Meus Irmãos Caçulas

Capítulo 1: O Início

Será que é natural do ser humano não se dar bem com mudanças? Tudo o que é novo parece sofrer grande resistência no começo, mas após algum tempo acabamos por nos acostumar.

Comigo não foi diferente, morávamos papai, mamãe e eu em uma casinha no final da rua, simples, mas confortável, mesmo sem destaque por fora para quem observasse, por dentro transmitia aconchego e paz para todos nós. Dois quartos, uma sala, uma cozinha, dois banheiros.... Como já deu para perceber aquele sobradinho no final da rua também não era tão pequeno. Além da residência que para mim havia sido a melhor de todas da minha vida, ainda me sentia só.

Primeiro deixe-me apresentar sou Frederico, mas podem me chamar de Fred. Tinha 6 anos, e estava no primeiro ano da escola. Como todo estudante diz é no primeiro ano que começam as novidades. Por exemplo, é no primeiro ano em que cai o primeiro dente de leite, é no primeiro ano que aprendemos a ler e a escrever, podemos até dizer que é o ano em que aprendemos a enxergar parte do que é o mundo.

Em todas essas novidades sentia-me o mais azarado, o que não entendia é que estava um ano adiantado do que a idade necessária para cursar o ano em que me encontrava, tinha seis anos, quando a idade necessária era sete, não que havia pulado um ano ou coisas do tipo, o que ocorria era o seguinte, enquanto todos da sala faziam aniversário no primeiro semestre eu fazia no segundo. Mas não em julho ou agosto em que as diferenças não são tão perceptíveis, mas em dezembro, exatamente primeiro de dezembro.

Por isso, tudo parecia ocorrer mais tarde comigo, enquanto todo mundo já tinha perdido pelo menos um dente de leite, eu ainda estava lá com todos intactos.

Não entendia o porquê tudo isso, porque só comigo as mudanças que vida reservava demoravam mais para ocorrer?

- Mamãe, porque eu sou diferente?- perguntei

- Como, meu filho?

- Eu não entendo, sou o menor da sala e pareço não crescer, enquanto todo mundo cresce, sou o único que tenho todos os dentes enquanto os outros já perderam pelo menos um, o que acontece comigo, porque sou tão diferente?

- Filho de tempo ao tempo, como já lhe expliquei você faz aniversário no final do ano, por isso as mudanças ocorrem mais tarde com você.

Esta explicação parecia não me contentar, naquela época, aniversário para mim era apenas uma data para comer bolo, rever os parentes e ganhar muitos presentes. Pensamento normal para qualquer criança.

- Mas o que tem haver fazer aniversário no final do ano, pelo que sei dezembro também é um mês do ano como qualquer outro, não é?

- Sim filho, mas é que você está mais adiantado para o seu ano.

- Mas se eu estou adiantado, não era para tudo isso ocorrer primeiro comigo?

- Não é isso filho. Espere você crescer que entenderá melhor tudo isso.

Eu também não entendia o que tinha a ver crescer com compreender um fato, para mim ser maior era apenas mais tamanho, e que não havia nenhuma diferença. Mesmo assim, não sabia o porquê os adultos cismam em dizer está típica frase “Quando você crescer entenderá”, quando não sabem nos explicar algo de uma maneira que entendamos, ora. Mas como em tudo, mamãe tinha razão. Era apenas questão de tempo, crescer era a chave para o entendimento das coisas.

Além disso, tudo o que mamãe dizia parecia acontecer, bastava ela dizer:

- Não faça isso, você vai se machucar.

Não dava outra bastava eu teimar, e pronto me machucava. Na idade que possuía também não compreendia, achava que mamãe era vidente, ou alguma coisa do tipo. Hoje percebo que o que mamãe tinha era experiência, olhava o mundo com outros olhos e não com os quais eu olhava.

Capítulo 2: Quando mamãe e papai se conheceram

Minha mãe se chamava Catharina, ela era professora do ensino médio. Papai se chamava Salvador e vivia em um universo completamente diferente do dela, era arquiteto, vivia com maços e mais maços de desenhos, projetos .... . Achava até que minha aptidão de desenhar era herança dele, mas isso não vem ao caso.

Porém como duas pessoas com profissões tão distintas haviam se conhecido?

Mamãe não se cansava de contar esta história, e ressaltar que o casamento dos dois saíra praticamente à força, já que não possuíam na época a renda necessária para arcar com a festa e a cerimônia.

Eles se conheceram por acidente, mesmo que eu ache que acidentes não existam, ela sempre atesta que fora algo inusitado, para mim isso é apenas o destino fazendo seu trabalho.

Sou adepto da seguinte teoria: Deus criara um número limitado de almas, porém tinha de criar muitos seres para habitar o nosso planeta, com isso fora obrigado a dividir estas almas ao meio, deixando-as destinadas a encontrar sua outra metade, pela eternidade, e só encontrando a sua cara metade é que se encontrariam a verdadeira felicidade. Daí que vem a teoria de metade da laranja, tampa da panela entre outras expressões usadas no nosso dia-a-dia, para designar essa ação do destino.

Mamãe trabalhava na escola Dinastia Ávila, nessa escola minha mãe tinha uma amiga Rita de Almeida, a qual é minha madrinha ao lado de seu marido, Doutor Paulo, meu pediatra.

Rita iria se casar, e havia contratado papai para fazer o projeto da sua nova casa, Paulo, noivo de Rita, era amigo de papai por isso justifica-se o projeto ter sido encomendado com ele. Por ironia do destino no dia em que ela deveria pegar tal projeto houve um problema, o qual nem eu sei explicar direito. Ela pediu para que minha mãe fosse buscá-lo e explicar a situação para o arquiteto.

Não foi diferente do que era esperado, surgiu um amor a primeira vista.

Após alguns dias, um começou um a perguntar pelo outro, e meus padrinhos foram uma ponte para este amor, depois de se conhecerem começaram a namorar.

O amor foi de olhares para beijos e evoluindo pouco a pouco. Ainda com a carreira instável, papai possuía pouco dinheiro, mamãe possuía apenas suas poucas economias das aulas que ministrava e dos cosméticos que vendia, os quais davam uma renda razoável. Mesmo assim, eles bancaram a festa de casamento. Mas não há casamento antes do pedido oficial.

Papai sempre fora romântico, e foi em um restaurante, no meio da comemoração de dois anos de namoro, em que ele havia combinado tudo com os garçons e o pedido de casamento fora inusitado. Ele disse como pretexto para mamãe que iria ao banheiro, enquanto ela ficava esperando sua volta, ele colocou a roupa do garçom, voltou à mesa com uma bandeja na mão, a qual no centro estava à aliança. No momento ele se ajoelhou, e depois do pedido e eles se beijaram. Minha mãe sempre dissera que este fora a declaração mais linda que recebera em toda a sua vida.

Fora juntando tudo isso que eles se casaram, e é neste casamento simples, que cela a união destes dois o qual surgira a partir daquele simples olhar que tiveram um amor durador pelo resto de suas vidas.

Quem diria que no final do século XX, uma época de tantas transformações no conceito amor, afloraria um amor tão forte. Hoje ainda são mais raros casamentos assim, tem até quem diga que nos casamentos atuais as pessoas já casam pensando no divórcio. Mas deixando os tipos de relação amorosa de lado, eles compraram esta casa citada no começo de nossa história.

