O macaco cacareco.

Para Cacareco! Cuidado Cacareco! Segurem o Cacareco! Cacarecoooooo! E assim vivia o Cacareco, fazendo estrepolias o dia todo, quebrando objetos, puxando o gato pelo rabo, montando nas costas do cachorro, arrancando as roupas do varal, derriçando as jabuticabas verdes do pé. Era um furacão! Quem vê o Cacareco com toda essa energia, tão sapeca, não imagina como tudo começou. Foi numa manhã fria quando o Sr. Pepe ia pela estradinha com sua carroça prá buscar cana para triturar e dar para o gado, pois era época de estiagem e o pasto estava seco demais necessitando assim complementar o alimento do gado com ração e cana. E lá ia o Sr. Pepe absorto em seus pensamentos quando avistou na beira do capão de mato, perto do canavial um bando de urubús disputando uma carniça e curioso foi ver o que era, pois sendo dono do sítio não estava sabendo da morte de nenhum animal e ao aproximar-se, as aves fedorentas largaram o banquete, voaram baixo e pousaram mais adiante na expectativa de voltarem em seguida. Quando o Sr. Pepe se aproximou viu que se tratava de um macaco, já bem decomposto e tapando o nariz já ia saindo quando percebeu um movimento numa moita de colonhão alí perto e curioso foi ver o que era, e foi aí que ele viu, uns olhinhos assustados tentando se esconder. Era um macaquinho tão pequeno, tão frágil, debilitado, pois devia estar alí a muito tempo esperando a mãe se levantar e cuidar dele, o que nunca acontecia. A noite ele dormia ecostado nela, apesar de ela estar fria e malcheirosa e de dia quando os urubús chegavam ele escondia-se na moita de colonhão e foi assim que o Sr. Pepe o encontrou naquela manhã e penalizado o recolheu, sob os protestos do macaquinho que guinchava e tentava escapar. Não tendo como segura-lo o Sr. Pepe o colocou dentro de um saco de estopa que estava lá na carroça e seguiu para o canavial , pois tinha trabalho a fazer. Na volta , depois de descarregar a carroça ele viu o saco e lembrou-se do macaquinho e então indo para dentro da casa chamou sua esposa e disse: Fina, vem vê o que eu achei lá perto do capão! Óia só! É um macaquinho, a mãe dele tava morta, provavermente levou tiro de argum caçadô marvado. Que dó! disse Fina abrindo o saco, coitadim é muito piquininho, não vai vingá, mais dexa eu embruiá ele numa cubertinha e vê se ele bebe um poquinho di leite. Que judiera sô, onde já si viu dá um tiro na mãe, cum fiotinho tão indefeso assim! Mas por mais que tentasse Fina não conseguia fazer o macaquinho se alimentar, ele travava a boca toda vez que ela oferecia leite numa colherinha, e nem banana cortada em pedaços bem pequeninos ele comia. Ele não abria a boca! O que fazer? Foi aí que Fina teve a idéia ao ver a gata Malhada que tinha acabado de ter filhotes e assim que a Malhada foi para o cafôfo dela para alimentar os filhotes, Fina colocou o macaquinho junto dos gatinhos e o incentivou a sugar o leite da malhada. E não é que deu certo! O bichinho grudou na teta da Malhada e ela desconfiada cheirava aquele filhote diferente dos outros, mas logo se acostumou com ele e o tratava igual aos outros, inclusive dava banho de língua. O tempo foi passando e os filhotes cresceram, ficaram fortes, inclusive Cacareco, esse foi o nome que deram ao macaquinho "Cacareco", mas Cacareco era o único filhote que não largava a gata por nada, estava sempre encarapitado nas costas dela, muitas vezes deixando-a muito irritada. Ainda bem que só o Cacareco fazia isso, já imaginaram se os quatros gatinhos tambem se encarapitassem em cima dela? Coitada da Malhada! E assim o tempo foi passando, os filhotes da Malhada cresceram e foram doados e só ficou o Cacareco que era o xodó da casa. Ah, o Cacareco era o rei do pedaço, subia nas árvores, subia no telhado, pulava nos ombros de Pepe e Fina e pegava fogo quando os netos deles vinham da cidade para passar uns dias no sítio, aí era um pandemonio, era criança gritando, cachorro latindo, galinha cacarejando, gato miando e o Cacareco guinchando. Mas o tempo passou e Cacareco tornou-se um macaco adulto, começou a sair para mais longe da casa, as vezes desaparecia por horas e por fim aparecia vindo lá do capão de mato, as vezes entrava nas casas dos sítios vizinhos apavorando as pessoas e quando alguém queria pega-lo ele defendia-se tentando morder, e que dentes afiados ele tinha! Com o passar do tempo, cansados de ouvirem reclamações dos vizinhos, Pepe e Fina chegaram à conclusão que Cacareco não podia viver mais solto alí no sítio, pois era um animal selvagem, tambem não podia ser largado no mato, pois sozinho não sobreviveria. O que fazer? Á princípio o amarraram com uma corda no tronco de uma árvore e ele simplesmente roeu a corda e escapou, depois o colocaram num galinheiro desativado e ele fugiu pelo telhado. Cacareco estava cada dia mais arteiro, agora entrava na horta e rolava em cima das verduras, arrancava as berinjelas, os tomates, gilós, pimentões e jogava tudo para os porcos. Pepe e Fina não sabiam mais o que fazer, até que um dia ao conversar com o mascate, que vinha a cada quinze dias trazendo novidades para vender, comentaram a situação de Cacareco, e Salim, o mascate disse que sabia de um lugar onde eram recolhidos animais selvagens onde seriam reabilitados para voltarem à natureza e mais do que depressa Pepe entrou em contato com os responsáveis pelo Centro de Reabilitação Selvagem e logo veio uma equipe para apreender Cacareco, o que foi muito fácil, foi só chamá-lo pelo nome, jogar uma penca de bananas na pequena jaula e lá estava ele espatifando as bananas, mas se assustou quando viu a porta se fechar e dalí só sairia quando chegasse ao Centro de Reabilitação, o que não era nada mau, pois era um lugar amplo, com muitos macacos, alguns da espécie de Cacareco, onde ele poderia enfim aprender macaquez para ser solto com seus semelhantes no seu habitate. Pepe e Fina sentem muita falta de Cacareco, mais sabem que fizeram o melhor para ele, pois animal selvagem tem que viver livre na natureza, e a macacada que aguente as macaquices de Cacareco!

Madaja Dibithi
Enviado por Madaja Dibithi em 21/08/2010
Reeditado em 04/09/2010
Código do texto: T2451341