mas agora ele nos achou! Se esconda. Se ele achar o livro ele irá destruí-lo.

E pula gritando para dentro do livro:

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!

O Mostro do Chulé Amarelo era um ser maligno que não gostava de aprender. Não gostava de estudar, comer verduras nem vegetais, odiava frutas, era mal educado e grosseiro com todos. Como não tomava banho seu corpo era todo coberto de pelos longos e pretos muito sujos. Como não dormia cedo seus olhos eram vermelhos e grandes como brasas. Seu nariz era enorme com uma verruga cabeluda bem na ponta. Como comia de boca aberta, falava palavrões e nunca escovava os dentes sua boca era enorme com dentes pretos grandes afiados e cariados. De tanto comer porcarias sua barriga era enorme toda cabeluda e vivia soltando pum. Como não queria brincar nem fazer exercícios suas pernas eram tortas e atarracadas. Seus pés eram enormes com varias verrugas cabeludas em cima, com as unhas enormes e pretas de tanta sujeira e com um chulé tão forte que até uma fumacinha amarela saía deles.

Ozne corre e se esconde embaixo da cama abraçado ao livro dourado. Fica encolhido perto da parede quando o Mostro do Chulé Amarelo com um soco abre a porta de sua casa. Ozne estremece de medo. O Mostro caminha por toda a casa e com seu enorme nariz procura pelo livro. Ao se aproximar da cama solta um pum que faz um barulho enorme. Ozne tapa o nariz para não sentir o mau cheiro. Mas então o mostro coloca um dos pés embaixo da cama e o chulé é tão forte que o garoto não agüenta e tosse.

Com um golpe violento o monstro arranca a cama de cima de Ozne e com outro golpe muito ágil arranca o livro das mãos do garoto. Ozne apavorado grita:

- Não esse livro é meu! Devolva-me!

O monstro olha para o menino e rindo com seus dentes podres e enormes diz:

- E o que você vai fazer? Você é só uma criança. Eu sou grande. Eu faço o que eu quero e você não pode fazer nada! – rindo zombeteiramente.

Ozne fica muito irritado e sabia que agora que estava aprendendo a ler nunca mais ficaria sozinho. Fica em pé e olhando bem dentro dos enormes olhos vermelhos do monstro fala corajosamente.

- Eu posso ser apenas uma criança e você pode ser grande, mas com minhas novas amiguinhas, as letras, nós podemos te derrotar.

Com um tapa arranca o livro das mãos do monstro que cai aberto. As letras vendo a coragem de Ozne também se enchem de coragem, afinal se um garoto pequeno e doente podia enfrentar o monstro da ignorância elas também podiam. De dentro dele começam a sair muitas, mas muitas letras. Parecia um formigueiro de tantas letras saindo. As letras começam a pular em cima do monstro que assustado tenta se defender, mas a quantidade em cima dele é tanta que ele cai. Logo esta todo coberto de letras. Uma letra “A” encima do monte grita pra Ozne.

- Diga a palavra mágica!

O garoto com toda a força de seus pulmões grita.

- IMAGINAÇÃO!

Do interior do monte de letras começa a aparecer uma luz dourada intensa que vai crescendo até que explode em milhares de raios dourados que iluminam toda a sala. O monstro do chulé amarelo desaparece. Finalmente ele fora derrotado.

As janelas da casa se abrem e os raios de sol invadem a sala. As letras pulam e dançam felizes. Ozne sabia que daquele dia em diante nunca mais estaria sozinho, pois agora com as suas novas amigas as letras e a magia e o poder da IMAGINAÇÃO ele conheceria lugares e mundos incríveis.