Meses após o casamento, mamãe recebe a notícia de que estava grávida, de mim. Papai, como todo homem, sonhava que eu fosse um menino, para sair aos sábados ir jogar bola, passear.... Já mamãe queria que eu fosse uma menina. Uma coisa normal para qualquer casal.

Nasci em uma noite fria, prematuramente, no dia primeiro de Dezembro, e recebi o nome de Federico em homenagem ao meu avô Frederico Silva.

Depois de algum tempo em observação por causa da minha prematuridade, fui liberado e passei a ficar em casa. Fui crescendo e evoluindo, dei meus primeiros passos entre outras coisas mais naturais de qualquer criança.

Por ser filho único tinha todas as atenções, dos avós, dos tios,dos padrinhos, com isso acabava me sentindo até a última bolacha do pacote de tanto que eu era paparicado.

Ser filho único e ainda ter nascido prematuramente em relação aos meus colegas, tinha suas vantagens, era sempre o primeiro fila, o primeiro a sair para o lanche, além de ser o queridinho da professora por possuir menos estatura. Até era legal, mas em casa não ter com quem brincar era chato demais, era tudo sozinho, quando papai estava no trabalho, com quem ia brincar de futebol, ou ficava na linha ou no gol não tinha meio termo, com isso estava decidido, eu precisava de um irmãozinho.

Capítulo 3: Quando ter irmão era moda

Em qualquer escola basta um bafafá que tudo vira moda. Já foi de tampinhas de garrafa até cadernos com folhas detalhadas, qualquer coisa que era exaltada e colocada em evidência virava moda, o lado ruim destas modas era que basicamente quem não possuía o evidenciado era excluído do grupo.

Comigo não foi diferente, certo dia Pedro o menino da primeira carteira da classe comentou:

- Eu e meus dois irmãos jogamos bola no final de semana, foi demais.

Quando ouvi isso para mim foi uma inveja eu jogando sem ninguém e ele com dois, bem que podia me emprestar um.

Ai Elisabeth a menina mais inteligente fala:

- É minha irmã também, é muito companheira, sempre me empresta suas maquiagens.

Agora está explicado por que ele vem com a cara parecendo a de um palhaço de tanta maquiagem.

Ricardo também participou do assunto:

- O meu irmão também, ele me levou no kart semana passada, foi sensacional.

A partir disso era um se exibindo mais que o outro por causa dos irmãos, ter irmão se tornara moda. E eu que não tinha nenhum, já estava vendo a hora de ser indagado sobre o assunto. O que responderia? Seria chacota de toda escola?

Pois é, decidi falar com mamãe a respeito do assunto, segundo ela as crianças vinham das cegonhas bastava escrever uma carta para ela e pronto um irmão novinho em folha aparecia. Escolhi falar de noite, pois estaria tão cansada do exaustivo dia que aceitaria a proposta sem titubear.

Se soubesse olhar as horas na época poderia afirmar-lhes o tardar da noite com certeza, como não sabia, suponho que já era tarde, principalmente para uma criança da minha idade, ainda estar acordada.

As expectativas de uma resposta positiva cresciam a cada minuto, porém a resposta dada por ela fora à pior possível:

- Porque mamãe?-perguntei indignado

- Filho, criança requer cuidado e atenção, com mais um filho terá de ser maior a minha permanência em casa.

- Mas o que tem de mal, você ficar em casa?

- Tudo, filho, tenho de cuidar da escola, caso contrário como fica o meu emprego?

Com a idade que tinha, estava vendo que aquela conversa não daria em nada. Mesmo assim minha persistência vencia a razão, não desisti.

- Mas não é só pra pedir para a cegonha que ela traz, igual quando escrevemos uma cartinha pro Papai Noel.

- Não é assim tão simples filho, existem muitas mulheres que querem ser mães, eu já fui, estas outras que ainda não tem filhos, têm de ser atendidas primeiro.

- Mas, mas....

- Nem mas, nem meio mas, vamos vá para a cama agora que já passou da hora de dormir.

Todo esforço não levou em nada, eu queria um irmãozinho, mas e agora o que faria?

Fiz como qualquer criança da minha idade faria, para o papai Noel não basta escrever uma carta, então para a cegonha devia ser a mesma coisa.

Porém ai se encontrava o problema, estava aprendendo o alfabeto e a juntar as sílabas, nunca havia escrito frases inteiras, minhas cartas para o bom velhinho sempre haviam sido redigidas por meus pais. E agora?

Capítulo 4: Pedidos de Ajuda

Decidi solicitar ajuda de um colega, o qual não era o mais inteligente, mas como mamãe havia falado tinha de ser adiantado, Álvaro tinha um ano a mais que a sala toda e dois a mais que eu. Ele havia repetido o primeiro ano, com certeza já possuía mais experiência para me ajudar a redigir a carta.

Fui falar com ele, e a ajuda veio na certa, mas com algumas dúvidas:

- Você tem certeza que é a cegonha quem traz os bebês?- disse Álvaro

- Tenho mamãe sempre disse que é ela que deixa os bebês nas casas, mas antes se deve escrever uma carta pedindo o bebê pra ela igual se fazem com os presentes do Papai Noel. - respondi

- A minha disse que quem traz é o coelhinho da páscoa, viemos dentro de ovos, os quais depois de chocados dão origem aos bebês-ele contrariou

Tudo bem após acertarmos esta discussão começamos a escrever, a tal carta, tudo parecia igual aos símbolos estranhos que mamãe usava para assinar cheques ou escrever bilhetes na geladeira, para a empregada. Alguns continuam o que eu estava aprendendo na escola as famosas letras do alfabeto.

-Epa! Espera ai, mas como vamos começar?- perguntei afoito

- É simples, vamos escrever (Cara Cegonha)- Ele respondeu

- hidbdnoi jb ()&

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HGSDIFUBDUIS

Fred

Como já deu para perceber, achávamos que essa tinha ficado ótima, mas não sabíamos que horrível havia ficado. Escrevemos corretamente apenas o meu nome, o qual estava aprendendo a escrever em sala.

- Mas e agora o que vamos fazer com essa carta?- perguntei

- Colocar na caixa do correio, meu avô sempre me leva lá para deixar as cartas, não sei o que acontece, mas vem sempre uma resposta. Deve ser lá que você deve deixar.

Fizemos isso, na hora da saída fomos escondidos a caixa de correio na esquina, e deixamos lá sem que ninguém nos visse. Hoje fico imaginando se chegou a um destinatário, este, não entenderia bulhufas, do que estava escrito. Acho que por esta não ter selo e nem estar envelopada com certeza deve ter sido desconsiderada pelo carteiro, em meio a tantas outras que ele deveria entregar.

Por sorte conseguimos chegar antes que nossas mães dessem por nossa falta. Acabei achando estranho isso, pois mamãe sempre era a primeira a chegar à porta da escola não era de seu hábito se atrasar.

Mal sabia eu o que ela estava fazendo, e que havia ficado tão intrigada com a nossa conversa da noite anterior. Mamãe sempre sonhara em ter duas crianças, mas cheia de afazeres no trabalho e a grande dificuldade de criar um filho, acabaram afastando-a deste sonho. Nossa conversa pareceu reavivar tudo isso, fazendo com que ela procurasse o médico a fim de ver a possibilidade de ter outra criança.

- Então doutor, há chances de eu ter mais um filho

- As chances podem ser possíveis, mas para a confirmação total, serão necessários mais alguns exames.

