OS CINCO IRMÃOS CHINESES (POEMA)

OS CINCO IRMÃOS CHINESES I (17/5/11)

Na China havia cinco irmãos chineses:

não eram gêmeos, mas muito parecidos;

por isso eram facilmente confundidos

os seus sorrisos levemente arcanos...

Quando crianças, é claro, muitos meses

de diferença de idade, a sua altura

os distinguia, mesmo nessa raça pura,

mais numerosa que os demais seres humanos.

Eles moravam junto ao Mar da China

e o sobrenome que usavam era Li,

colocado antes do nome, pois ali

são diferentes os usos e costumes...

Depois de adultos, ainda era pequenina

a sua estatura, comum nesse país.

Todos iguais ficaram, como quis

essa genética sem variados gumes.

Porém os Lis eram filhos de um dragão,

benevolentes criaturas nessas lendas

dos povos orientais; diversas sendas

que as trilhadas na ocidental mitologia.

Sob as águas, os dragões humanos são

e ali respiram sem maior dificuldade.

Se convidassem um humano de verdade,

a visitá-los, mal algum ele sofria...

OS CINCO IRMÃOS CHINESES II

A mãe dos Lis, chamada Li Shinzen,

saíra um dia a tomar banho de mar...

Um belo moço viu se aproximar,

caminhando sobre as águas, sobre-humano.

E nessas coisas que à memória vem,

que era um dragão teve total certeza.

Mas era um jovem de tanta beleza

que enamorou-se de um amor insano...

O dragão a recolheu, em seu abraço

e a carregou para seu lar marinho.

No casamento, mostrou grande carinho,

mas precisou partir para uma guerra.

Seu marido alçou voo pelo espaço

e a transportou, com o maior cuidado,

batendo as asas, em ritmo compassado,

deixando-a sã e salva sobre a terra...

E embora parecessem muitos meses,

voltava à praia nesse mesmo dia

em que chegara à encantada moradia,

carregada de presentes para os pais...

E conforme o costume dos chineses,

os seus pais aceitaram o pagamento

e consentiram no seu casamento,

sem apresentarem objeções demais.

OS CINCO IRMÃOS CHINESES III

E tão logo aquela guerra terminou,

para buscá-la voltou o seu dragão.

Na praia se reuniu a multidão,

enquanto os dois partiam para o mar.

Logo depois, Li Shinzen engravidou

e teve um filho, que chamou Li Tchang:

meio dragão, metade humano sangue,

mas sem nada de dragão aparentar.

Passou-se o tempo e seus irmãos vieram,

Li Tcheng e Li Tching, belos e saudáveis,

Li Tchong e Li Tchung, educados e razoáveis,

entregues aos cuidados dos avós.

Mas no palácio do pai nunca estiveram,

porque ele achava que não havia segurança

para criar sob o mar uma criança,

já que o fundo é perigoso para nós...

Mas Li Shinzen passava ali todas as noites;

depois suas asas iridescentes ele abria

e para a terra diariamente a conduzia,

onde a deixava em plena segurança...

Mas vieram tempos maus, com seus açoites

e numa guerra contra os tubarões,

convocou-se toda a tropa dos dragões:

do resultado havia muita insegurança...

OS CINCO IRMÃOS CHINESES IV

Para uma aldeia distante, Li Shinzen

foi com seus cinco filhos transportada.

Num bom chalé de madeira foi instalada,

que lhe comprara antes o marido.

O dragão determinou-lhe que em ninguém

confiasse, porque a raça de inimigos

tinha também sobre a terra seus abrigos

e um aspecto humano adquirido.

Era uma casa grande e bem cuidada,

mas o dragão recomendou a Li Shinzen

que nunca revelasse para alguém

dos filhos que possuía a quantidade.

E assim, a precaução foi conservada:

os cinco irmãos não se mostravam juntos;

cada um tratava os seus próprios assuntos,

sem despertar em ninguém curiosidade.

E o povo dessa aldeia acreditou

que Li Shinzen era viúva e um filho só

possuía, o que a muitos dava dó:

famílias grandes apreciavam os chineses.

Mas Li Shinzen tampouco convidou

para sua casa qualquer uma pessoa,

pois não sabia se era má ou se era boa.

E, lentamente, se passaram muitos meses...

