O GATO RICO (cordel infantil)

Conta o livro de história

Que um tal gato de botas

Obteve grande vitória

Contando muitas lorotas

Para um bobo marquês,

Beneficiando seu dono

E assim viver de vez

No luxo, sem abandono.

Já o gato deste conto

É totalmente diferente.

Muito rico ao ponto

De ornar do palácio a frente

Com pequenos ratos de ouro

Para os gatos pobres afrontar,

E dizer que não havia tesouro

Que ao dele pudesse se igualar.

Os outros gatos do lugar

Olhavam-no com desdém,

E passavam horas a criticar

As atitudes do gato Moquém.

Muito gordo e vaidoso

Vivia inventando moda,

Pois bicho ocioso

É como carro sem roda

Não serve para nada,

Dizia Serafina, a gatinha,

Que por ele era apaixonada.

Um dia, em que nada a fazer tinha,

Moquém chamou um empregado

E deu uma ordem estranha:

Procure e diga que pago bem

Àquele que sem patranha

Possa meu palácio cobrir

Com uma cúpula de cristal

Para eu não mais sentir

O odor desses gatos sem sangue real.

E lá se foi triste o empregado

Atrás de um engenheiro arquiteto.

Para um gato de focinho achatado

Ele contou do patrão o sonho do teto.

A notícia correu como o vento

Alvoroçando o longínquo vilarejo,

E do fato tomou conhecimento

O gato Kané que veio com seu cortejo

Ofertar seus serviços por pagamento

Em ouro e não precisava ser adiantado.

Para seus ajudantes um acampamento,

Ele exigia, bem limpo e climatizado.

Chegaram ao palácio dourado

E foram recebidos com alegria

Por Moquém, o dono da casa.

Iniciou-se o trabalho de cobertura

Do palácio com cristal da Bohemia

Que seria excelente abafadura,

Melhor que alvenaria,

Para impedir que o odor

De qualquer outro gatinho,

Considerado ser inferior,

Chegasse às narinas do gato riquinho.

Os outros gatos, a distância,

Observam aquela obra preconceituosa

E do gato rico a imensa arrogância

Ao dizer a todos: está tão formosa

A cúpula que cresce da noite pro dia.

Em sete dias o trabalho findou.

A cúpula sobre o palácio reluzia.

Kané seus ajudantes despachou

Dizendo a Moquém que logo voltaria

Para receber o que lhe era devido.

E o gato foi para sua tesouraria

Contar o ouro que seria dividido

Entre Kané e seus operários.

Moquém tremeu da cabeça aos pés.

O seu lindo tesouro centenário

Havia desaparecido através

Da mais esperta gatunaria.

Mais zangado ele ficou

Ao saber, por um cristaleiro,

Que a cúpula era pura vidraria,

E que fora vítima de um trapaceiro.

Por sua ostentação foi castigado

Moquém o gato presunçoso.

Ficou pobre e muito assustado,

Trabalho pediu a outros gatos,

Aprendendo de modo doloroso

A lição que vida ensina:

Hoje eu tenho e faço tudo que quero,

Amanhã nada tenho, sou um zero.

26/04/11.

(Maria Hilda de J. Alão)

(histórias que contava para o meu neto)

(Blog: https.//hildaalao.blogspot.com)