Para mamãe aquela resposta era um sonho que se realizava. Não só por ela, mas por papai, que também que sempre quisera ter um segundo filho.

Capítulo 5: As respostas

Ficaria todo mundo ansioso e torcendo para que os resultados dos exames dessem positivo e que mamãe pudesse ter mais um filho. Porém ela ficou preocupada, não queria gerar expectativas, acreditava sim na possibilidade, mas e se não pudesse ter outro filho, como a família reagiria após a expectativa criada? Pois bem, ela guardara tudo isso para si, e fazia mistérios, os quais nem papai, ficou sabendo.

Começou a ir fazer os exames no período da tarde enquanto eu estava na escola, já que ela trabalhava apenas no período matutino. Aí começaram a se justificar os atrasos.

Enquanto ela estava preocupada com os exames, eu estava com a carta, a qual ainda não havia tido resposta.

- Você tem certeza que fizemos tudo certo?- disse para Álvaro

- Tenho sim, agora é só esperar- ele respondeu

- Mas já estou há duas semanas e nada, cada dia que passa, abro a porta afoito na espera do meu irmãzinho.

- Calma, a cegonha não é Sedex, ela lê carta a carta e demora igual o papai Noel.

- Então você está querendo dizer que meu irmãzinho vai vir só no Natal?

- Quase isso

Cheguei a conclusão de que iria demorar, já que estávamos em maio, e não havia nem chegado a metade do ano.

- Não é só você que quer um irmãozinho muitas outras crianças também querem.

- Mas será que ela entendeu a nossa carta?

- Deve ter entendido sim

Dias depois, em casa, ouve-se a campainha.

- Pode deixar que eu abro.

- Nada disso, menino- disse a empregada

Estava ansioso será que a cegonha havia lido meus apelos, e se sensibilizara trazendo o meu via Express.

Era o carteiro, e ele havia entregado um envelope e uma caixa para a empregada. Vendo a caixa e o envelope, pensei, a cegonha apenas não pode vir entregar pessoalmente, pensei ainda mais: Será que os nossos irmãos vêm como camas ou aparelhos tecnológicos, com instruções “Faça você mesmo” ? Para mim isso ia ser o máximo. O envelope seria o manual e a caixa as peças.

Mas nem tudo é uma maravilha, o envelope era para mamãe com os exames e a caixa era a maquete do novo projeto do papai.

Mais uma vez frustrado estava, porque só meu não havia chegado? No dia seguinte Álvaro me respondera mais ou menos assim:

- Papeis e maquetes, são fáceis de montar, mas bebês requerem muito esforço e dedicação.

Estava com os nervos a flor da pele de curiosidade. O que seria ? Será que chegaria menino ou menina? Pra mim eu queria menino, seria o máximo ter alguém para jogar bola, menina também, seria alguém para jogar banco imobiliário ou outros jogos do tipo, para mim o que importava era um irmãozinho.

Mamãe estava ansiosa com os resultados, levara o envelope ao médico, e ele acabaria com este mistério. Será que mamãe poderia ter filhos?

Capítulo 6: Boas Novas

O envelope estava nas mãos do doutor e os nervos de mamãe a mil. Aquele senhor de barba e jaleco branco olhava tentando compreender aquela quantidade de números que recobriam toda a folha branca.

A cara do doutor era imparcial, não se conseguia distinguir se o resultado era positivo ou negativo, o que elevava a tensão dos nervos ao extremo. Mamãe estava até suando na hora, cada segundo era uma gota a mais que escorria pelo seu rosto.

- Parabéns, você vai ser mamãe!- ele disse de uma vez só

A alegria foi imensa, porém ela não compreendera, como “Vai ser mamãe” se de acordo com ela ainda não estava grávida.

- Não entendi doutor, como vou ser mamãe, agora eu posso ser mamãe não é?

- Não, você vai ser mamãe

- Como?

- Os resultados dos exames apontam que você já está grávida

A felicidade foi em dobro, ao invés de minha mãe dar duas notícias, uma que poderia ter filhos e depois outra que estava grávida, deu as duas de uma vez só. Com isso papai caiu pra traz.

- Como, me explique isso?- ele perguntou

- É simples estava indo ao médico para ver a possibilidade de termos outro filho, após exames acabei descobrindo que já estava grávida

Os dois se abraçaram e começaram a chorar de tanta alegria, no começo eu não tinha entendido nada, depois quando mamãe explicou que eu ia ter um irmãzinho, ai sim a felicidade foi geral.

Quando contei pro Álvaro ele ficou de boca aberta, achou até que a cegonha era mágica, milagreira ou coisa do tipo por ter feito uma criança em tão pouco tempo.

Ele ainda foi pouco, imagine a cara de tios, tias, avós quando souberam da notícia.

Tia Palmira, já mais desinibida perguntou:

- Você já sabe, se vai ser menino, ou menina?

Tio Hélio, já perguntava mais:

- Como você descobriu?

Outros até já questionavam:

- Quando vai ser o batizado?

Então, as curiosidades não eram apenas nossas, mas como de todos. Todo mundo queria saber as novidades, mas não superficialmente, e sim com detalhes. Tudo tim tim por tim tim.

A casa era só felicidade, agora eu teria um amigo, ou uma amiga para brincar, sorrir, fazer tudo. Porém existia algo que me intrigava na época, esta era a primeira vez em tantos anos, que os familiares vinham em casa não para me visitar, mas sim para ver outra pessoa.

Hoje mais velho, consigo analisar que isso era uma pontinha de ciúme que ia surgindo.

Capítulo 7: O Ciúme

Podemos dizer que o ciúme é um sentimento ruim, e era isso que estava ocorrendo naquele momento. Nunca antes havia me ocorrido esta sensação.

Desde que havia chegado àquela respectiva residência, as visitas sempre ocorreram, mas com um único fim, não sabia o porquê, mas todas tinham por objetivo me ver, e o melhor sempre vinham com algum presente.

Tia Rita era um exemplo, como minha madrinha nunca houvera uma vez em que veio nos visitar e não me trouxera um carrinho, um caminhãozinho, um simples doce, ou uma destas coisas que agradam qualquer criança.

Nessa festa em que a família toda se encontrou ela também estava presente, com tio Paulo é claro. Chegaram com um embrulho enorme, eu presunçoso como sou, cheguei a conclusão: Desta vez eles se superaram, nem no meu aniversário ganhei um presente em um embrulho tão grande.

O presente vinha em um caminhão, os carregadores o descarregaram, entregaram. Na hora da montagem, a surpresa, a partir daí quem disse que o presente era para mim. A felicidade resplandeceu apenas nos rostos dos meus pais, no meu estava estampada a frustração, o conteúdo da caixa enorme, era um berço.

Já era um mocinho, desde os três anos não usava mais o meu antigo berço, o qual também fora presente de tia Rita, e hoje se encontrava desmontado na garagem. Como deu para perceber, este não era para mim, mas ainda me restava uma esperança de a qualquer momento eles dizerem:

- Fred,como podemos nos esquecer, este aqui é para você

Esta ilusão desapareceu, quando eles foram embora e eu fiquei de mãos vazias. A Atenção era outra coisa que me foi escassa, antes qualquer coisinha, desde um tombo a uma palavra mais complicada que pronunciasse, era um carnaval, pediam e pediam para que fizesse de novo e a cada vez que o ato era repetido à festa aumentava, além de crescer também o número de espectadores.

