A UVA VIÚVA E O ALFACE DIFÍCIL

Cenário:

Um andar de uma geladeira onde se concentram os personagens, além de produtos armazenados como: caixa de leite, lata de goiabada, fatia de queijo, iogurte e outros.

Iluminação:

Podem ser usadas outras cores, quando a situação pedir: mas, na maioria das vezes, a cor seria o azulado, para efeito de frio, reforçado por jatos de gelo seco.

Personagens:

1 – VERDUGO:

Um alface um tanto quanto afetado, que sonha em estrear um musical no mercado Municipal, Muito alegre e paciente, ele vê em Abobrinha uma amigo leal, e tem uma maneira especial quando grita o seu nome: Abobrinha!

2 – OLERÁCEO:

Um fruto de açaí intelectual que está mais para almofadinha e vive citando máximas conforme a ocasião. Todo empertigado, gosta de mostrar que é conhecedor das coisas.

3 – UVONILDA:

Uma uva que, preocupada em não terminar os seus dias sem companhia, vive enchendo o paneiro do açaí, solicitando que ele a faça participar do show de Verdugo.

4 – ABOBRINHA:

Uma abóbora atrapalhada. Principal causa do atraso da peça de Verdugo. Vez em quando faz uma mancada mandando tudo para o espaço. E é um grande bajulador do alface. Tem uma risada engraçada: iaca, iaca, iaca.

5 – SANFONA:

Uma lagarta “carnívora” que entrou por acaso na geladeira em verduras mal lavadas. Vive reclamando do clima frio, usa cachecol e sofre de rinite.

6 – VAQUINHA:

A Vaquinha da caixa de leite tem uma participação bem pequena e é manipulada como fantoche. Fica imóvel quase toda a peça e entra apenas no final. Para criar algum efeito em um público mais observador, pode-se movimentar seus olhos, vez em quando, como se observasse o desenrolar da trama, durante a peça.

Observação: Em se tratando de uma peça inédita, se apresentação ficar longa, a mesma poderá ser dividida em dois atos, ficando isso a cargo da direção.

Resumo da estória

Uma uva esquecida e saudosa, desde o último natal, vive tentando arrumar um companheiro e vê no Alface uma grande conquista. Este, vaidoso, afetado e arrogante, que acalenta o sonho de se apresentar no Municipal (mercado), ensaia seu espetáculo, assistido por uma abóbora muito atrapalhada, que sempre estraga tudo. O show do alface consiste em fazer todos entenderem que ele é o alimento mais completo, mais bonito e mais rico em vitaminas. Um fruto de açaí se propõe a dirigir o show, e faz tudo pra despedir a abóbora, enquanto a uva tenta de qualquer maneira substituí-la. Tudo ocorre nesse clima até o aparecimento de uma lagarta verde e feia, que causa o maior pânico na geladeira. Esta tranqüiliza a todos dizendo que é carnívora e que caiu na geladeira dentro de uma cesta de verduras mal lavadas. Garante que é seguido de uma turma que não se alimenta de vegetais. Entretanto, a lagarta está faminta, pois desceu até ali, do andar de cima, atrás de um bife que pensou ter visto. Para complicar, sente-se enfraquecida para subir de volta. E, vez em quando, dá uma recaída querendo morder alguns dos vegetais que tentam arrumar alguma coisa pra ela se entreter. E oferecem de tudo: tentam abrir a lata de sardinhas e a de salsichas. Por fim, trazem um ovo cozido com que ele se contenta. Já entrosada com o grupo, a lagarta diz que ficará tranqüila se a deixarem participar do espetáculo. O alface quer ser a única estrela, mas o açaí o convence que mesmo com a participação dos outros ele terá o seu próprio brilho, e explica o valor de cada um. Convencido, o grupo tenta reiniciar o trabalho quando a vaquinha desenhada na caixa de leite protesta e fala que todos não passam de vegetais, alimentos do homem, argumenta que eles irão para a mesa, servir de saladas ou de outra alimentação. Desiludidos, alguns tentam se entregar ao sabor da lagarta, que luta para não cair em tentação. Neste clima, a lagarta sente que é hora de construir seu casulo, pois está para entrar em processo de metamorfose. Explicado do que se trata, todos ajudam a construir o tal casulo. Enquanto constroem, em grupo, cantam músicas e descobrem suas afinidades e resolvem ser amigos dali para frente. Então a borboleta sai da crisálida e nenhum deles a reconhece de tão bela. A lagarta dá alguns conselhos a todos e promete levar um deles que não esteja satisfeito morando ali. Todos, menos a uva, querem ficar. Esta quer conhecer novas geladeiras e fazer novos amigos e, quem sabe, arrumar um companheiro. A borboleta promete levá-la até uma parreira que viu ali perto onde ela poderá conhecer novas uvas. O alface aceita seu destino de virar uma bela salada, e só não quer que joguem nos seus olhos. O açaí diz que vai voltar para o andar de baixo onde está o resto de sua turma e a abóbora garante que seu sonho sempre foi virar doce, o que a vaquinha garante, dizendo isso da dona-de-casa, no próximo sábado. Todos satisfeitos cantam uma música que encerra a peça e a alface ainda diz que o espetáculo que ele queria aconteceu ali, com aquela platéia maravilhosa. agradece a todas as crianças e ao público em geral.