OS CINCO IRMÃOS CHINESES V

Os meninos cresceram bem depressa,

mas sem ficarem altos muito mais

que seus vizinhos de origens naturais

e assim, não chamavam a atenção.

Mas de gastar dinheiro não se cessa...

Foi terminando o ouro de seu pai,

pois este nada mais trazer-lhes vai,

após ser morto por um tubarão...

Assim, foram buscar o seu sustento,

cada qual segundo a própria aptidão

e em lugares separados, porque não

podiam dizer quantos eram. Na verdade,

no começo, nem sequer entendimento

do comando de seu pai dragão

eles tinham, sem saber qual a razão:

só obedeciam, respeitando sua vontade.

E como junto ao mar eles cresciam,

Li Tchang fez-se logo um pescador;

Li Tcheng, ao contrário, foi pastor

de cabras, bem no alto da montanha.

Li Tching, que os vizinhos nunca viam,

tornou-se lenhador; e bem ligeiro

Li Tchong aprendeu a arte de ferreiro

e Li Tchung foi morar em terra estranha.

OS CINCO IRMÃOS CHINESES VI

Logo Li Tchung aprendeu artes marciais:

montava guarda para os mercadores;

das caravanas era um dos protetores

e só aparecia em casa raramente...

Mas uma coisa que ninguém sabia mais

é que haviam herdado alguns poderes

de seu pai, que os ajudavam nos deveres:

cada um possuía um dote diferente!...

Li Tchang se tornara pescador,

porque podia engolir a água do mar,

como seu pai fazia, ao ir passear

pelo fundo, braço dado com Shinzen...

E Li Tcheng decidira ser pastor

porque não precisava respirar,

durante horas e horas, sem parar,

e nas alturas se dava muito bem...

O pescoço de Li Tching era de ferro,

que pintava com tinta cor de pele,

ou enrolava um lenço sobre ele,

para que a cor ninguém estranhar fosse.

E é com Li Tchong que esta estrofe encerro,

pois nunca ele podia se queimar

e o pior fogo conseguia suportar:

o ferro em brasa lhe parecia doce...

OS CINCO IRMÃOS CHINESES VII

Porém Li Tchung tinha o dom de mais valor,

por que ele era totalmente invulnerável,

por madeira e por metais impenetrável:

como disfarce, cota de malha usava

e até duas luvas, mesmo no calor...

Mas como as armas empregava muito bem

era difícil tocar nele também

e nos combates sempre triunfava!...

Assim viviam os cinco irmãos chineses,

cada qual com sua própria profissão;

nenhum contava possuir qualquer irmão,

obedecendo ao conselho paternal...

E como eram diferentes seus fregueses,

ninguém havia notado a semelhança,

mesmo porque, entre aquela gente mansa,

se misturavam de modo natural...

Li Tchang era quem mais a gente via,

ao vender os seus peixes no mercado.

Li Tcheng raramente era enxergado:

dormia à noite junto a seu rebanho.

Li Tchong junto à forja adormecia,

Li Tching construíra uma cabana

no meio da floresta; e a caravana

Li Tchung acompanhava: nada estranho!...

OS CINCO IRMÃOS CHINESES VIII

Saía Li Tchang em plena madrugada,

com quatro cestos e a rede de pescar.

Ninguém pensava no escuro o acompanhar:

todos temiam os espíritos da noite...

Chegava à praia com a treva ainda fechada

e se ajoelhava para beber o mar;

depois os peixes que queria ia buscar,

sem temer dos maus espíritos o açoite...

Assim, já estava mesmo a retornar

quando chegavam os outros pescadores,

que nutriam por isso alguns rancores,

já que sua pesca sempre era a melhor.

E seus clientes já estavam a esperar:

depressa ele vendia todo o peixe

(embora sempre alguns em casa deixe

para sua mãe, com respeitoso amor).

Alguns de seus colegas pescadores

que ele era meio bruxo murmuravam,

sem qualquer prova do que suspeitavam,

ou evidência que pudessem mencionar.

Li Tchang bem sabia dos rancores

que nutriam seus colegas invejosos,

mas distribuía alguns peixes bem gostosos

entre as pessoas mais pobres do lugar.

OS CINCO IRMÃOS CHINESES IX

Durante o dia, ficava a descansar

e um de seus irmãos aparecia,

cortava lenha, na horta remexia,

ou fazia consertos no telhado.