Neste dia nada, nem se o circo chegasse a atenção a este bebê diminuía. Então imaginem de um dia pro outro toda esta atenção e estes presentes serem roubados, por alguém que ainda nem nasceu. Para mim era duro encarar aquela realidade. Tanto que estava decidido, não queria mais um irmãozinho.

Decidi falar com Álvaro, devia ter algum meio de reverter tudo isso. Sempre vi mamãe devolver blusas que não haviam cabido em mim para a loja, deveria ser assim, bastava devolver o bebê para a cegonha e pronto, toda a atenção e os presentes estavam a salvo. Por isso vim pedir a ajuda dele, mas a resposta havia sido a pior possível:

- Agora não dá mais, é igual pedido de vela de aniversário, depois não pode mais mudar

- Mas tem de haver algum jeito- respondi

- O que não entendo é o porquê você não está mais querendo ter um irmãozinho, ou uma irmãzinha, qual dos dois seja?

-Ontem, percebi que prejuízos este bebê, ou melhor, um irmãozinho, pode causar. Não recebi presente algum, além do que todas as atenções foram para ele ou ela, sendo que ainda nem tinha nascido

- Meu caro, bem vindo ao mundo de ter irmãos, é assim mesmo, só eu tenho mais dois, mas devagarzinho você se acostuma.

- Se acostumar como?

- Você vai ver, como vai possuir relevância, vai ter de cuidar dele, dar mamadeira..... Com o tempo perceberá o quanto você será importante.

- Mas até agora não vi importância nenhuma, só vi que cada vez mais, fico sem atenção

- Calma de tempo ao tempo, e você verá.

- Outra coisa que queria lhe perguntar era o porquê todo mundo estava olhando para o umbigo de mamãe? Achei estranho demais, isso nunca havia ocorrido

- É que a cegonha deixou uma semente

- Uma semente?

- Isso mesmo, essa semente é o bebê, e quando a sua mãe a engoliu o bebê germinou igual uma plantinha dentro da barriga dela.

- Então vai crescer uma planta dentro da minha mãe?

- Mais ou menos isso, a barriga dela vai crescer e será lá que o bebê vai ficar durante nove meses, até estar completamente formado, depois disso ele nasce.

Após essa conversa. Lembro-me que fiquei pensando as maneiras como o bebê sairia de lá, quando chegasse a hora de nascer. Talvez por um espirro, ou então ele saltasse de lá, quando ninguém estivesse olhando, não sei, resolvi então perguntar para minha mãe o resto das minhas dúvidas.

- Mamãe como nascem os bebês?

E ela me explicou passo a passo

- Após os nove meses de gestação, o bebê já está completamente formado, a partir daí vamos ao médico para que ele retire-o do ventre materno.

- Os bebês são como plantinhas não são?

-Mais ou menos isso

-Então porque eles não crescem para cima em direção ao sol?

- Porque eles não precisam impreterivelmente do sol como as plantas, você entenderá mais quando crescer, o que você precisa saber é que o bebê vai se desenvolver aqui na minha barriga.

- Mas como o médico tira?

- Cortando a barriga

- Mas ai você vai ficar com a barriga cortada, mamãe?

- Não filho depois ele a deixa do jeito que era antes

- E não dói?

- Não antes da cirurgia eles nos dão uma injeção para que não sintamos dor.

Ai eu comecei a não entender, na minha mente injeção era uma coisa que doía tanto, que não consegui associar como ela conseguia tirar a dor. Para mim ela a aumentava ainda mais.

Lembro-me de quando era pequeno e fora tomar vacina. Achava que estava indo passear, e quando me dei conta já estava uma senhora com uma seringa pontiaguda apontada para mim. A partir desse dia, toda vez que era dia de vacina era o maior drama.

As dúvidas continuavam me ocorrendo e o ciúme cada vez mais aumentando, estava no meio do dilema, ter um irmãozinho é bom ou não?

Capítulo 8: Desejos

Os dias e semanas foram passando e barriga de mamãe crescendo. O que não entendia era o porquê a barriga crescia tanto se um bebê é tão pequeno. Outra coisa que não entendia é que, mamãe já tinha dito que era igual a uma planta, mas as plantas crescem para cima e não para frente. Mesmo com a explicação que ela tinha dado, acabei não entendendo, já que a professora disse que todos nós precisamos da luz do sol.

Não foi só a fisionomia que mamãe mudara o humor também, por qualquer coisinha, ela já me dava uma bronca ou me colocava de castigo, coisas que até então não eram tão comuns, ocorriam apenas quando cometia um erro bem grave. Mas não era apenas comigo, papai também sofria, dizia até:

- Sua mãe está de TPM intensiva

Ria sem entender o que significava, mas sabia que era algo ligado a esta fase de mau humor, pela qual ela estava passando.

Além de tudo isso, vontades eram comuns, os típicos desejos femininos na fase da gravidez. Bastava papai chegar a casa e pronto, mamãe começava a falar as inúmeras vontades estranhas que sentia. Não sabia o porquê isso ocorria, mas era sempre a mesma história. E as misturas as mais esquisitas.

Era laranja com queijos, goiaba com pizza, até pizza de beterraba meu pai teve de arrumar, não me perguntem onde, mas ele conseguiu.

A chantagem era sempre a mesma:

- Você quer que seu filho nasça com cara disso.....

Bastava isso para papai tirar o carro da garagem e ir buscar o que ela desejava. Quando voltava, havia demorado demais, já era outro o desejo. E mais uma vez ele ia para rua atrás do solicitado.

Ás vezes eu tinha dó. Pois ser acordado no meio da noite sendo que no dia seguinte ele teria de levantar cedo para trabalhar, é muito sofrimento, mas era assim. Com otimismo ou não papai sempre dava um jeito de realizar as vontades.

Tinha noites que ele dormia muito pouco, uma horinha ou duas no máximo, isso porque o bebê ainda não tinha nem nascido, vocês tinham que ver depois, na hora em que o bebê nasceu e começava a chorar pela noite.

Além desses desejos alimentícios tão estranhos eram comuns as explosões, as quais até então eram raras.

Bastava, papai mudar o canal da TV da sala, da novela para o jogo enquanto mamãe tirava um cochilo no sofá, ela já se exaltava e obrigava-o a voltar para a novela.

De início tudo isso era novidade, mas com o tempo e as constâncias da prática desses atos, comecei a balancear que sacrifício tem de se fazer para ganhar, um filho ou um irmãozinho.

Capítulo 9: Contrações

Além dos desejos que já estavam me cansando, começaram as contrações.

Para os que não sabem, as contrações são as anunciadoras do nascimento do bebê, é o indício de que a bolsa pode romper e a partir daí a criança pode nascer a qualquer instante.

Porém não é tão simples assim, além das contrações que indicam o nascimento, existem outras falsas que é apenas o mexer do bebê.

Estas se chamam contrações de Braxton Hicks, e eram estas as contrações repentinas que nos faziam parar tudo para levá-la ao hospital, imaginando que o bebê iria nascer. Explicando melhor, contrações de Braxton Hicks são também conhecidas como falso trabalho de parto, são contrações sem que o bebê esteja perto do nascimento.

Lembro-me muito bem do dia em que os dois comemoravam oito anos de casados, fomos a um restaurante chique, o qual possuía variados tipos de pratos e o melhor, além de uma grande quantidade de sobremesas.

De repente mamãe diz a papai:

- Preciso ir

- Pra onde?- papai perguntava aflito

- É agora

- Então vá se está tão necessitada o banheiro é logo ali

- Não é isso é a hora do bebê, eu acho que vai nascer.