A UVA VIÚVA E O ALFACE DIFÍCIL

UVONILDA

(Cantarolando, abraçada com um quadro com o foto de seu marido. Apenas uma uva) – Oi, criançada! Meu nome é Uvonilda... Uu, v,o, vo, ni, nil, da,da,da: Uvonilda. Eu sou uma uva. Conhecem uva? E eu era casada... O nome do meu marido era Uvolino... Ai, Uvolino, que saudade de você, menino... Bem, mas a vida continua, não é, criançada? Tenho que arrumar um novo marido. (Vai até um canto e larga o quadro do marido). Sabem onde eu moro? Sabem o que é isso? Geladeira??? Não, é meu condomínio. Eu moro aqui... Eu acho que vocês estão enganadas... Não?! Bem, pode até parecer uma geladeira, mas é um condomínio...

Olhem, crianças, como eu falei, tenho que arrumar outro marido... E, não falem nada pra ele, mas eu já avistei um lindo rapaz, digo, um lindo alface, rodando por aqui perto. Lindo, lindo... Todo verde... verde... verde alface. Soube que ele gosta de cantar e, por isso, eu ando exercitando: lá, lá, lá. Meu nome é Uvonilda, mas como não soa muito bem, eu vou dizer pra ele que me chamo Uvete. “Uvete, grapete, que gosta de chiclete”, essa é boa, não? Bom, deixa eu me preparar para encontrá-lo, lá, lá, lá, lá... Ninguém fala nada, tá? (Sai de cena, saltitante).

VERDUGO

(Entra, dando uma passada no texto, seguido por Abobrinha com algumas folhas de papel na mão. Fica andando de uma lado para o outro lendo baixo.) Bzzzz, bzzzz, bzzzz... é... acho que ta bem decoradinho. Vamos ver então.

Vai Abobrinha, você é o apresentador do espetáculo e me chama, vai... (nota a platéia e fica todo posudo. Chama com o canto da boca) Abobrinha... Abobrinha... (esta não percebe, lendo o texto e fazendo gestos com as mãos. Verdugo grita) ABOBRINHA!! (Abobrinha leva um susto e fica meio perdida no palco. Atende Verdugo).

ABOBRINHA

O que é?

VERDUGO

Deixaram o portão aberto, de novo... E ta cheio de crianças aí fora!

ABOBRINHA

Que nada, Verdugo. Esse pessoal aí é a platéia...

VERDUGO

Platéia?! Tem certeza?... eu pensei que eram crianças... Ouvi dizer que crianças adoram comer verduras: alfaces, tomates, cenouras... E eu sou um alface, não esqueçam disso... crianças, quero dizer, platéia, tudo bem?... Eu sou um alface, viu?... Meu nome é Verdugo. Estou ensaiando para um show que vou fazer no setor de verduras do mercado municipal...

ABOBRINHA

Eu sou Abobrinha, uma abóbora...

VERDUGO

(Imitando, grotescamente) “Eu sou Abobrinha, uma abóbora...” Claro que é uma abóbora... O que queria que fosse Abobrinha, uma couve? (Tempo. Volta-se para a platéia). Bem, como eu estava dizendo, tenho que ensaiar, ouviu platéia? Vocês prometem ficar aí quietinhos? Tá? Tudo bem!!

Abobrinha, você apresenta o espetáculo... E o espetáculo sou eu, sendo assim, você me apresenta...

ABOBRINHA

Sabe o que eu gostaria? Era de participar do show...

VERDUGO

Como assim, participar do show? O que você sabe fazer?

ABOBRINHA

Se cantar, dançar, imitar... Mas, o que eu mais gosta de fazer é... (Verificar o que o ator tem mais afinidade).

VERDUGO

É, até que não tá mal... Mas o texto já está escrito e nele eu sou o estrelo, entendeu? Vai... me chama!!

ABOBRINHA

(Meio contrariado) Mas como vou apresentar o espetáculo, se nessa hora eu vou estar lá atrás do público te dando o maior apoio e gritando feito louco para animar a platéia?

VERDUGO

Não... não... (gritando) NÃO! Abobrinha. É só pra dizer, entendeu? Pra dizer. Ó: p-r-a-d-i-z-e-r, FAZ-DE-CONTA, certo?

ABOBRINHA

Quer dizer que na hora eu não vou precisar te chamar, não é?

VERDUGO

Exatamente!

ABOBRINHA

É só faz de conta...

VERDUGO

Exatamente!

ABOBRINHA

O meu papel de verdade é o de te dar o maior apoio, lá dentro, certo?

VERDUGO

Exatamente!

ABOBRINHA

Porque dois trabalhos é mais trabalhoso, sabe... Dá mais trabalho!

VERDUGO

Exatamente, eu sei disso!... AGORA VAMOS ENSAIAR? (gritando)

ABOBRINHA

Exaustivamente!... (engole seco. Glup!)

