A raposinha LOLY e o coelho ZUKI (II)

                         CAPÍTULO II

 
A primeira noite do coelho Zuki na floresta não foi uma experiência muito agradável para ele, apesar do pacto de amizade e parceria com a raposinha Loly.
Sem a presença da lua, a casa de Loly ficava muito escura. A raposinha adormecera logo após o pacto, deixando Zuki temeroso do que poderia lhe acontecer naquele ambiente selvagem e desconhecido.
Assim que amanheceu, Loly acordou e foi logo dizendo, enquanto fazia seus alongamentos matinais:
- Vou sair e não sei a que horas voltarei. Preciso encontrar comida. Para sua segurança, sugiro que permaneça na caverna.
-Também estou faminto. O que posso conseguir aqui por perto?
A raposinha observou Zuki por uns instantes e confessou:
- Ainda acho que não deve sair da caverna. Vou conseguir alguma coisa para você comer. – E saiu sem mais nada dizer.
Zuki seguiu Loly até a entrada da caverna, mas desistiu, após vê-la mal humorada. Afinal, raposas gostam da carne de coelho, pensou.
Mal havia chegado a esta triste conclusão e Loly já retornara, com um punhado de plantas nas mãos:
- Não sei do que gosta além das cenouras, mas entre estas plantas, deve encontrar algo que conheça ou goste.
Desconfiado, Zuki cheirou cada planta até encontrar um pé de Funcho entre as demais plantas. Ele gostava daquele sabor agridoce e agradeceu:
- Obrigada Loly! Sorte na sua busca por comida e até mais.

Loly deixou a caverna antes de ouvir as últimas palavras de agradecimento de Zuki. Sentia-se muito cansado pela noite mal dormida. Escolheu  um cantinho bem escuro por detrás de uma imensa pedra e acabou adormecendo, mesmo com medo.
Quando acordou, Loly ainda não retornara para casa. Zuki teve tempo para refletir sobre sua atitude de fugir do sítio com uma raposinha. No sítio, ele tinha uma vida mansa, com comida em abundância e muitas cenouras para alimentar a sua gula.Triste, concluiu que na floresta não haviam cenouras.
Deixou seu esconderijo e foi saltitando até a entrada da caverna. O dia lá fora estava ensolarado e os pássaros cantavam alegres pela mata.
De repente, um animal enorme chamou sua atenção. Jamais vira um bicho como aquele no sítio de seu Fritz. O animal era maior que Loly e tinha um pelo escuro. Possuía uma boca enorme, cheia de dentes afiados. Quando ele gritou, a mata estremeceu. Até os pássaros calaram o seu cântico. Era um Javali. Será que o Javali, assim como Loly, se alimentava de carne?
Desesperado de medo, Zuki voltou para o seu esconderijo e ali permaneceu com o coração acelerado, aguardando o retorno de Loly.
As horas foram passando e inquieto, ele deixou novamente o esconderijo, para avaliar melhor a segurança da casa de Loly. Imensas pedras formavam paredões entre as fendas da caverna. A casa de Loly era um buraco encravado numa das entradas da caverna. O que teria por trás daquelas imensas fendas?
Como era muito curioso, o coelho ultrapassou uma delas e a princípio, viu somente escuridão. O breu tomava conta do interior da caverna. Zuki tinha uma desvantagem porque sua visão era deficiente em ambientes com pouca luz. Estava muito sedento e lá do fundo da caverna vinha o barulho de água. Precisava beber água com urgência.
Quanto mais andava, mais escuro ficava e nada de encontrar o rio subterrâneo com muita água. Já andara muito e sem direção certa. Apenas se guiara pelo barulho da água. Será que havia se perdido? E o barulho da água? Será que fora mera imaginação por estar muito sedento?
-Seu coelho idiota, porque não atendeu o pedido de Loly e permaneceu na casa até ela voltar? – choramingou Zuki.
Ele já tremia de pavor na escuridão do lugar. Fechou os olhos e ali ficou até sentir algo tocando seus braços. Deu um salto para o lado e gritou:
- Quem está aqui?
- Sou eu, o ratinho Tutuko.
- Sai de perto de mim! Tô armado...
O ratinho Tutuko distanciou-se um pouco e falou:
- Achei que estava perdido... Ouvi alguém chorando...
- Eu chorando?- disfarçou Zuki.
- É a primeira vez que se aventura por estas bandas? Nunca vi um coelho por aqui...
- Tá bom! – confessou Zuki. Tava com sede e resolvi procurar água para beber. O rio fica muito longe daqui?
Tutuko sorriu da inocência do coelho. Assim como a raposa, ele possuía visão noturna privilegiada e conseguia ver a expressão apavorada do coelho, apesar da escuridão do lugar..
- Quer dizer goteiras?
- O que são goteiras?
- É a água que se desprende das rochas lá no alto e cae no chão.
Inocente Zuki perguntou: - Não tem água corrente por aqui?
Tutuko respondeu: - Acho mais fácil conseguir água na mata. Aqui tá difícil. Conheço tudo por aqui. Se quiser, posso acompanhá-lo até a entrada da caverna.
- Obrigado amigo Tutuko! Preciso mesmo voltar para a casa de Loly.