Meu pai ficou tão atordoado, era primeira contração pré-nascimento do bebê, parecia um principiante, achei até que antes do meu parto não havia tido contrações, pela maneira como a qual ele se comportou. Parecia nunca ter presenciado uma situação como esta.

Saímos correndo, o dinheiro para pagar a conta ele nem se preocupou em contar, tirou do bolso uma nota de cem e deixou na mesa, por dois refrigerantes que havíamos tomado. O carro acabou deixando no restaurante entrou no primeiro táxi que aparecera:

- Te pago o dobro se for mais rápido- papai indagou para o taxista

- Negócio fechado- este respondeu

Chegamos às pressas ao hospital, um médico rapidamente foi verificar o que estava ocorrendo, os dois foram para a sala dele e eu fiquei na sala de espera, por isso acabei por não descobrir o que tanto falaram na sala, só sei que demoraram e bastante, peguei da conversa apenas na parte em que o médico explicava tais contrações, já fora da sala dele:

- Como disse são normais estas contrações, são chamadas de contrações de Braxton Hicks, são naturais antes do nascimento da criança. Venham quando a dor estiver acentuada, pois essas são normais, se preocupem com estas apenas quando se aproximar do nascimento do bebê.

Acabei me surpreendendo, havia achado que o bebê já havia nascido o que não entendia era o porquê a barriga não murchara. Depois no táxi de volta ao estacionamento do restaurante é que eles me explicaram o ocorrido.

Capítulo 10: Pré Natal

Primeiro deixe-me explicar amiguinhos, o porquê da expressão pré natal, como todos sabem além de natal ser a época da visita do bom velhinho é também para os cristãos a data do nascimento de Jesus. Daí vem à expressão prá natal: Antes do nascimento.

Estava não só ansioso, mas também com dúvidas, para saná-las fui falar com Álvaro, o qual após três irmãos já devia ter bastante experiência no assunto:

- Mas e agora como eu faço para descobrir se é menino ou menina?

-Primeiro espere sua mãe ir fazer as consultas Pré Natal, uma dessas é o Ultrassom, depois dessa consulta sua mãe já vai saber se é menino ou menina

- Mas o que tem haver som em saber se é menino ou menina?

- Não é som, é Ultrassom, esta consulta é um aparelho que o médico passa na barriga da sua mãe para ver o bebê lá dentro, mais ou menos como um Raio-X, mas em movimento.

O tempo passou e as consultas começaram, até que chegou o tão esperado dia. O que seria menino ou menina?

Era sábado de manhã, estava frio, mas mesmo assim fomos ao Hospital, era necessário que mamãe permanecesse lá desde de manhã, para a realização das consultas.

Papai estava com o coração pulsando, eu com os nervos a flor da pele, e a família inteira ligando no celular em busca de informações.

Entramos em uma sala no final do corredor, e fomos muito bem recepcionados por um senhor de barba branca, o qual realizaria o exame.

O aparelho era estranho, possuía uma tela como se fosse uma mini televisão que dava para enxergar a região da barriga de mamãe em que a parte móvel do aparelho encostava.

O aparelho começou a deslizar sobre a barriga de mamãe, na tela apareciam, imagens em preto e branco, as quais se você prestasse atenção tinha a forma de um bebê. O médico pergunta:

- Vocês querem saber o se é menino ou menina?

- Sim- respondemos todos ao mesmo tempo

Ele ajeita os óculos no rosto, e olha fixamente pela tela

- O que vocês querem menino ou menina?

- Menino- disse papai

- Menina- disse mamãe

- E você garotão, quer um irmãozinho ou uma irmãzinha.

Fiquei sem saber o que dizer para mim, qual viesse estava bom.

- Vejo que é um menino- disse o doutor

Papai comemorou.

- Mas espere, não, é menina

- Agora você nos pegou, é menino ou menina doutor

- Parabéns, vocês vão ser ais de gêmeos, e gêmeos fraternos.

A euforia foi grande mesmo eu desconhecendo o que era gêmeos e ainda mais fraternos.

O que depois de um tempo acabei descobrindo, gêmeos são dois bebês formados em uma mesma barriga, existem os idênticos, os quais como o próprio nome já diz, são iguais na fisionomia, mas os gêmeos da nossa história em questão são fraternos, ou seja, são diferentes na fisionomia, e no nosso caso mais raro ainda são diferentes no sexo.

A festa foi da família toda, durante todas essas gerações que se passaram, em ambos os lados, nunca havia nascido gêmeos, e ainda fraternos.

Ou seja, mais uma vez, foi àquela festança lá em casa, as famílias se reuniram, para comemorar fato tão importante.

No dia seguinte na escola:

- Viu só tava querendo tanto devolver um, agora você tem dois- disse Álvaro

- Não foi isso o que ocorreu, o problema é que fizemos o pedido duas vezes – respondi

- Como duas vezes? Pelo que sei encaminhamos apenas uma carta

- Só que mamãe também falou com o doutor, por isso dois, um da carta e outro que ela solicitou pelo doutor.

- Pode ter sido isso, ou então você pediu tanto um irmãozinho que a cegonha entendeu que você queria dois

-Mas que diferença tem ter um ou dois?

- Dois irmãos significam mais responsabilidade, e o pior mais choro.

Resolvi pensar nos lados positivos de um menino e uma menina, podíamos até montar um time. As brincadeiras seriam mais dinâmicas. O pior de tudo isso é que agora não era dividir a atenção com apenas mais um, mas sim com dois.

Capítulo 11: O Nascimento

Os meses se passaram, a barriga de mamãe crescera, as contrações e desejos aumentaram. Tudo isso indicava que o nascimento dos meus irmãozinhos estava próximo.

Passou o meu aniversário, o último natal em que ainda era filho único, a virada de ano, o carnaval, e foi em um dia morno, começo de outono, exatamente dia 14 de março que todos tivemos uma surpresa.

Surpresas são sempre boas, como o próprio nome já diz é algo inesperado, que ocorre em um momento mais inusitado ainda, podemos até dizer que este é o lado ruim das surpresas: Não sabemos o momento em que estas ocorrerem, podendo compará-la a um carro desgovernado, quando começa, não há o que o pare.

O Nascimento de um bebê é mais ou menos assim, após a chegada do nono mês de gestação, a qualquer momento a bolsa onde o bebê se localiza dentro do ventre materno, pode romper, sem prévia ou aviso.

Momentos inusitados são coisas que não faltam no cotidiano humano, imagine o nascimento de um bebê em uma fila de banco no horário de pico, ou então em uma festa de aniversário na hora dos parabéns, ou até mesmo no trânsito da cidade de São Paulo.

O Nascimento dos meus irmãozinhos ocorreu nesse simpático dia 14 de março, em um evento mais inusitado do que os já citados, pior do que tudo isso seria o nascimento de um bebê no meio da cerimônia de um casamento, e foi o que aconteceu.

Uma sobrinha muito querida de mamãe faria casamento em breve,o convite havia sido entregue com três meses de antecedência, e desde o dia da entrega mamãe já confirmara presença. Papai já a advertia:

- Catharina, meu amor, você sabe que o mês em que ocorrerá o casamento, se completa os seus nove meses de gravidez, não é melhor você não ir a esta festa?

