O GIGANTE DO LAGO





Era até então uma cidade desconhecida do sertão nordestino, por lá, a vida passava devagar, poucos recursos, poucos empregos, a maioria das pessoas eram sitiantes. As crianças tinham que andar alguns quilômetros para chegar ao colégio e quando retornavam, costumavam vir em grupos. Nos dias mais quentes iam até o açude da cidade, ainda que, seus pais pedissem que não tomassem banho por lá. Mas, criança quando vê algo que é proibido aí que quer mesmo experimentar.

Era um dia de sol escaldante ao passar pelo açude já se havia andado pra mais de três quilômetros e até Antônio o mais obediente de todos, não resistiu aos apelos dos amigos e do corpo suado de tanto calor.

Todos brincavam na beira do açude isso ninguém ousava desobedecer, pois, havia na cidade, talvez de modo a amedrontar as crianças, uma história que aquele açude era muito fundo diziam também os mais velhos, que um sapo gigante devorador de crianças morava nas profundezas de suas águas. Isso sem dúvida fazia que, se alguma criança quisesse entrar no açude, não tivesse coragem de avançar além de suas margens.

Eram por volta das onze e trinta horas, todos muito risonhos felizes de verdade por estarem ali, refrescando-se daquele calor. De outra forma havia por todos, olhares como quem procurasse alguma coisa diferente e foi num desses procurar que Antônio ouve um som irritante, assustado se vira para o açude e algo enorme o puxa de uma só vez para o fundo desaparecendo nas águas, a olhos arregalados.

Todos correm para fora do açude, todos com exceção de José, irmão mais velho de Antonio. José se joga imediatamente nas águas e ainda pode ver seu irmão sendo puxado por algo que não conseguiu identificar. José consegue segurar um dos braços do irmão e num ato que não se explica, o arrancou da boca do vai se saber lá, o quê. Traz Antônio até a superfície e com ajuda de outro amigo conseguem sair do açude.

Ao retornarem à cidade com Antônio apoiado em dois dos seus amigos, os moradores correram para saber do acontecido. Ao relatarem os fatos, as crianças perceberam que as pessoas estavam mais assustadas do que elas próprias. Os adultos se olham, como se perguntassem o que teria puxado o menino para o fundo, uma vez que, aquela história de sapo gigante fora mesmo inventada por alguém no passado para impedir que as crianças do lugarejo morressem afogadas no açude.

Naquela tarde, reuniram-se no armazém do seu Abílio de modo discutirem o que poderia ter ocorrido. Um dos pais levantou a hipótese de ser algum jacaré-açu, teve também quem dissesse que talvez fosse alguma preguiça gigante. Mas, logo as possibilidades foram descartadas, pois, o menino não apresentava nenhuma lesão de presas ou garras nas pernas. Decidiram então que, enquanto não fosse desvendado o mistério nenhuma pessoa, criança ou adulto entrariam nas águas daquele açude.

Havia-se passado uma semana do fato e ninguém conseguia resposta para aquele acidente com Antônio. As crianças apavoradas
Não queriam mais ir para a escola, pois que para isso, teriam de passar à beira do tal açude.

Sem solução o pai de Antônio, resolve escoar as águas do açude através de abertura feita numa de suas margens e que por força da gravidade levariam aquelas águas para outro açude em nível mais baixo do que aquele, porem, com capacidade suficiente para comportar o somatório das águas dos dois açudes.

Qual não fora a surpresa, na lama do leito do açude podia-se ver uma quantidade de peixes morrendo por não conseguirem acompanhar as águas que estavam sendo transportadas. Juntaram-se então cerca de dez homens todos armados de foices, facões a mapear pedaço por pedaço do fundo enlameado do açude. Nada fora encontrado, entretanto, minutos antes de saírem daquela lama ouve-se por entre a rara vegetação, um ruído aterrorizante. Ninguém dos que estavam presentes teve coragem de entrar mato adentro para elucidar o problema. Ninguém menos José, irmão mais velho de Antônio que o salvou da boca do monstro.

Não podemos deixar as coisas como estão, as crianças não vão mais a escola, ninguém sai de casa nem mesmo para brincar. Pai, diz José, temos de achar o animal que puxou meu irmão para o fundo das águas e todos concordaram que José tinha razão. Embrenharam-se pela vegetação, seguiram as grandes pegadas e já no anoitecer encurralado, encontram o sapo gigante.

Era um animal de seus vinte e cinco quilos enorme, gordo e parecia estar exausto. José o mais corajoso de todos se aproxima do animal que não lhe transmitiu algum tipo de risco, olhou nos olhos do bicho e percebeu que aquilo que acontecera com seu irmão fora apenas um acidente, pois, aquele animal além de ser um comedor de insetos, não possuía tamanho suficiente para comer uma pessoa nem mesmo uma criança. Mas mesmo assim, decidiram que teriam de apresentar no lugarejo, o corpo daquele sapo gigante e partiram para o extermínio.

Entretanto, José estava decidido em preservar a vida do sapo e teve uma ideia brilhante. Por que ao invés de matá-lo não o levamos e mostramos para todos que o sapo gigante não é tão grande assim e, não traz algum tipo de perigo para a população. Assim, se desfez a lenda do sapo gigante e o bichano fora criado como mascote e atração turística daquela pequena cidade.






Paulo Cesar Coelho
Enviado por Paulo Cesar Coelho em 15/07/2010
Código do texto: T2378902
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