VERDUGO

(Se recompondo e retomando a posição). Vamos ensaiar durante uma hora, viu? Bem, as pequenas apresentações já aconteceram e tá na hora do GRANDE ESPETÁCULO!! Aí você me chama... vai...

ABOBRINHA

Er... er... É isso aí! Vai Verdugo! Viva!!... é o maior!!...

VERDUGO

(Perdendo a pose). Ei, que é isso? Você tem que me chamar...

ABOBRINHA

Desculpe, Verdugo, é que eu tinha ensaiado tanto esses gritos de apoio que foi só o que me veio à cabeça...

VERDUGO

Tudo bem, mas agora você vai falar assim, ó: “Senhoras e senhores! Ladies e gentlemen! Agora vocês vão assistir... ou melhor... é.... (procurando uma apresentação melhor. Fala enfático). Assim, ó... terão prazer de assistir o grande Verdugo com sua apresentação vitaminosa. E com vocês: Verdugo Verde Verdoso, o grande!!!”

ABOBRINHA

Eeeehhhh! Hurraaaa! Que venhaaaaa! Bravoooo! Aí eu entro: vai Verdugo! Viva!... é o maior!!...

VERDUGO

Isso! Agora você... vai, me chama....

ABOBRINHA

Tá bom! Xá comigo... éééé... (esquecido)

VERDUGO

Senhoras e senhoras (para que Abobrinha repita)

ABOBRINHA

(Enfático) Acerolas e cenouras...

VERDUGO

Ladies e gentlemen...

ABOBRINHA

(Idem) Lêndias e gemas...

VERDUGO

Nãããããooooo...

ABOBRINHA

Ah, deixa comigo: Nããããoooo!! (aí ele compreende) Opa! Er... desculpa, Verdú, mas é melhor eu ficar só na trocida lá atrás... senão complica...

OLERÁCEO

(Entra o açaí com um livro sob o braço e fazendo pouco caso da cena) tsc, tsc, tsc... Oh, meu caro Verdugo, até que você não é uma mal artista, mas... vem cá um instantinho... (chama a alface em particular) Porque insiste com esse cara?

VERDUGO

Bem, ele é meu amigo, está comigo desde o início, fomos plantados na mesma horta... Seus pais se alimentavam do mesmo adubo que eu... Tá certo que ele, no fundo, quero dizer, no raso, é um pouco atrapalhado, mas no fundo ele é boa gente, digo, um bom vegetal. As crianças gostam dele... (os dois olham para a platéia curiosos). Bom, pelo menos deveriam gostar, porque ele é também muito importante na alimentação, possui muitas proteínas e é necessária para todos crescerem sadios. Por falar nisso, essa aqui é a platéia...

OLERÁCEO

(Almofadinha) Oi platéia! Meu nome é Oleráceo. Sou fruto do açaizeiro, cujo nome científico é Euterpe olerácea, daí o meu nome: Oleráceo. (Caso o fruto não seja conhecido na região, dar mais detalhes). Muito prazer! Vocês estão bem?

Toca a campanhia.

VERDUGO

Quem será agora?

ABOBRINHA

Será que são seus fãs, querendo autógrafo?

OLERÁCEO

Talvez seja melhor verificar, não acham? (os dois dão a dica de que Abobrinha deve ir).

ABOBRINHA

È verdade! Então eu vou...

UVONILDA

(Entra saltitante com uma cesta em sua mãos, toda coquete). Olá pessoal!!! Você eu há conheço! (Diz piscando para o açaí). Esse aqui eu já andei topando por aí... (Muda de tom). Aliás, ele já trombou comigo diversas vezes, não é, seu desastrado!

ABOBRINHA

Pôxa, dona uva, desculpa...

UVONILDA

(Ainda irritada). Tudo bem... (Virando-se para o alface, volta ao tom inicial). Bem... Você eu ainda não tinha visto... (Faz sinal para a platéia).

VERDUGO

Pois acho que a gente se viu, lá no show de patinação no gelo, no último andar.

UVONILDA

Ah, lá no congelador... (Vira-se para a platéia). Digo, lá na cobertura... é... bem... talvez... Mas nós ainda não fomos apresentados... (Diz dando uma cotovela no açaí).

OLERÁCEO

Aí... quero dizer... (Pigarreia). Aham!... Permitam-me fazer as apresentações formais... Este é Verdugo, o alface, e esta é a senhora... (outra cotovelada) Senhorita, senhorita... Uvonilda (mais uma) Uvete... alinda senhorita uvete grampete!

UVONILDA

Que gosta de chiclete... (Uvonilda fica muito feliz e dá uma gorjeta escondida ora ao açaí, que passa a querer mais, na medida que aumenta as qualidades de uva).

OLERÁCEO

A estonteante senhorita Uvete... (movimento com a mão pedindo gorjeta, por trás). A maravilhosa e sensacional senhorita...

UVONILDA

Acabou! (Falando baixo para Oleráceo).

OLERÁCEO

(Ainda em tom de apresentação) Acabou!... O quê? Acabou? É como diz o velho deitado: Grana na mão ou não tem apresentação!