- Não, eu vou e ponto final- ela respondia como quem não mudaria de opinião

-Mas, meu bem, a bolsa pode romper a qualquer momento

-Poder, pode, mas o mês possui trinta e um dias , nãos será justamente no dia da festa que ela irá romper

- Deus te ouça

Muitas vezes a teimosia de mamãe superava seus atos racionais, para quem não a conhece, nem pensa que ela tem outro filho. Parece até que não sabe o acontece quando a bolsa rompe.

Quando nasci também foi parecido, a família toda ia a um sítio comemorar as bodas de prata dos meus avós, mamãe teimosa foi, não dando a mínima para as advertências de papai, de ficar em repouso, pois a bolsa poderia romper, foi a festa.

A bolsa rompeu na estrada, eles voltaram correndo, chegaram ao hospital e eu já saia a fórceps. Os médicos a levaram para a sala de cirurgia e após algumas horas, eu vivia meus primeiros momentos de vida.

Como podem perceber experiência ela tinha, mas o que sobressaia em tempo de gravidez era a teimosia. Vendo isso acabei percebendo de quem herdei essa teimosia que relatara no começo da história.

O dia do casamento chegou. Ansiosa mamãe se apressara até demais, também com o imprevisto que ocorrera. Bom é melhor eu explicar para vocês: Tia Edna é aquela tia solteirona que não arranja marido nem com reza brava, especular a respeito da vida alheia é o que a diverte nas tardes em que não possui nada para fazer. Graças a um infame comentário a respeito da mãe da futura noiva, o qual infelizmente caíra nos ouvidos de toda a família. Ela fora desempossada do cargo de madrinha titular do casamento, para os que desconhecem, madrinha titular é a madrinha que fica no altar ao lado dos pais dos noivos.

Mas vocês devem estar se perguntando, e aí, o que mamãe tem a ver com isso? Por incrível que pareça. Com a saída de tia Edna, mamãe é que se deu bem. Fora convidada para subir ao altar no momento da recepção do casal dos noivos, até hoje, momento em que vos escrevo esta história, foi a primeira e única vez que vi uma madrinha no altar tão grávida.

Os noivos chegaram, o sacerdote saiu da sacristia para realizar a celebração, mamãe e papai a postos, e eu lá carregando as alianças.

O padre começa a pronunciar as palavras, para a reflexão do casal, ai chegando à parte que eu mais gosto, a parte onde ele diz:

- Se há alguma coisa que impeça este casamento, que fale agora ou cálice para sempre.

Não sei se é porque vi muitas histórias em que chega alguém que nem estava na história, e interrompe ato tão sagrado, ou então algo que impeça o término da cerimônia, não sei, mas tenho gosto por esta parte.

Na nossa história também não foi diferente, o que ocorreu foi que não chegou uma pessoa para interromper a cerimônia, mas duas.

Quando o sacerdote pronunciou estas palavras, mamãe grita.

- É agora

As atenções da igreja caem sobre ela, e sobre a água que pingava abaixo dela.

- A bolsa estourou- grita tia Rita

- É necessário levá-la ao hospital com urgência- grita um primo lá do fundo

Para vocês amiguinhos, vou explicar melhor o ocorrido. A bolsa dentro do útero de mamãe, que abrigava o bebê rompeu isso significa que os bebês iriam nascer. O líquido que caiu no chão era o líquido onde os bebês estavam mergulhados no ventre materno.

A cerimônia parou na hora, mamãe precisava ir ao hospital com urgência. E como qualquer família é sempre nesses momentos críticos que se abre uma pontinha para discussão:

- Ela vai no meu carro – dizia vovô aflito

- Não, mas eu sou o marido, vai no meu carro- se insinuava papai

- Parem de brigar, papai eu agradeço, mas eu vou com o meu esposo, ele é o pai dos bebês, agora vamos depressa, estas crianças estão saindo- disse mamãe para apartar a briga

Na época, não entendi nada, vim a compreender tudo mais tarde, apenas me colocaram em um carro dizendo que meus irmãozinhos iriam nascer. Para mim o nascimento era algo completamente diferente, não que viesse com uma carta dizendo data e hora, mas sim como uma visita, que liga diz o dia em que vai visitar-nos.

Fomos ao hospital, lembro-me que a última vez que vi mamãe antes do nascimento dos meus irmãos, foi em uma maca entrando para a sala de cirurgia, cheia de panos e proteções, até com uma touca nos cabelos.

O médico que acompanhara o pré-natal, o senhorzinho de barba branca, também estava presente. Papai estava ansioso, ele não pudera entrar na sala de cirurgia, mas estava muito aflito. Com as dúvidas de qualquer pai antes do nascimento dos filhos: Será que vão nascer com saúde? Será que está tudo bem?Será que eles se parecerão mais comigo ou com ela?

Após algum tempo, uma enfermeira sai da sala de cirurgia e vem falar com papai. Ele se veste com roupas parecidas com as de um dos enfermeiros do hospital e entra na sala.

Tive de ficar do lado de fora, por isso não posso relatar como foi o nascimento exato.

Pensar que a vida é algo tão inexplicável, algumas vezes nos deparamos com situações tão ruins, e outras tão maravilhosas, ser pai ou mãe é algo melhor do que se parece, é ver uma continuação de você, como se você nascesse de novo. Momentos como esse são momentos que não há dinheiro que pague, e a vida, demonstra nesses momentos que mesmo com os obstáculos que ela nos impõe, também nos proporciona momentos tão bonitos como esses.

Na cabeça dos meus pais, no memento do nascimento, foi como uma das vitórias do Ayrton Senna na corrida, fora como se aquela música de vitória que está no coração dos brasileiros, soasse nos ouvidos deles.

Capítulo 12: Conhecendo meus irmãos

Papai sai da sala de cirurgia com lágrimas caindo pelo seu rosto, com sinceridade posso dizer que aquele foi um dos poucos momentos na minha vida que o vi chorar.

Fomos a uma das alas do hospital, onde tinha uma placa grande, escrita MATERNIADE, o local tinha muitos bebês, e o cheirinho de talco em fralda era a marca do local.

Ficamos a olhar os bebês e eu muito ansioso, pois havia sido o único que ainda não os tinha visto. Como seriam meus irmãozinhos?

Olhávamos as carinhas, algumas de choro, outras com sorrisos de ponta a ponta. Foi quando papai parou de repente:

- Ai, estão os dois, conheça sua irmãzinha e o seu irmãozinho, um está ao lado do outro, veja.

Ele me pegou no colo e colocou-me sob os ombros dele, já que não era possível visualizá-los com a baixa estatura que possuía.

Fiquei a admirá-los, nessa hora posso dizer que o amor superou o ciúme, mas apenas naquele momento.

-Papai qual é o nome deles?

Ele ficou meio sem resposta, entre tantas coisas como enxoval, pré- natal e outros afazeres para o nascimento de uma criança, esqueceram-se do mais importante, dar-lhes um nome.

O nome é uma das partes mais importantes na vida de um individuo, é como vão chamá-lo daí pra frente, é algo que não se perde, algo fixo que é carregado durante toda a vida.

Por isso o nome deveria ser algo especial, uma homenagem, talvez, ou então algum que chamasse a atenção, que fosse forte e imponente.

Quando saímos do hospital, e a família descobriu que ainda não havíamos decidido os nomes das crianças, então foi aquele fuzuê.

- Acho que deve ser Hélio- disse o tio envaidecido

- Eu já acho que seria melhor Edna, um nome imponente- disse a tia se sentindo a última bolacha do pacote

Eles ficaram nesta discussão a tarde toda, eu criança, achei que foi uma perda tempo, para mim decidir um nome é tão fácil e ficavam discutindo, tudo isso.

