VOCÊ SPEAK INGLÊS?

Clarisse era uma menina muto observadora, adorava ouvir música e ler.

Suas músicas prediletas eram as cantadas em Inglês, só por causa das melodias, pois as palavras não faziam sentido nenhum. Ela tentava murmurar as líricas só repetindo os sons que escutava, num non-sense completo. Depois de um tempo neste eterno balbucio melodioso, ela decidiu tentar aprender o tal do Inglês.

E assim o fez, Clarisse pegou na biblioteca, um pequeno dicionário que traduzia e dava a pronúncia do Inglês para o Português e começou a sua façanha.

Por onde andava, Clarisse não tirava os olhos do seu companheiro dicionário, tentando dizer o nome de tudo que encontrava pela frente em naquela Língua toda enrolada.

Passeando pela rua encontrava uma árvore e dizia:

- Tri (tree)!! Com muito entusiasmo e orgulho.

Chegando em casa, apontando para mesa da cozinha:

- Teibol (table) e pleites (plates). Dizendo, pausadamente tocando na mesa e nos pratos, tentando memorizar o maior número de palavras possíveis.

- Laite (light). Quando se deparou com uma lâmpada.

Clarisse articulava exageradamente todas as palavras, sua língua fazia malabarismos se retorcendo dentro da boca num esforço fenomenal para que o Inglês soasse como Inglês.

E assim, Clarisse treinou pronunciar as palavras até se cansar. Contudo, ela chegou num ponto, em que, sem querer, começou a misturar as duas Línguas. Ela começava uma frase em Português e terminava em Inglês, ou vice-versa.

E as frases ficavam assim:

- Eu quero uma épol(apple) , plisi (please)- Disse ela pedindo uma maça, por favor.

- Você spik (speak) Inglês?

- Eu leio o Buk (book).

- Eu estou Reppi (happy) hoje!!

Conclusão, não dava pra entender bulhufas.

Clarisse começou a ter vergonha de conversar com as pessoas, pois todo mundo ria do jeito que ela falava. Seus amiguinhos a olhavam com estranheza, ninguém mais entendia o que Clarisse falava, pois nem o Português, nem o Inglês saiam de acordo.

E muito triste, ela não conversava mais com seus coleguinhas na escola, procurava ficar bem quieta e em casa soltava umas poucas palavras.

Passaram-se alguns dias e na sua escola apareceu um novo aluno, que se chamava Peter. Ele era americano e havia se mudado para o Brasil. Peter era um menino muito tímido e estava aprendendo o Português; e como Clarisse, também estava confuso com a nova Língua e misturava tudo numa frase. As primeiras palavras de Peter foram:

- Eu laike (like) do Brazil!!- Querendo dizer que ele gostava do Brasil, tentando não enrolar tanto a língua.

E todos saiam rindo. Assim, Peter procurava não falar muito, com medo de soar estranho e errar na pronúncia. No entanto, um dia ele encontrou com Clarisse e queria fazer amizade e soltou num fio de voz:

- Hello!! Todo tímido e se enchendo com um pouco mais de coragem, logo em seguida emendou:

- Eu speak Inglês, I mean, Português. Gaguejando e todo confuso.

- Hello!! Eu speak Inglês também. Respondeu Clarisse toda surpresa, pois havia encontrado alguém que falava como ela e a entendia e a partir daí começaram a trocar algumas palavras. E logo, estavam papagaiando o tempo todo, agora sem se envergonharem do jeito diferente de se comunicar. E nestas conversas, Peter e Clarisse acabaram aprendendo um a Língua do outro, sem mais se confundirem os idiomas.

Ah!! Clarice agora estava pensando em aprender russo, pois ela havia recebido um cartão postal com as letrinhas que pareciam todas invertidas, e ... bem, esta história fica para uma outra ocasião.