não era uma rua ladrilhada
não havia uma sala mobiliada
tinha uma cozinha tão grande
quanto minha imaginação
em noites de inverno rigoroso
acendia-se uma fogueira,
no chão de terra batida,
no centro da cozinha
 em volta bancos em círculos
e causos de assombração.
ficava com medo e desperto
 
qualquer barulho corriqueiro
sentia como mero forasteiro
vagando com destino incerto.

na sala dos mortos faziam-se as orações
composta de retratos imponentes e carrancudos
mortes trágicas e lentas capitais-obrigações
apenas sussurrados a surdos-mudos.
 
um armário bem grande de madeira sadia
latões de doces e biscoitos
ali eram trancafiados até o santo dia
de santo antônio

o casamento como introito.
as surras com varas de marmelo
não conseguiam afugentar as travessuras
espetar espinho de laranjeira no ovo
deixando a culpa para o gambá-mucura.
 
um dia resoluto a me afogar
por causa de uma briga mal resolvida
corri para a lagoa com a certeza
que todos viriam me salvar.
não era uma rua ladrilhada
era a liberdade em ebulição
uma ternura agasalhada
num mundo de imaginação.

 
 
elaenesuzete
Enviado por elaenesuzete em 18/09/2012
Reeditado em 10/07/2016
Código do texto: T3888430
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