AMOR AO PRIMEIRO LATIDO*

Tatá era uma cadelinha muito mimada por sua dona, Lili. Era branquinha, branquinha, de pêlos bem fofinhos, mais parecia uma ovelhinha.

Todos os dias Tatá saía para passear na calçada da Praça Batista Campos.

Todos os cachorros da praça sonhavam namorá-la, pelo menos receberem um olhar de Tatá. Ela, porém, não dava “bola” para nenhum deles. Só queria saber de desfilar, a cada dia, um novo modelito, preparado com muito carinho por Lili. Pensava: - Hoje vou com meu chapéu de palha e a coleira branca para combinar com meu vestido de bolinhas pretas; amanhã usarei aquele lacinho azul com o vestido de rendas ...

E lá ia para mais um passeio vespertino, esbanjando charme e sempre chamando a atenção dos cães ali presentes. As outras cadelinhas sentiam inveja de Tatá, pois quando passava os cães só tinham olhos para ela. Tatá nem ligava para os comentários das cadelinhas. Passava sempre faceira ao lado de sua dona.

Certa vez, em mais um dia que parecia normal para ela, aconteceu o inesperado. Tatá viu um cãozinho que nunca percebera antes. O coração da cadelinha acelerou de repente; ela parou por um instante e começou a contemplar aquele novo cachorrinho na praça. Lili, porém, começou a puxá-la e ela teve que seguir adiante.

Naquela noite Tatá não conseguiu dormir direito; só pensava no cãozinho que avistara pela tarde. Nunca esperara com tanta ansiedade pela hora do passeio. Desta vez capricharia ainda mais no visual.

Naquele dia, no entanto, o cãozinho não apareceu. Tatá ficara desolada. À hora do jantar, Lili estranhou o fato de Tatá nem tocar na comida.

Pela manhã, logo cedo, foi levada a uma clínica veterinária. Nada de anormal foi detectado. O mal de Tatá era no coração.

À tarde latia insistentemente, mostrando a Lili a porta da rua, demonstrando-lhe que já deveriam sair para o passeio.

Mais uma vez voltava decepcionada. O cãozinho não aparecera novamente.

Tatá não conseguia mais se conter de tanta tristeza. Agora, além de não querer comer, também se punha a ganir, como se estivesse chorando. Lili não sabia mais o que fazer.

Tatá só conseguia se espertar na hora do passeio. O cãozinho durante cinco dias não deu as caras.

Tatá era já a personificação da tristeza. Aquele sábado, contudo, seria o seu grande dia. Logo que chegou à praça, avistou, de longe, o cãozinho vira-latas. Seus olhos brilhavam de felicidade. Puxou Lili em direção ao cãozinho. Lili entendera tudo. Embora não ficasse muito satisfeita em saber que Tatá se apaixonara por um vira-latas, não fez objeção.

O cãozinho correspondeu aos sentimentos de Tatá e começaram um lindo namoro.

* COSTA, LAIRSON. INSANIDADES, Belém: L & A Editora, 2002