SEM ERA UMA VEZ...
 
          Eu sou uma garotinha esperta que não acha graça nessas histórias que começam com “era uma vez”.  Era uma vez coisa nenhuma! Se começar assim eu já dou logo o grito: para! Não tem coisa mais boba do que essas historinhas de “era uma vez”.  E aí vem um monte de balela: é lobo que engole avó, é carruagem que vira abóbora, sem contar outras coisas “mirabolantes” que acontecem quando ouço essa conversa fiada de “era uma vez”.  
          Então resolvi criar minhas próprias histórias que nunca começam com “era uma vez” e nem terminam “felizes para sempre”. História para mim é assim, ó: não tem príncipe, nem princesa, não tem fada, não tem lobo, não tem nem um porquinho, quanto mais três. Sabe que histórias eu ainda acho mais ou menos? As que não ficam pensando que toda criança é boba.   
          
          Raciocinem comigo: quem vai acreditar hoje em dia numa história sem pés nem cabeça?  Uma das minhas histórias preferidas eu mesma criei. Peguei lápis e papel, fui desenhando e contando a história de uma barata que ficava indignada toda vez que queria se aproximar de alguém e as pessoas fugiam amedrontadas! A situação piorava quando iam prá cima dela com um chinelo, querendo exterminá-la! Aí ela corria, se escondia atrás dos móveis, subia parede, descia... e a coisa só acalmava quando desistiam de procurá-la. Imaginem como era difícil a pobrezinha se esquivar quando burifavam aquele spray “mata-baratas”. Ô gente má é ser humano! Que mal faz uma baratinha? E dizer que tinham mulheres que desmaiavam, subiam nas cadeiras, gritavam feito loucas, quando viam a pobrezinha. E ela só queria agradar...
          Mas a minha história, ou melhor, eu (a autora) dei um jeito nisso. Pensei numa maneira das baratas agradarem os humanos. Mas humano é bicho chato que não se agrada com qualquer coisa, muito menos com baratas. E foi aí que pensei o seguinte: A baratinha estava carente e só queria ser aceita. Então tratei de fazê-la entender que era importante. Afinal de contas, era a personagem principal da minha história. Mostrei a ela os meus desenhos e neles, ela reinava absoluta.        
 
     Pois bem. Ela ficou feliz e me agradeceu. Voltou para o seu cantinho se sentindo importante. Nem ia mais ligar quando a olhassem com nojo. Ela agora sabia que tinha valor. Mas para que essa história não tivesse “final feliz”, eu alertei a baratinha: “você pode ser importante, isso ajuda, mas não vai impedir que algum humano acerte a chinelada. Portanto, cuide-se”.

By Angela Ramalho
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