A CHUVA E A LÁGRIMA

Eu levava Olívia para a escola em um dia desses, de chuva forte, frio inexplicável do falso inverno carioca.

Como de costume, deveria estacionar e acompanhá-la à fila até a sua entrada em sala de aula, mas a chuva apertava e eu presumia que não conseguiria estacionar a tempo para que não se atrasasse.

Combinei durante o percurso:

- Olívia, quando chegarmos, provavelmente terei que procurar uma vaga. Para você não perder tempo, a deixarei na porta do colégio com o inspetor e tentarei estacionar o carro, ok?

Olívia concordou com um "hum-hum" e ficou pensativa, aquela coisa melindrosa, carinha com biquinho que eu conheço muito bem, há seis anos.

Ao chegarmos à escola, tentei fazê-la cumprir o combinado, mas ela me pediu:

- Ah, vamos procurar uma vaga...

- Mas, você vai se atrasar!!

- Mas, eu quero ficar mais um pouco com você.

Enquanto falávamos, passei da entrada, um carro buzinou atrás, olhei pelo retrovisor, fiz um sonoro muxoxo, passei da pequena vaga e fiquei danada da vida.

- Puxa, boneca, você precisa aprender a entrar na escola sozinha. Outras crianças fazem isso! Você não pode ficar sempre grudada em mim, precisa aprender a fazer algumas coisas sozinha! E se eu morresse? - lancei a frase em tom exagerado - E quando eu não estiver mais aqui?

Daí, veio a resposta que me desarmou:

- Puxa! Então... Quero aproveitar!!

Desceu uma lágrima...

Calei-me! Senti vergonha do que disse...

Demos outra volta no quarteirão em silêncio, estacionamos, descemos do carro.

Ela me olhou com um sorriso e, abraçadas, entramos na escola.

Daniela Pucu
Enviado por Daniela Pucu em 09/09/2006
Reeditado em 23/01/2018
Código do texto: T236343
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2006. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.