VERDUGO

Bem, agora chega de apresentações que eu preciso ensaiar. Ouviu dona sensacional?... er... como é mesmo o seu nome? É... dona... dona...

UVONILDA

(Para o Abobrinha). Me segura...

ABOBRINHA

Por quê?

UVONILDA

Se ele falar meu nome, eu desmaio!

VERDUGO

(Afetado). ABOBRINHA! Vai ou não vai me ajudar? (Percebe que a uva se aproximando e se afasta).

OLERÁCEO

(Que até então estava analisando o texto do alface). Um momento, meu amigo: você já mandou alguém revisar seu texto?

VERDUGO

(Tentando pegar o texto das mãos do açaí, que não deixa, e, ao mesmo tempo, tira a mão de Uvonilda que lhe tenta fazer carinhos). Por quê? Alguma coisa errada?

OLERÁCEO

Bem... Só de uma passada rápida, eu já detectei duas frases...

VERDUGO

Duas? Ora. Duas é até aceitável. (Ainda com a uva no seu pé).

OLERÁCEO

Duas frases certas. O resto tá errado, erradíssimo. É como eu sempre digo: quem não consome ferro se acaba no berro!

VERDUGO

O que? Impossível! Mostre-me aqui! Dá aqui, seu... (Consegue tomar, por fim). Ei! Este não é meu texto original! (Enxuga o rosto do beijo que levou da uva).

OLERÁCEO

Como não é o seu original?

VERDUGO

ABOBRINHA! (Grita, olhando a uva que se assusta e cai enquanto Abobrinha se encolhe todo).

OLERÁCEO

A senhora está bem, dona Uvonilda? (Correndo para ajudá-la).

UVONILDA

Senhorita Uvete, seu maluco! Esqueceu nosso trato? (Diz sem se levantar).

OLERÁCEO

(Irônico). A senhora está bem, “dona” senhorita Uvete?

VERDUGO

Eu não quis assustá-la. Como ela está? (Diz, tentando ver o que se passa).

UVONILDA

(Puxando o açaí para perto). Diz que eu desmaiei e que preciso de respiração boca a boca.

OLERÁCEO

Ei! Isso eu sei fazer...

UVONILDA

Mas, eu quero que ele faça, entendeu? Faz esse favor pra mim?... Fiado, tá?

OLERÁCEO

Tudo bem, tudo bem!

VERDUGO

(Vez em quando dá uma olhada feia para Abobrinha, que torna a se encolher, e depois volta para a cena da uva). E então?

OLERÁCEO

(Levando um beliscão). Ai! Quero dizer: ela... ela precisa de uma respiração boca a boca.

VERDUGO

Tudo bem! Pra quê servem os amigos, não é?

UVONILDA

(Fazendo gesto). Yes!

VERDUGO

Abobrinha, vai lá e faz um boca a boca no dona uva... (Empurra a abóbora).

UVONILDA

Ei. Sai pra lá que eu já tô boa! (Levanta-se toda coquete).

OLERÁCEO

(Irônico). Tem certeza Uvetezinha?... Mais vale uma abóbora na boca, que um mamão bobo do lado!

UVONILDA

Claro que sim. Sai pra lá você também! Tá maluco?

OLERÁCEO

Ah, então eu vou cobrar juros... Juro que vou!

VERDUGO

Abobrinha!

ABOBRINHA

Aaaaaiiiii... lá vem bronca...

UVONILDA

Esse cara só fala “Abobrinha”?

VERDUGO

O que você fez com o meu texto?

ABOBRINHA

É que eu ouvi você dizendo que precisava de alguém para revisar o seu texto... Aí eu quis dá uma ajudazinha... Mas foi bem pequenininha... Assim ó! (Mostrando dois dedinhos para a platéia).

VERDUGO

(Olhando para cima). Cristo, olhe pra isto! E cadê o original? (fala quase em cima da abóbora).

ABOBRINHA

Peraí que eu vou pegar! (Diz e sai de cena, correndo com medo do alface).

VERDUGO

(Sentando em uma lata de sardinhas). Ah, Abobrinha, Abobrinha... Onde eu estava com a cabeça quando te chamei pra ser meu assistente? (Fica cabisbaixo, desanimado).

UVONILDA

(Gritando. Tive uma idéia! (Puxa o açaí para o outro lado). Porque você não me apresenta como uma assistente profissional e blá, blá, blá, blá, blá, blá? (Faz algum sinal de recompensa, que anima Oleráceo).

OLERÁCEO

(Com as mãos para trás). Muito bem, meu caro Verdugo! Eu tenho a solução para todos os seus problemas!

VERDUGO

Ah, tem? Onde está? Onde está? (Tentando ver algo atrás do açaí).

UVONILDA

(Pulando e apontando para si). Aqui, aqui!

OLERÁCEO

Calma, meu amigo.

VERDUGO

Calma?... Que calma? Meu público me aguarda ansiosamente! Eu não posso deixá-lo esperar mais... Seria deselegante!

OLERÁCEO

É verdade! É verdade! Mas o seu problema é falta de...