Enquanto isto, Loly já havia retornado da caça. Feliz, entrou na casa cantarolando uma canção que gostava muito. Achara alimento suficiente para matar a fome e ainda armazenara uma parte da caça para o dia seguinte.
Mal entrara na caverna e chamou: _ Zuki? Pode sair do seu esconderijo.
Nada! Silêncio total.
Loly então saiu à procura de Zuki. Da entrada de sua casa, estudou a mata por todos os lados:
- Coelho idiota! Onde se meteu?- resmungou.
Procurou por todos os lados e não o encontrou.


Quando Zuki e Tutuko finalmente apareceram na casa de Loly, ela estava muito irritada e desabafou:
- Seu coelho imbecil! A mata é território de predadores. Eu faço parte deste mundo... Nosso pacto não vai dar certo... Já no primeiro dia, você some de casa sem dar satisfação? E eu fico aí imaginando se já não virou comida.
Zuki permaneceu calado. Porém Tutuko, logo saiu em defesa do coelho e argumentou:
- Ele só entrou no fundo na caverna para procurar água para beber. Comigo ele tá seguro.
- O que quer dizer com isto? Por acaso está insinuando que comigo ele corre perigo e pode virar refeição? Você não me conhece o suficiente seu rato intrometido. – Desabafou Loly.
Ela ainda estava muito zangada e prosseguiu:
- Além do mais, sou muito jovem para ser responsável por um coelho fujão e desobediente. Amanhã, bem cedo, vou devolvê-lo ao sítio, de onde não deveria ter saído.
- Mas e o nosso pacto? Não vai nem sequer me dar uma segunda chance?
- Olha coelho Zuki, desde pequena sou independente. Meus pais foram mortos por caçadores e só sobrevivi até hoje porque sou muito esperta.
Tutuko escutava calado, mas Zuki argumentou: - Lá no sítio ouvi falar em leis de proteção a animais nativos e selvagens. Você Loly está na lista dos animais em extinsão no Brasil? Eu, posso até ter tido uma vida mansa lá no sítio onde nasci e fui criado, mas quando seu Fritz decide vender ou abater seus animais, ele o faz. Eu faço parte da cadeia alimentar dos humanos.
- Assim não dá para ser feliz. – desabafou Loly.
Foi a vez do ratinho Tutuko falar:
- Vocês dois reclamam de barriga cheia. Eu sou considerado um animal peçonhento pelos humanos. Meus parentes branquinhos já nascem com a única finalidade de servir de cobaias de laboratório. Ainda bem que tenho uma visão privilegiada para ver bem com pouca luz. Vivo em tocas e só saio à noite, enquanto os humanos estão dormindo.
Coçou uma de suas orelhas e continuou: - Além do mais, nos sítios e fazendas, costumam colocar veneno para atrair os bichinhos famintos. As vezes não sobra nenhum parente meu para contar a história.
Quando Tutuko se calou, Loly e Zuki entreolharam-se compadecidos com a história dele e decidiram fazer as pazes, prometendo cuidar um do outro e convidaram Tutuko para viver com eles e também ser amigo deles.
- Gosto da minha liberdade e já possuo a minha morada perto daqui. Prometo visitá-los sempre que sobrar um tempinho. Até outra hora amigos. – E sumiu por uma fenda em meio as inúmeras pedras da caverna.


Escrito por Cristawein
Cristawein
Enviado por Cristawein em 23/10/2012
Reeditado em 18/10/2022
Código do texto: T3948263
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