- Já sei, vão se chamar Agatha e Daniel- gritou papai

- Achei estes nomes, perfeitos- concordava mamãe ainda cansada da cirurgia

O pessoal continuou a concordar, apenas tia Edna continuava insatisfeita, achava que o nome proposto por ela seria melhor.

Enquanto eles estavam naquela empolgação na escolha dos nomes eu estava de canto, sem o mínimo de atenção.

Mesmo fascinado, pela graça dos meus irmãozinhos, percebi que não era mais o xodó da família, estava perdendo o meu cargo. Atenções cada vez menores.

Isso tinha que parar, como duas pessoas que mal acabaram de chegar, já conseguem roubar todo o meu carinho e atenção, imagine quando crescerem, com certeza ficarei a deriva, ou então papai e mamãe acabariam esquecendo até que eu era filho deles.

Pensamentos assim são fruto do ciúme, aquele sentimento que já comentei no começo da nossa história, um sentimento que toma conta de nós, fazendo-nos agir sem pensar, praticar ações precipitadas, muitas vezes sem consciência dos danos futuros que estes atos podem ocasionar.

Capítulo 13: Ciúme, sentimento sem razão

No começo ter um irmãozinho era o meu sonho de consumo, depois se tornara o meu maior problema.

Era necessário que meus pais não se esquecessem de mim, aliás, também era uma criança, apenas mais velho, mas também queria atenção.

Agatha era bem espertinha, após algumas semanas já começara a andar, Daniel foi mais devagar, mas também era ágil até demais. Os dois faziam uma bagunça enorme, mas ninguém ligava, eu caso tirasse algo do lugar já levava um sermão das montanhas.

Não me conformava com essa injustiça. Eles podiam fazer tudo e eu nada. Além disso, não era pouca a bagunça deles não, os dois eram umas pestes de tão arteiros que eram.

Bagunçavam os desenhos do papai, colocavam na boca as provas da mamãe, bagunçavam as panelas da empregada, além de ficarem pulando de um lado para o outro. Mamãe até dizia:

- Eles são ligados no 220W

Papai já possuía outra retórica:

- É fruto da idade

Além disso, outro problema era de noite, parecia que eles não entendiam que tudo tem sua hora, e de noite é o momento de dormir. Cismavam em acordar no maior berreiro, acordando não só papai e mamãe mais a vizinhança toda.

Não que os dois começavam a chorar ao mesmo tempo, um começava por um simples motivo, o outro por ver que o irmão chorava também abria o berreiro.

Mamãe justificava tudo com a simples frase:

-Criança é assim mesmo

Mas quando era eu que fazia alguma coisa:

- Você não é mais criança, já é um mocinho

Porque eu tinha que ser mocinho e eles crianças? Tinha seis anos, eles nenhum, a diferença era pouca, mas comparando a idade de papai e mamãe a minha, em que a diferença é gigantesca.

O pior de tudo foi quando eles começaram a mexer nas minhas coisas, nos meus álbuns de figurinha, nos meus brinquedos, no meu material da escola. O pior é que não importava o quanto, os delatasse para meus pais que eles não tomavam nenhuma atitude, eu é que levava a bronca.

No caso dos brinquedos, respondiam:

- Você tem de aprender a dividir, deixe de ser egoísta

No caso do material da escola:

- Eles estão apenas brincando, não é por mal

No caso do álbum:

-Foi só uma brincadeirinha, você tem de aprender a relevar, são crianças, não sabem o que fazem

Estava cansado destas respostas que não levavam a nada. Decidi falar com Álvaro, naquele momento ele parecia ser o mais sensato para me ajudar a reverter toda esta situação.

- Quando meu primeiro irmãozinho nasceu meu comportamento não foi diferente do seu, também me senti sozinho, e achei que perderia meus pais para o bebê, mas o jeito é você chamar mais a atenção do que a criança- ele disse

-Mas como?

-É simples, faça xixi na cama

- Mas já sou grandinho, fazer xixi na cama é para bebezinhos

- Mas então, para você chamar mais atenção que um bebê, você tem de agir como um

- O cheiro do xixi é horrível depois eu fico fedendo

- Você não precisa fazer xixi de verdade. Sua mãe não deixa um copo d’água na cômoda antes de você dormir?

- Deixa e raramente consigo tomar tudo

- Então, pegue este resto e derrame na cama quando você acordar e deixe lá, sua mãe vai perceber e pronto ela vai voltar a te dar atenção

Os conselhos de Álvaro foram muito válidos e como diz o velho ditado, situações desesperadas pedem medidas desesperadas.

Fiz tudo conforme ele havia me dito, joguei o restante d’água na cama e a reação de meus pais foi momentaneamente boa, durante alguns dias tive atenção, mas depois tudo se reverteu.

Mamãe chegou à conclusão de que o xixi era fruto da grande quantidade de água que bebia antes de dormir, e resolveu o problema, assim as coisas pioraram além de continuar sem a atenção que queria, fiquei sem água no período noturno.

Não estava dando certo, resolvi apelar, comecei a fazer tudo o que meus irmãos faziam, a chorar no meio da noite, a gritar sem razão, fazer caras e bocas na hora de comer, cuspir a comida para fora, gritar sem motivo nos lugares públicos, cair no chão e começar a chorar, derrubar a comida na roupa e começar a chorar, entre outras ações naturais de qualquer bebê.

O resultado foi o mesmo, levei muitas broncas e mesmo assim não atingi o meu objetivo, ATENÇÃO. Será que era tão difícil assim consegui - lá?

Resolvi apelar mais ainda, comecei a fazer de tudo para que meus irmãos chorassem pelo menos me davam mais atenção.

Hoje vejo isso e percebo que este é o pior meio de chamar a atenção, podemos considerá-lo como um meio falho em que mostra que o indivíduo quer atenção a qualquer custo não importando se a atenção seja pelo meio positivo (bons atos), ou por meio negativo (maus atos). Vou explicar para que vocês amiguinhos entendam melhor, é mais ou menos o seguinte: Quando sua mamãe está cozinhando e você a ajuda, ela te diz obrigado ou te parabeniza (Isso é receber atenção pelo modo positivo).Quando você leva uma bronca por algo de errado que fez (Isso é receber atenção pelo modo negativo)

Quando eles estavam no berço puxava o pezinho deles até eles acordarem, ou então não os deixava dormir, até impedia mamãe de amamentá-los. Recebia muitas broncas, estava recebendo atenção, mas não era a mesma de antes deles chegarem, aquela atenção pelo lado positivo pelas coisas boas que fazemos. E era esta qual queria.

Capítulo 14: Algo de errado estava acontecendo

Mamãe e papai começaram a perceber que algo de errado estava ocorrendo comigo. Não era de meu hábito fazer xixi na cama além dessas outras estripulias relatadas. Fora tudo isso, era a primeira vez que eles eram chamados a escola para ouvirem reclamações a meu respeito, reclamações de possuir comportamento infantil demais para a idade, de não saber dividir a atenção da professora com os outros colegas, tais comportamentos que nunca antes ocorreram em toda a minha vida escolar.

A partir daí eles começaram a entender que eu estava tendo uma crise de ciúmes e por meio de tais atos, manifestando meu desejo de atenção.