VERDUGO

De...?

UVONILDA

(Toda posuda, acreditando que o açaí vá indicá-la). Ai! Ai! Diz logo, home!...

OLERÁCEO

De...

VERDUGO

(Inquieto). De...?

UVONILDA

(Ansiosa). De...?

OLERÁCEO

De...

VERDUGO E UVONILDA

(Cheios). DE...?

OLERÁCEO

De um novo Direitor!

UVONILDA

Isso! De um novo... TRAIDOR!

OLERÁCEO

Calma, senhorita. (Vindo na direção da uva). Como diretor eu posso indicar você como assistente. Fica tudo mais fácil. É assim que funciona. É assim como eu digo: cada macaco com seu galo!

VERDUGO

E como você espera me dirigir?

OLERÁCEO

Bem... Começaremos dispensando aquele assistente idiota. (Caminha abraçando o alface. A uva os segure e tira o braço do açaí e passa o seu).

VERDUGO

Mas ele não é um assistente.

OLERÁCEO

Ah, não? É como eu sempre digo: alho por alho, dente por dente...

VERDUGO

Bom... ele é só um pouco... é... um pouco... desastrado... na maioria das vezes... mas... tirando isso...

OLERÁCEO

É verdade. Para ser um assistente idiota, ele precisa, antes, ser um assistente. Ele é um assistente?

VERDUGO

(Uvonilda começa a passar a mão pela cabeça do alface, que afasta, delicadamente enquanto fita o açaí). Bem, assistir, ele assiste...

OLERÁCEO

Diga-me... quem fez uma fogueira com seu uniforme de palco?

VERDUGO

Tadinho... É que eu estava gripado e ele só queria aquecer o ambiente...

OLERÁCEO

Certo, certo... E quanto aos cartazes?

VERDUGO

Ah, os cartazes... cartazes... (Afastando de vez a mão de Uvonilda de seu ombro). Quê que tem os cartazes???... Ele não mandou fazer?

OLERÁCEO

Bem...

VERDUGO

Abobrinhaaaaaaaaaaa!!! (Sai de cena meio estranho, atrás de Abobrinha).

UVONILDA

Seu traidor! Por que não falou nada de mim pra ele?

OLERÁCEO

Não deu tempo, ele saiu trans-lou-cado. (Faz um arrendo da saída do outro).

UVONILDA

Hummpf! Tô quase te tomando aquele dinheiro!

OLERÁCEO

Eu o devolvo! Mas devolvo de outro jeito!

UVONILDA

Que jeito?

OLERÁCEO

Pode ser em forma de um jantar?

UVONILDA

(Convencida). Ei, sai pra lá! Eu já tenho namorado!

OLERÁCEO

Calma! É um jantar para comemorarmos meu cargo de diretor e o seu de assistente.

UVONILDA

Tudo bem, então. Mas meu namorado vai!

OLERÁCEO

Namorado? Que namorado? Desde que seu marido virou frapê você nunca mais saiu da geladeira...

UVONILDA

Pois fique o senhor sabendo que eu já tenho namorado, ouviu?

OLERÁCEO

(Irônico). Já tem é?

UVONILDA

Claro! Só falta ele saber.

OLERÁCEO

Ah, e quando ele souber, vira salada, não é?

UVONILDA

Que nada! Eu vi um brilho de interesse nos olhos dele! (Sonhadora).

OFF-SANFONA

Socorro!!

OLERÁCEO

Que foi isso?

UVONILDA

Um grito, oras!

OLERÁCEO

Tá, eu sei!! Mas quem gritou?

UVONILDA

E o mais importante... (Assustada). Por quê? (Olham os dois para a platéia, procurando).

(Verdugo e Abobrinha entram correndo)

VERDUGO

Socorro! Socorro! Não deixe que ele se aproxime...

UVONILDA

Não deixo, meu amor! Não deixo... (Abraça Verdugo, que aceita, casualmente).

ABOBRINHA

Isso mesmo! Segurem-no! (Abraça Oleráceo).

OLERÁCEO

Pode deixar que por mim ele não passa!

De repente todos se olham e percebem quem eles estão abraçando e todos gritam e mudam de par. Novamente se olham, gritam e soltam-se, ajeitando-se.

OLERÁCEO

Mas, afinal, de quem vocês estão correndo?

VERDUGO E ABOBRINHA

(Abraçando-se, os dois). DELE!!! (Pavor).

Entra a lagarta aparentando terror.

SANFONA

Aaaaaaaai!... (Sentindo algo).

OS TRÊS

(Assustados). Iáááááiii!... (Fazem uma fila e ficam imóveis).

SANFONA

Que tipo de malucos são vocês?

ABOBRINHA

(Permanecendo imóvel). Não tem ninguém aqui, seu monstro!

SANFONA

(Apavorado). Monstro?? Onde?? (Corre para abraçá-los, e eles fogem em fila, depois resolve procurar um lugar para se esconder. Toda vez que passa pelo grupo, eles se afastam).

VERDUGO

Segurem-no! É a mim que ele quer!! (De primeiro, passa a ser o último da fila).