E assim, ninguém podia desconfiar

que em sua família um outro irmão houvesse.

Li Shinzen ia no templo fazer prece

e distribuía outras esmolas com cuidado.

Porém aquela aldeia fazia parte

da província de poderoso mandarim,

que tudo decidia, pois assim

lhe autorizava o velho Imperador.

O Mandarim governava até com arte,

sabedoria mostrava e era benquisto;

seu filho Wang, ao contrário, era mal-visto,

por beber muito, ser brigão e jogador.

Um dia, escutou numa taverna

a conversa daqueles pescadores

que nutriam por Li Tchang tais rancores

e achou muito intrigante esse mistério.

Nos maus espíritos decidiu passar a perna.

Bebeu bastante, para criar coragem

e saiu tropeçando da estalagem,

porque os boatos tinha levado a sério.

OS CINCO IRMÃOS CHINESES X

E assim, foi cambaleando até a praia,

orientado pelo som da maré alta;

a pouca luz nem lhe fazia falta

e foi descendo, devagar, até o oceano.

Já da espuma da maré recuava a saia

e numa duna de areia se escondeu.

em pouco tempo Wang adormeceu,

até esquecido do misterioso arcano.

Mas com o som de passos, despertou:

era Li Tchang... E só por um momento,

não conseguiu coordenar o pensamento,

até que percebeu o pescador...

Num silêncio total se conservou,

bem escondido por baixo de seu manto,

mas logo foi tomado pelo espanto,

quando a Lua surgiu, em seu palor...

E então viu como o mar era engolido

pelo rapaz, contra as ondas agachado.

Pensou primeiro que se havia enganado,

pois nos seus olhos nem podia acreditar...

Imaginou ainda estar vencido

por alucinações da embriaguez...

Porém, quando mais clara a luz se fez,

ele se ergueu e pôs-se a caminhar.

OS CINCO IRMÃOS CHINESES XI

Li Tchang se assustou ao ver chegar

esse rapaz que logo o foi interrogando,

sobre que forma estava o mar recuando,

porém Li Tchang não podia responder

e por senhas tentou tudo explicar

e o rapaz procurou ir afastando,

porém Wang foi dele se esquivando,

do mar querendo as maravilhas conhecer...

Ora, Li Tchang não conseguia reter

o mar por muito tempo na barriga...

Mesmo que a água no horizonte, sua inimiga,

já começava os vazios a preencher.

De fato, o seu costume era o de encher

os quatro cestos e sair rapidamente.

O mar soltava num jorro mais potente

e logo o fundo tornava a se esconder...

E nem ao menos conseguia falar!...

Sua boca estava inteiramente cheia dágua!

E o rapaz não dava bola para a mágoa

que o pobre do Li Tchang ali sentia!...

Porque a pressão aumentava sem parar,

sua barriga estava cheia e até o pulmão!

Já tinha água até no coração:

ninguém consegue imaginar o que sofria!...

OS CINCO IRMÃOS CHINESES XII

Corria atrás, tentando pegar Wang,

mas o rapaz era magro e bem mais leve,

Tchang estava pesado. E quem se atreve

a correr muito, com tanta água na barriga?

Wang estava com mais álcool do que sangue

em suas veias e, além disso, seduzido

pelas belezas que o mar tinha trazido:

corais e conchas da mais formosa liga!...

Li Tchang apontava o horizonte,

em que ondas furiosas se empilhavam,

tinha pena dos animais que sufocavam,

sem ter mais água para respirar!...

(Sente medo que a luz do Sol desponte!)

Em breve chegariam pescadores

e Wang, a piorar os seus temores,

não cessava da praia a se afastar!...

Assim fazia todo o tipo de sinais,

mas o rapaz viu um barco naufragado

e nele entrou, sem o maior cuidado,

não lhe dando qualquer tipo de atenção.

Li Tchang não conseguiu aguentar mais

e o mar inteiro de volta ele soltou...

O imprudente deste modo se afogou,

enquanto as águas voltavam de roldão!...

OS CINCO IRMÃOS CHINESES XIII

Li Tchang se sentiu desesperado:

nadou até o navio e mergulhou;

o corpo do rapaz assim tirou,

mas o infeliz já havia se afogado...