- Acho que ele está querendo atenção- disse mamãe, para papai na sala enquanto nós três estávamos dormindo

- Mas ele não queria tanto um irmãozinho, não entendo o porquê desse comportamento- retrucou papai

- Ele também é uma criança, querido, não sabe o que é dividir, sempre foi filho único, único neto, único sobrinho...

- Mas ele terá de aprender a dividir, só não sei como ele aprenderá isso, mas terá de aprender.

- Com calma, temos de mostrar a ele que não perdeu os pais, o que ocorreu é que a família cresceu, ele apenas ganhou irmãozinhos

- E como nós vamos explicar isso para ele?

-Deixe isso por minha conta, vou precisar da sua ajuda apenas em um aspecto.

- Diga! O que precisar estou a postos para ajudá-la

- Você ainda tem aquelas fitinhas onde o gravou pequeno?

- Tenho sim

-Então me empreste, já sei o que fazer

Capítulo 15: Inconformismo

- Álvaro, nada do que me disse funcionou-disse frustrado

- Você fez direito?-ele respondeu

-Fiz sim, no começo deu resultado, depois ela descobriu, e fiquei sem água, tentei apelar para outros métodos, me parecer com o bebê e nada disso funcionou

- Tem certeza?

-Claro que tenho. Estou chegando à conclusão de que tudo aquilo que vocês comentavam na sala, ano passado era pura invenção. Irmãos não fazem tudo aquilo que diziam, não brincam, não levam para lugares divertidos. O que sabem fazer é apenas chorar e chorar

- Mas você tem de esperar que eles cresçam

- Ninguém me avisou que para ter alguém para brincar teríamos de esperar

-Além disso, você é o irmão mais velho, os irmãos mais velhos é que fazem tudo isso. Os levam pra passear se divertir, entre outras coisas. Também sou o irmão mais velho uma hora você se acostuma.

- Então quer dizer que não sou eu quem vai ter todas essas regalias

- Pois é.

Naquele dia descobri o lado ruim de ser o irmão mais velho, além de aturar todo este choro, e ter ínfimas noites mal dormidas, ainda teria de levá-los pra passear, brincar com eles.

Fui para casa, arrasado, era como se todo o sonho de ter um irmãozinho, o qual eu mesmo havia criado tivesse ido por água abaixo.

Capítulo 16: O Plano de Mamãe

Com o nascimento de meus irmãos o tempo livre de mamãe ficou mais escasso, tive de começar a ir e voltar da escola por meio do ônibus escolar.

Cheguei em casa, exausto, o dia havia sido cheio, não só de conteúdos aprendidos, mas também de frustrações adquiridas. Estava cansado de não ter atenção, estava quase decidido a me trancar no quarto até os cem anos e só depois abri-lo novamente, talvez com a minha falta se dessem conta de que também sou merecedor de carinho e atenção.

Atravessei a porta, já esperando os gritos e choros dos dois bebês, mas por incrível que me parecesse naquele dia foi diferente, sem choro, nem nada, na sala se encontrava apenas mamãe recostada no sofá lendo um livro. Pensei:

- Até o livro recebe mais atenção

Quando ela me viu, fechou o livro, começou a olhar-me, e disse:

- Filho, sente aqui precisamos conversar. A mamãe e o papai andaram percebendo que você está diferente, você nunca tinha feito coisas que você anda fazendo nesses dias. O que está acontecendo?

- Vocês não ligam para mim, prestam mais atenção nos meus irmãos fazem do que em mim

Uma lágrima cai dos olhos dela.

- Não é isso filho. Seus irmãozinhos requerem atenção, hoje você já é um mocinho. O mocinho da mamãe e do papai, o qual vai nos ajudar a criar seus irmãozinhos

- Ajudar como se só levo bronca, além do que se eles fazem algo, nada acontece se sou eu, fico de castigo

-Filho, você tem de aprender que tudo tem seu tempo, sua fase de ser um bebezinho já passou, hoje você é um mocinho, veja só como evoluiu, hoje já usa o banheiro sozinho, já sabe escovar os dentinhos, tudo o que uma criança grande faz, seus irmãos não. Precisam de mim para tudo, pois ainda não sabem agir como mocinhos, apenas com o tempo eles irão aprender.

- Mas você e o papai, já fazem tudo, eu não preciso ajudar o que quero é só um pouquinho de atenção, não precisa ser nem muito, mas só um pouquinho.

Outra lágrima cai dos olhos dela.

- Filho, você é sim muito importante não só para nós, mas também para na educação dos seus irmãos, pois você é o que mais se lembra de como é ser um bebê, é como uma ponte entre nós e ele. Além de ser o exemplo que eles vão tomar quando estiverem mais velhos.

- Mas não são apenas vocês, meus padrinhos, os tios, até o vovô e a vovó, não ligam mais para mim.

- Não é que eles não ligam, é que eles estão vislumbrados com os seus irmãos, se você quer continuar tendo aquela atenção que tinha antes deles chegarem, fique perto dos seus irmãos. Então use esta dica pelo resto de sua vida, se você quer chamar a atenção mais que alguém, não se desgaste, apenas fique próximo de quem está chamando a atenção, tenho certeza que será notado. Pode parecer que estamos meio distantes de você nesses dias é que agora você tem de se adaptar, não e mais como antes, agora você tem de aprender a dividir.

- Mas o que é dividir?

- Dividir é o mesmo que compartilhar, ou seja, você tem de aprender a compartilhar. Não só suas coisas como também todo aquele amor que você recebe de nós. Porque eles também não podem ficar sem, também têm de ter, na mesma quantidade que você tem.

- Mas parece que vocês não gostam mais de mim, o amor e atenção que me dão hoje nem se compara com a que me davam anteriormente.

- Estamos todos nos adaptando, antes era um, agora são três. O amor que você tinha não mudou nem a atenção que recebia, só parece que mudou por você me ver dando atenção a eles, coisa que antes não ocorria.

-Entendi

Abraçamo-nos, ela me deu um beijo e começamos a rever momentos da minha fase de bebê, comecei até a chorar, vi que tudo o que eles faziam eram atos que eu também fazia, tive e tenho a minha atenção, o que tenho que aprender é a reparti - lá.

Hoje enxergo que o amor é tão estranho, algumas vezes amamos outras sentimos ciúme, o qual não possui razão de ser. O ciúme é um sentimento de uma perda, sem perda, uma insegurança, algo sem razão de ser. Perceber que tudo isso, esses conflitos sentimentais existentes dentro de nós é algo normal, é complicado, principalmente para uma criança. Enxergar que é natural do ser humano viver em sociedade, viver dividindo.

Dividir é o que falta no vocabulário das pessoas, no qual o egoísmo acaba por superar. Muitas vezes sentimos que o amor está escasso, por não sabermos dividir, e achamos que a pessoa amada tem por obrigação saber que estamos chateados, que ela tem de saber entender o que estamos sentindo.

Creio que o amor se torna complicado por isso, pois é tão estranho, horas sentimos raiva, outras não, vivemos nessa explosão de sentimentos sem controle, sendo que saber lidar com eles é o segredo.

O que não podemos nos esquecer é de que os amantes nunca esgotam as criaturas amadas, porque o amor não é um sentimento que vive no presente, mas sim um sentimento de futuro, ou seja, um sentimento que nunca se esgota, o qual supera qualquer barreira imposta pela vida.

FIM

Vinícius Bernardes
Enviado por Vinícius Bernardes em 16/12/2011
Código do texto: T3392491
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