OLERÁCEO

(Corre para trás do alface). Por que ele quer você?

VERDUGO

(Apavorado). É porque essas coisa geralmente preferem os mais verdinhos!!!...

UVONILDA

(Mãos na cintura). Ei! Seus mal-educados! Por que deixaram uma dama sozinha aqui na frente?

OLERÁCEO

Sinto muito querida, mas... “as damas primeiro”, lembra?

SANFONA

(Caindo em si). Êpa! Será que é de mim que vocês estão falando?

ABOBRINHA

Não, seu monstro! ‘Magina!

VERDUGO

Quieto, Abobrinha. Talvez ele vá embora!

SANFONA

Quem parar... Atchim!... Senão eu... Atchim!... Eu choro! Atchim!

TODOS

Saúde!

SANFONA

Estou procurando algo pra comer!

UVONILDA

Ei, não olhe pra mim... que eu já passei do ponto.

OLERÁCEO

Ah, já, não é?

UVONILDA

Bem, quero dizer... eu...

SANFONA

Querem fazer o favor de parar? (Choroso). Eu falei comida... carne... um gostoso e suculento bife que eu vi por aqui...

TODOS

Carne???

SANFONA

(Debochado). É! Carne! Por que, não?

VERDUGO

Mas, você é uma lagarta, não é?

SANFONA

Claro que sou, e daí?...

VERDUGO

Por nada, por nada... Deixa pra lá!

ABOBRINHA

É que lagartas comem vegetais, seu monstro tonto!!!

VERDUGO

Abobrinha!!! Precisa ficar lembrando?

SANFONA

Ah! Tem razão...

TODOS

O quê?

SANFONA

O... argh!! Alaranjado aí tem... atchim!... razão... As lagartas comem... atchim... vegetais!!

VERDUGO

Socorro! Ele se lembrou! Ele se lembrou! (Correndo, vai para trás de Uvonilda, que gosta).

ABOBRINHA

A culpa é minha! A culpa é minha! (Vai para perto do alface e é afastado pela uva).

SANFONA

Querem para com essa (atchim!) gritaria? Seus vegetais (atchim!) malucos! (Vai em direção ao grupo e no meio da confusão fala mas não é notado). Eu sou carnívora!

VERDUGO

Ai meu deus! Estamos cercados!

ABOBRINHA

Deixa que eu me sacrifico, patrão! (Caminha em direção a Sanfona de olhos fechados).

SANFONA

Sai pra lá, laranja maluca!

ABOBRINHA

(Irritando-se pela primeira vez, como se saísse do personagem). Ei! Qualé, meu! Quer me devorar, tudo bem! Mas não vem me confundir com uma laranja, não, heim? Não sei onde estou que não te dou uma... (Espanta a todos, nota e volta). Eu sou uma abóbora, viu?

OLERÁCEO

Peraí! Peraí, todos!

Silêncio geral.

OLERÁCEO

(Receoso). Quer dizer que você não gosta de vegetais?

SANFONA

Já disse e repito... Atchim!

ABOBRINHA

Atchim? Que é isso? Um código dos monstros?

SANFONA

(Fungando). Não! Eu vim procurar um bife que avistei lá do andar de cima. Do setor de granjeiros! Mas, pelo jeito, a fome me fez foi ver uma miragem!

UVONILDA

É verdade, meu caro! Carne nesse andar, faz tempo que não aparece!

OLERÁCEO

Vem cá! (A lagarta vem). Mas não muito!... Como uma lagarta como você veio parar aqui?

SANFONA

É que eu estava tirando uma soneca numas folhas de cenoura, logo após uma boa e farta comidinha... (atchim!) quando alguém resolveu arrancar a bendita cenoura e trazer para este lugar esquisito e (brrr!) gelado!!!! Isso ataca minha rinite!

OLERÁCEO

Ouviu platéia? Lavem bem as frutas antes de comerem ou guardarem na geladeira. E as verduras também! Senão nos podemos ficar contaminadas, tá?

ABOBRINHA

Eu tive um parente que não foi bem lavado e ficou doente!

TODOS

O que aconteceu?

ABOBRINHA

Apareceram uns buracos nele!

TODOS

Buracos?

UVONILDA

Como assim?

ABOBRINHA

Não sei direito. Disseram-me que abriram ele por dentro...

TODOS

Ooooohh!

VERDUGO

Continue!

ABOBRINHA

Querem mesmo? (Estranha a atenção dispensada).

TODOS

Claro!!

ABOBRINHA

Querem crianças?

(CRIANÇAS)

Queremos!!

ABOBRINHA

Bom! Só sei dizer que depois de fazer os buracos e de abrirem ele por baixo, colocaram uma vela dentro dele e deixaram sobre uma mesa...

Espanto.

OLERÁCEO

Ah! Já sei! É que ele foi usado no Halloween...

ABOBRINHA

Bem! Não sei se depois ralaram o rim dele, mas...

OLERÁCEO

Não! Eu falei Halloween!

TODOS

Ralou... o que?

OLERÁCEO

Ralou nada. É Halloween, a festa das bruxas, onde as crianças se divertem fazendo travessuras e comendo gostosuras, não é, criançada?

