O RATO CAIPIRA (cordel infantil)

Eu vou contar pra vocês

A história de dois ratos

Que é a mais pura verdade:

Um vivia no campo

E outro na cidade.

O rato do campo convidou

O rato grã-fino da cidade

Para conhecer a sua casa

E viver um dia de felicidade

Fartando-se de comida boa.

Lá chegando o convidado

Ficou tão decepcionado

Com o banquete oferecido,

Pelo novo amigo, o rato caipira:

Só grãos e pão amanhecido.

Nada disse o convidado,

Mas resolveu que ia humilhar

Aquele rato caipira

Que não sabia recepcionar

Um rato chique da cidade.

Depois de muito mal comer

O rato chique convidou

O caipira que não rejeitou

Para juntos irem à cidade.

Só assim o caipira saberia

O que é uma amizade

E também ser anfitrião

Oferecendo um banquetão

Com tudo que há de bom

Na cozinha de d. Zoraide.

Chegaram tarde os dois.

Na casa do rato chique

Tinha comida de todo jeito

Até queijo de Moçambique

Para comerem depois.

O rato caipira a tudo elogiava:

“tudo é tão fáirto, tão bão...

Mi adiscurpe amigão

Si li dei nacos de duro pão

Purque num sô chique cuma ocê.”

Já se dispunham a comer

Quando um homenzarrão,

Com um pontapé, abriu a porta.

Os dois se puseram a correr

Para escapar da enorme bota.

Quando se fez silêncio,

Voltaram os dois amigos

Para a cozinha de Laurêncio,

Um cozinheiro antigo

Daquela nobre residência.

E o fato se repetiu:

Na mão uma vassoura

Laurêncio entrou grunhindo:

“Onde tu estás rato atrevido?

Sei que trouxeste um amigo

Aparece! Agora tenho a vassoura

E com esta grande tesoura

Cortarei os teus bigodes.

Comigo tu não podes

Vou te ensinar a não roer,

Toda vez que eu abastecer

A despensa da cozinha,

Os alimentos caríssimos

Que só gente consome.

Vê se desaparece, some!”

O pobre rato caipira tremia

Diante daquela situação.

Então ele disse ao rato chique:

“Amigo, qui confusão!

Pra ocê cumê um pedaço di pão!

Perfiru cumê grãus i pão duro

Na santa paz du sinhô

Du qui sê cuma ocê chique

Cumendo queijo di Moçambique

I ficar tremilicando

Toda veiz qui esse home

Entra fazeno um baruião.

Desse jeito ocê morri di fome.

Perfiru a simplicidade

A viver nessa fáirtura cum medo."

Lá se foi o caipirinha

De volta ao seu amado campo

Onde vivia em fartura

Sem que nenhuma criatura

Aplicasse-lhe tanta tortura.

18/09/11

(histórias que contava para o meu neto)