Deixou na praia todo o seu pescado;

o morto em seu carrinho colocou

e para a aldeia depressa o transportou,

sem nem saber quem era esse coitado!

Mas no caminho de volta, já encontrou

os outros pescadores. O rosto olharam

e nem por um instante duvidaram

de que era o filho do velho Mandarim!

Li Tchang ainda mais se apavorou:

apenas disse que o corpo havia encontrado,

fora a maré que à praia o havia jogado...

Como a verdade iria contar, enfim?

Quem o iria acreditar? E nessa hora,

os outros pescadores combinaram

uma história mentirosa e o acusaram

de ter o tal rapaz assassinado!...

Amarraram Li Tchang, sem demora

e o levaram dali ao tribunal...

O Mandarim tomou a coisa a mal:

era seu filho que havia se afogado!...

OS CINCO IRMÃOS CHINESES XIV

E por mais que Li Tchang se defendesse,

foi julgado bem depressa e condenado:

daí a dois dias ele seria enforcado!...

E assim foi encarcerado na prisão...

Como a notícia veloz assim corresse,

desceu Li Tcheng depressa da montanha

e combinou com a mãe uma artimanha;

mandou um recado depressa a seu irmão!

No outro dia, ele rogou ao Mandarim

que permitisse de sua mãe se despedir.

O Mandarim imaginou que ia fugir

e o enviou até em casa bem cercado

por uma escolta, porque julgava assim,

que ele se escapar não poderia...

Com uma dúzia de soldados lá seguia

o pobre Li Tchang, muito bem atado!...

A casa foi cercada pela escolta

e deixaram que ele entrasse desatado.

Tiveram pena do pobre condenado:

que abraçasse sua mãe mais à vontade!

Tantos soldados parados pela volta,

nem haveria um jeito de escapar...

Chorando, entrou Li Tchang, para abraçar

a sua mamãe, com maior intimidade...

OS CINCO IRMÃOS CHINESES XV

Mas daí a meia-hora, quem saiu

foi Li Tcheng e o irmão ficou escondido.

Foi amarrado também e conduzido

de volta à mesma cela, na prisão.

No outro dia, quando o Sol surgiu,

Li Tcheng até a forca foi levado,

onde ficou o dia inteiro pendurado,

mas sem jamais sofrer sufocação!...

Que fosse libertado, reclamou

todo o povo reunido ali na praça.

Mas o Mandarim não concedeu a graça:

mandou trancá-lo de volta na prisão!

E nessa noite, de novo o condenou

a ser decapitado no outro dia...

Mas Li Tcheng novo rogo lhe fazia:

não que esperasse obter o seu perdão...

Só queria dar na mãe o último beijo...

O Mandarim concordou e no outro dia,

amarrado e escoltado ele seguia,

para poder da mãe se despedir...

Cercada a casa para o novo ensejo,

entrou Li Tcheng, já desamarrado.

Mas acontece que Li Tching havia voltado,

para de novo seu irmão substituir!...

OS CINCO IRMÃOS CHINESES XVI

No outro dia, a espada se entortou;

por mais golpes que levasse do carrasco,

seu pescoço resistiu: foi um fiasco!

De novo o povo reclamou, sem medo,

mas o Mandarim somente transformou

a sentença anterior: seria agora

queimado na fogueira, sem demora,

no outro dia, de manhã bem cedo!...

Mas Li Tching suplicou ao Mandarim

para abraçar sua mãe mais uma vez...

O Mandarim não desconfiou e fez

que fosse até em casa conduzido!...

Mais uma troca aconteceu assim:

Li Tching entrou em casa; e em seu lugar,

saiu Li Tchong, fingindo até chorar,

enquanto a mãe soltava outro gemido...

Amarraram o Li Tchong numa estaca

e então prenderam fogo na fogueira!

A labareda ergueu-se, bem certeira,

mas só a roupa de Li Tchong se queimou.

Achando que a fogueira estava fraca,

o Mandarim mandou botar mais lenha!

Mas por mais que esse fogo a queimar venha,

Li Tchong nem ao menos se empolou!...

OS CINCO IRMÃOS CHINESES XVII

O Mandarim nem assim se comoveu...

Mas tinha medo de feitiçaria:

mais uma vez a escolta conduzia

Li Tchong à mãe, para se despedir!

E o rapaz num canto se encolheu,

enquanto saía Li Tchung, seu irmão,

embora não soubesse de antemão

qual a sentença que lhe estava por vir...

