O URUBU E A TARTARUGA

A professora, na sala de aula, conversava com os alunos. O assunto era aves, em especial o urubu. As crianças queriam saber por que o urubu come carniça, pois ao ser criado ele comia carne fresca igual às outras aves carnívoras. Elisa, a professora, começou a contar e a classe, em profundo silêncio, ouvia.

- Conta a lenda que Nossa Senhora resolveu dar uma festa no céu regada a boa comida e água fresca. Ela chamou um dos anjos e disse:

- Quero que convide todos os bichos.

O anjo apressou-se e todos os bichos ficaram cientes de que deveriam comparecer ao céu para a festa da mãe de Jesus. O problema era o transporte.

Como eles chegariam ao céu? Ficou estabelecido que os peixes fossem levados pelo arco-íris. Já as borboletas, os besouros e todos os insetos teriam como transporte o senhor vento. E os pássaros? Para eles seria fácil, era só bater as asas, chegar às nuvens e entrar no céu.

Foi aí que um cãozinho perguntou:

- E os outros animais? A onça, o tamanduá, por exemplo, como chegarão ao céu?

Depois de muita discussão, ficou combinado que as aves levariam animais como porcos-do-mato, veados, onças, pacas, cutias, lontras e tamanduás. E foram milhares de aves transportando os animais para a festa no céu. Mas um grito ecoou no espaço.

- Pessoal, e eu? Quem vai me levar para o céu?

Quem gritou assim foi a tartaruga preocupada, pois não queria chegar atrasada à festa de Nossa Senhora. O urubu foi escolhido para transportar a grande tartaruga ao céu. Com a ajuda de um exército de bichos a tartaruga conseguiu se ajeitar nas costas do urubu.

- Segura aí comadre que lá vou eu!

E o urubu voou com a pesada tartaruga nas costas. Ora ela escorregava para a direita, ora para a esquerda machucando o pescoço pelado do urubu. O urubu suava em bicas por causa do peso da pobre tartaruga. Em pouco tempo de voo ele já havia perdido a esperança de levar a tartaruga ao céu.

Não aguentando mais, ele deu uma guinada para a esquerda fazendo a tartaruga despencar céu abaixo indo estatelar-se nas pedras partindo em pedacinhos o seu casco. O urubu riu e disse para as outras aves.

- Bem feito! Onde já se viu uma tartaruga pesada querer ir para o céu. Além do mais sobrará mais daquela comida gostosa para mim.

O fato chegou ao conhecimento de Nossa Senhora que não gostou nadinha. E quando o urubu chegou ao céu, Nossa Senhora o chamou para um cantinho e perguntou muito séria:

- Acha que foi correta a sua atitude covarde?

- Mas Senhora, a tartaruga pesa e come demais.

- Pois muito bem! A partir de agora só comerás carne podre, carniça.

- Foi por causa dessa atitude covarde que o urubu perdeu o privilégio de comer carne fresca. – terminou Elisa, a professora.

10/04/12

(histórias que contava para o meu neto)