UM NATAL DE ALEGRIA

A maioria das pessoas precisa ouvir palavras de carinho e há vezes em que essas palavras são ditas no exato momento em que o desespero quer se instalar na alma. Por isso, crianças, eu vou contar a história de um desses momentos.

Numa cidade da Europa, onde a neve cai no natal, morava uma família composta de pai, mãe e três filhos. O menino mais velho era esperto e muito observador. Na semana do natal parecia que o céu tinha resolvido despejar nas ruas toda a neve acumulada. O frio era intenso e as crianças não podiam sair às ruas para brincar.

O pai do menino organizava trabalhos para manter as crianças ocupadas.

- Crianças – dizia ele -, vão embalar os presentes dos velhinhos do asilo.

E a algazarra começou com as crianças apostando quem terminaria primeiro. Findaram o serviço com todos os pacotes acomodados na enorme sacola de tecido. O jantar estava pronto, mas a mãe das crianças, mesmo com a nevasca, atravessou a rua para visitar o vizinho, um senhor de mais de setenta anos que morava só e não estava bem de saúde.

- Eu penso que o mal do nosso vizinho é a solidão. Ele não fala da família. Não sei se tem filhos, esposa ou outro parente qualquer. – comentava a mulher.

- Ora, mamãe, por que não perguntou.

- Não quero que ele pense que estou me intrometendo em sua vida.

Já estávamos no dia 23 de dezembro quando o tempo deu uma melhorada. Apareceu um sol fraco que não aquecia nada nem ninguém. Foi o suficiente para as crianças saírem de casa para fazer boneco de neve e patinar na rua congelada. A casa do vizinho continuava fechada. Será que o homem não viu o sol? Perguntava para si mesmo o menino mais velho. Foi então que lhe veio a ideia. Chamou os irmãos e juntos começaram a fazer um grande boneco de neve no jardim do vizinho. O boneco ficou pronto. Gorro vermelho na cabeça, cachecol no pescoço e os dois braços de gravetos pareciam querer abraçar a casa do velhinho.

Dia 24 de dezembro. A manhã era de um sol brilhante e um pouco mais quente. A neve no chão já dava mostras de lento derretimento. A casa do velhinho continuava fechada.

- Puxa! E eu pensei que ele gostaria do boneco que nós fizemos pra ele! – disse o menino mais velho à sua irmãzinha com um quê de tristeza na voz. De repente a porta da frente da casa do velhinho se abriu. Ele olhou para o boneco no jardim e disse emocionado.

- É o mais lindo boneco que já tive no meu jardim desde que o meu filho desapareceu.

O velhinho começou a falar sobre o filho desaparecido.

- Foi por conta da separação. Depois que eu e minha esposa nos separamos, ela levou meu filho e nunca mais eu tive notícias dele.

O menino perguntou:

- O senhor acredita em Deus?

- Ah, meu filho! Acho que ele não gosta de mim. Eu pedi, pedi tanto, mas ele não me atendeu.

- O senhor não pode perder a fé. O tempo de Deus não é igual ao nosso. E tem mais: talvez não fosse a hora certa, por isso Deus não atendeu aos seus pedidos. O senhor pode me dizer o nome do seu filho e a idade dele? Também preciso saber o seu nome completo.

De posse das informações, o menino se despediu do vizinho e entrou em casa ainda ouvindo os agradecimentos pelas palavras de conforto. Correndo para o seu quarto, ele sentou-se diante do computador e num site de busca digitou o nome do menino desaparecido. Foram longos minutos de busca. Quantos nomes iguais! Estava quase desistindo quando clicou no último Adam Smith da lista, esse era da cidade de Windsor, na Inglaterra. Mandou mensagem e ficou aguardando a resposta.

Dia 25 de dezembro, dia de Natal. As crianças acordaram cedo. O menino mais velho ligou o computador para ver se havia a resposta esperada. Desceu as escadas correndo para se juntar aos irmãos e abrir os seus presentes. A irmã notou uma diferença nele. Ele tinha um brilho nos olhos e um sorriso disfarçado no rosto. A menina não disse nada. Só ficou olhando para o irmão. E continuaram a abrir pacotes ao som de muitas risadas e gritinhos de alegria. Um barulho de carro e um falatório chamaram a atenção do menino.

- Papai, eu o procurei todos esses anos e nunca consegui descobrir onde você vivia até ontem quando recebi uma mensagem no meu computador. – dizia o rapaz chorando e abraçando o velhinho.

- Vovô! Gritavam simultaneamente o casal de crianças.

Com o rosto colado no vidro da janela da sala, o menino viu o vizinho entrar acompanhado do filho, da nora e dos netos. Agora ele não sofreria mais de solidão. E o menino murmurou.

- Esse é o tempo e a hora certa... Feliz Natal!

20/12/10

(histórias que contava para o meu neto)