(CRIANÇAS)

Ééééé!!!

VERDUGO

(Dirigindo-se à lagarta, mas meio longe). Prazer! Eu me chamo Verdugo Verde Verdoso e...

SANFONA

(Rindo). Há! Há! Há! Como é?

ABOBRINHA

Não ouviu? Ele se chama Verdugo Verde Verdoso...

SANFONA

Há! Há! Há! Só ele pra se chamar assim... Há! Há! Há! Que ridículo!... Verdoso!...

OLERÁCEO

Oi amigo, eu me chamo Oleráceo...

Indignação e estranheza do grupo.

SANFONA

(Rindo ainda mais). Oleráceo! Há! Há! Há!

VERDUGO

E esta é a nova assistente... Uvete.

SANFONA

Uvete. Há! Há! Há! (quase deitando de rir). Eu não agüento. Há! Há! Há!

UVONILDA

Mas que atrevido! Rum!

OLERÁCEO

(Falando à parte para o alface). Imagine se ele descobre que o nome verdadeiro dela é Uvonilda...

VERDUGO

O nome dela é Uvonilda? Há! Há! Há!

SANFONA

(Ouve a conversa e deita de rir). Uvonilda! Há! Há! Há! (Termina deixando escapar um pum!).

UVONILDA

(Muito brava, mesmo). Você tinha que estragar tudo, não é?

OLERÁCEO

(Encolhido). Mas não fui eu, foi ele... (mostra a lagarta).

SANFONA

(Enxugando os olhos). Desculpem, escapou... Bom, agora se prepare para o mico do dia... (Abraça Verdugo, como velhos amigos e encaram Abobrinha).

ABOBRINHA

Ei, por que estão me olhando deste jeito?

SANFONA

Diga em alto e bom tom para que todos ouçam: como é seu nomezinho, heim?

ABOBRINHA

Ah, é!... abobrinha é só o meu apelido...

SANFONA

O apelido dele é Abobrinha... Então, preparem-se para rir crianças (para o público) que, pelo apelido, é hoje que eu me esbaldo...

ABOBRINHA

Você quer saber meu nome?

SANFONA

Isso! Não se acanhe!

ABOBRINHA

É que faz tempo que eu não falo...

SANFONA

Eu não duvido... Vamos logo que eu tô louco pra dar mais uma risadinha...

ABOBRINHA

Quer saber meu nome de batismo, não é?

TODOS

(Impacientes). Éééééé...

ABOBRINHA

(Encolhido). T-tudo bem! É... (pausa). Só não vale soltar pum, heim?

SANFONA

É agora crianças, preparem-se... Éééé?

ABOBRINHA

Éééé... (nova pausa)

TODOS

Ééééé????

ABOBRINHA

(De olhos fechados, com medo de ser anarquizado, mas ficam pasmos). Willian Wallace de Castro Wilde de Bragança e Bourbom III, da família das curcubitáceas da hortilândia, parente da maça! (decepção geral).

VERDUGO

(Queixo caído). Nossa!!! Que amigo que eu tenho. É quase um lorde! (Orgulhoso).

SANFONA

(Irritado). Bem que meu pai me falava: “sempre vai ter um gaiato pra estragar a festa, meu querido filho Sanfona...”

TODOS

(Gargalhando). Sanfona? Há! Há! Há!

SANFONA

(Tristonho). Porcaria de nome... caramba, pai...

UVONILDA

(Vingativa). Vai ver é por causa desses pneuzinhos aí. Há! Há! Há! (Apontando a barriga da lagarta).

OLERÁCEO

Mas, me diga uma coisa, seu... ééé... como é mesmo o seu nome, Seu lagarta?

SANFONA

Desculpem não ter me apresentado, meu nome é Sanfona Cheio de Perna do Fole Folhudo, seu criado. (Vê a platéia e estende a apresentação e todos aproveitam para fazer poses). Gosto de poesias, da natureza, de teatro e das coisas boas da vida.

OLERÁCEO

Dá pra repetir só o nome?

SANFONA

É Sanfona Cheio de Pernas do Fole Folhudo, ao seu dispor (atchim!).

OLERÁCEO

Ah! Esse “Cheio de Perna” é da sua mãe...

ABOBRINHA

Não! Não tá vendo que esse monte de perna é dele mesmo?

UVONILDA

Eu tô falando do sobrenome, sua anta!

ABOBRINHA

(Corrigindo). Abóbora! Sua Abóbora!

SANFONA

Para falar a verdade, essas pernas são uma herança genética...

ABOBRINHA

Ah! Eu já ouvi falar desses tais de alimentos genéricos...

VERDUGO

Cristo, olha pra isto! Ele falou: genética! Quer dizer: de pai pra filho.

OLERÁCEO

E não é alimento genérico, são remédios genéricos, quer dizer, que é produzido com substancias comuns em outros remédios. (Para Sanfona). Queira desculpar nosso infeliz amigo, meu caro Sanfona, mas me diga uma coisa: por que você, sendo um animal herbívoro, resolveu comer carne?

