A FLOR DO JARDIM

No jardim de uma abadia vivia

Uma bela flor que jamais sorria.

Era tanta e tanta melancolia

Que nem o canto ou a gritaria

Das crianças em suas correrias

Faziam a flor mover uma pétala.

As outras flores ao redor dela

Desde a mais simples a mais bela,

Todas com muita e muita cautela,

Falavam do céu e da doce aquarela

Que Deus pintara ao redor delas.

Mas a flor continuava taciturna

Guardando seu segredo em urna

Escondida em profunda furna

Da terra desconhecida, soturna,

Que é seu coração de flor diurna.

Mas a amiga névoa fria, noturna,

Borrifou a flor triste e desbotada:

“Amiga, desperta! Veja, já é madrugada.”

A flor acordou. Mirou o céu desencantada

E viu o garboso sol em sua caminhada

Para mais um desabrochar de bela alvorada.

Foi nesse instante que a flor emocionada

Revelou o motivo de tanta dor e tristeza:

Era a procura por Cristo, por sua luz e beleza,

Pelo caminho, a verdade e a vida em sua grandeza.

“Segue-me!” Disse o sol em sua afoiteza.

E as pétalas da flor ganharam cor e delicadeza.

Liberta da amargura e da incerteza,

Ela passou a seguir o sol com sutileza.

17/03/13