E a ordem foi para que fosse apedrejado!

Mas as pedras não causaram mal algum,

não se quebrou, não sofreu talho nenhum,

porque Li Tchung era o irmão invulnerável!...

E o Mandarim determinou fosse afogado,

do mesmo modo que o filho seu morrera!...

Mas temendo a revolta que já ocorrera,

se despedir mais uma vez deixou...

E Li Tchung entrou em casa e se escondeu,

saiu Li Tchang de novo, em seu lugar...

E por mais que tentassem-no afogar,

ele voltava à tona e respirava!...

O Mandarim, enfim, se arrependeu:

aquele homem dos deuses protegido

não poderia ter o crime cometido...

E o povo inteiro seu perdão ja reclamava!...

OS CINCO IRMÃOS CHINESES XVIII

Então mandou prendeu os pescadores

que o haviam acusado injustamente

e a cada um deu um castigo diferente.

O primeiro, ele mandou ser enforcado

e morreu esperneando, em estertores;

do segundo, o pescoço foi cortado,

o terceiro na fogueira foi queimado

e o quarto bem depressa apedrejado...

O quinto foi levado até o mar

e se afogou, sem qualquer dificuldade.

Decidiu o Mandarim que, na verdade,

os assassinos tinham sido castigados!...

Deu permissão a Li Tchang para voltar,

mas Li Shinzen pôs logo a casa à venda,

em noite escura tomaram longa senda:

os cinco irmãos nunca mais foram achados!

Foram morar em um país distante,

situado bem além do Mar da China!...

E ninguém soube realmente a sina

que teve essa família tão estranha...

Dizem alguns que nada interessante

aconteceu depois... Eles casaram,

tiveram filhos, seus netos criaram,

muito mais longe que a maior montanha...

OS CINCO IRMÃOS CHINESES XIX

Porém, depois de tanta confusão,

Li Tchang nunca mais engoliu o mar,

Li Tcheng decidiu não pastorear

e Li Tching não quis mais cortar lenha...

Li Tchong abandonou a profissão:

não mais queria na forja martelar

e Li Tchung preferiu abandonar

as caravanas, embora ainda retenha

o seu poder de um corpo invulnerável.

Tornou-se professor de artes marciais;

os irmãos abriram casas comerciais

na nova terra para que mudaram...

Uma outra versão, mais formidável,

diz que a genética acabou fazendo efeito:

tornaram-se dragões, pelo direito

inalienável que do pai herdaram!...

Alguns relatam que viveram no Japão,

na Cochinchina ou mesmo na Tailândia

e ainda que foram até a Nagalândia,

no sul da Índia, em que muitas famílias

de descendentes seus hoje lá estão...

Ou que são os Djinns dos muçulmanos

ou os Sargaços dos contos mais insanos

sobre as Bermudas ao largo das Antilhas...

OS CINCO IRMÃOS CHINESES XX

Que para o norte imigrou a Li Shinzen,

modificada em forma espiritual:

nos céus é vista como a Aurora Boreal

ou é o Maelstrom que leva ao Hades...

Seus cinco filhos são relâmpagos também,

ou fogos-fátuos, ou Fogos de Santelmo,

ou cavaleiros de armadura e elmo,

só entrevistos durante as tempestades...

Ou até que estariam no Brasil,

onde viraram o luminoso boitatá,

ou o curupira, cujo temor há

de proteger nossas matas e florestas!...

E que debaixo de nosso céu de anil,

Li Shinzen é conhecida como a Iara,

seus cinco filhos os Botos, coisa rara,

que não tiram os chapéus durante as festas...

E no Rio Grande também: alguns relatam

que Li Shinzen é do Jarau a Salamanca

e que em Bagé, quando a chuva mais estanca,

o Monstro do Candal retorna à cena!...

E muitos outros cantos se desatam...

Mas eu prefiro acreditar, contudo,

nessa quimera com que a visão me iludo:

que os cinco habitam hoje este poema!...

Entrou pela porta e saiu pela cozinha,

quem quiser outra, que tire da latinha!...

William Lagos

Tradutor e Poeta

Blog: www.wltradutorepoeta.blogspot.com

William Lagos
Enviado por William Lagos em 22/05/2011
Código do texto: T2985249
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