PÁSSAROS E GAIOLAS

Havia uma pequena ilha dominada por pássaros de todas as formas e cores. Uns de bico comprido, outros mais curtos e de vez em quando uns achatados. Eles também variavam nas cores, indo do preto ao branco, passando pelo azul e o amarelo. E mesmo de cores iguais e bicos parecidos, entre eles o canto podia ser bem diferente. Alguns eram muito estridentes, outros mais suaves, tinham os que cantavam pouco e também os que nunca ficavam em silêncio. Mas mesmo sendo muito diferentes em bicos, cores e cantos, todos eram pássaros.

Interessante também é que nesta ilha quase tanto quanto o número de pássaros era o número de gaiolas. Tinha para todo gosto: desde as bem pequeninas até as enormes. Havia quem preferisse as quadradas enquanto outros preferiam as redondas. Algumas eram muito simples e feita de material bastante pobre, já outras eram luxuosas e cheias de conforto. As cores também eram inúmeras, tinha desde as que eram azul claro listrada com verde até as amarelas com bolinha roxa. E mesmo muito diferentes umas das outras todas eram gaiolas.

Por mais estranho que pareça, foram os próprios pássaros que construíram as gaiolas. Não se sabe desde quando, mas se falava que uma de suas principais funções era proteger das tempestades e servir de abrigo durante as noites muito escuras. Com o tempo perceberam também que pássaros diferentes, dentro de uma gaiola se tornavam muito parecidos. Talvez pelo tempo de convivência, eles começavam a falar e a pensar de maneira bastante igual entre eles.

Não demorou muito começaram haver muitas brigas entre os pássaros. Pássaros que moravam nas gaiolas quadradas diziam que a visão da vida era quadrada e por isso viviam atacavam os moradores das gaiolas redondas, que batiam o pé dizendo que a vida era redonda. Os pássaros da gaiola amarela não suportavam o que moravam na gaiola azul listrada de verde. Até mesmo os pássaros que viviam nas gaiolas luxuosas discutiam com moradores de outras gaiolas requintadas. Era difícil aceitar as diferenças.

De tanto brigar, alguns decidiram por um ponto final nestas discórdias. Diziam estes que a prática de vôo era a grande responsável pelas contendas. Isto porque, não importava o tamanho das gaiolas, voar ficava cada vez mais desconfortável e perigoso. Grupos contrários diziam que por mais cômodas e bonitas que fossem, no fundo no fundo as gaiolas nada mais eram do que prisões. Não adiantou. Em pouco tempo voar se tornou ilegal com a justificativa de que esta proibição era “para o bem de todos”.

Quando os mais jovens perguntavam por que os pássaros não voavam, quase sempre estes respondiam que era coisa de pássaro desocupado. E foi assim que naquela ilha as gaiolas se tornaram mais importante do que os pássaros. Eles passaram a viver tanto tempo sem voar até que esqueceram que um dia tiveram asas.