SANFONA

Bom! Pro começar eu nem sabia que era um herbi... herbi... isso aí que você falou...

OLERÁCEO

Herbívoro: animal que se alimenta de ervas e vegetais.

SANFONA

Pois é isso... Eu só sei que na minha adolescência eu resolvi participar de uma turma muita bacana que pratica meditação, sabe?

VERDUGO

Meditação pra comer carne?

SANFONA

Não! É que um dos quesitos para entrar na turma é mudar os hábitos alimentares! E eu, que antes comia vegetais, passei a comer carne.

VERDUGO

Carne, pois sim! E o que você fazia na folha de cenoura?

TODOS

(Curiosos). É mesmo! O quê?

SANFONA

Calma, calma! Eu explico. É que naquela folha uma aranha resolver pôr seus filhotinhos, aí...

UVONILDA

Filhotinhos? Como você teve coragem?

SANFONA

Ei! Entenda meu lado, eu precisava começar devagar, não é? (Ameaçador). Ou vocês preferam que eu continue herbi... vegetariano?

VERDUGO

Ta certo! Tudo bem! Deixa o rapaz... ele tem razão!

SANFONA

Mas, como eu tava dizendo, não tem nenhuma carnezinha por aí, não?

OLERÁCEO

Carne, com certeza não. Mas tem um queijo aí atrás. É de origem animal, não serve?

SANFONA

Queijo? Não força, vai!!

VERDUGO

Tem também aquela vaquinha, ali ó! (Aponta para a caixa de leite. A vaquina fz uma expressão de medo que eles não notam).

ABOBRINHA

É, mas é de papel.

SANFONA

Papel? Papel é coisa de bode. Nem de bode eu gosto. (Esfregando uma mão na outra, feito vilão). Só da carne, é claro.

UVONILDA

E então, seu Sanfona, o que pretende fazer agora?

SANFONA

Como eu tô morrendo de fome... há três dias que eu não como nada... e como aqui não há nada que se aproveite...

UVONILDA

(Irritada). Olha como fala comigo, heim? (vai para perto de Verdugo).

VERDUGO

Ele não está falando em termos de idade, não, dona Uvete.

UVONILDA

(Vangloriada). Ai! Ele disse meu nome! Alguém me apare...

SANFONA

Deixa que eu aparo você!

UVONILDA

Credo, você não! Vai que de repente você tem uma recaída...

SANFONA

Credo digo eu... Huuuuummmmmm!! (Fazendo som de meditação, com as mãos juntas sobre o peito, como se tivesse orando).

ABOBRINHA

Verdugo! Verdugo!

VERDUGO

Que é Abobrinha?

ABOBRINHA

Ta na hora!

VERDUGO

Na hora de quê, Abobrinha?

ABOBRINHA

Na hora de pararmos de ensaiar, oras! O senhor disse que a gente ia ensaiar por uma hora certinho. E que era pra eu avisar quando desse a hora...

VERDUGO

Mas a gente nem começou o ensaio...

ABOBRINHA

Hí! É mesmo! Iaca, iaca, iaca! (rindo).

SANFONA

Bom gente! O papo tá bom, mas eu já vou indo. Ainda tenho que subir tudo isso aí pra tentar chegar mais alto ainda! Tchau! (E vai saindo, vagarosamente).

ABOBRINHA

Tá cedo!

VERDUGO

Que tá cedo nada, Abobrinha!

ABOBRINHA

Desculpa!

TODOS

Tchau!

ABOBRINHA

Volte sempre!

VERDUGO

Que volte sempre, o quê?! Mas você, heim?

ABOBRINHA

(Se encolhendo todo). Desculpa, Verdugo!

VERDUGO

Bom, agora com licença, que eu tenho um texto pra ensaiar, alias, refazer, não é, Abobrinha?

ABOBRINHA

(Voltando a ficar encolhido). Desculpa, Verdugo!

UVONILDA

É a nossa deixa, anda logo! (Empurra o açaí).

OLERÁCEO

Como eu ia dizendo, quando fui brutalmente interrompido, meu caro colega. Eu, diga-se de passagem, sou um ótimo diretor e a senhorita Uvete, aqui, uma excelente assistente. Juntos, faríamos esse seu textinho aí virar, realmente, um espetáculo!

VERDUGO

Não sei se gostei muito desse juntos, aí, não!

OLERÁCEO

Talvez você passe a gostar quando nesse juntos estiver incluído seu grande amigo e colaborador: Abobrinha!! Não é, Abobrinha? (Abraça a abóbora).

ABOBRINHA

Dessa parte eu gostei, Verdugo! (Sério, de novo). Mas não me faça de laranja, viu?

UVONILDA

(Sonhadora). Verdugo! Que nome lindo pra um lindo alface! (Abraça, amassando-o).

VERDUGO

(Desvencilha-se do abraço). C-calma, aí. Amigos, amigos, destroços à parte!

OLERÁCEO

Ei! Adorei essa... Vou anotar!

(Outro grito ecoa em off).

SANFONA

Aaaaiii!!!!

(Todos gritam, assustados e Sanfona aparece com dor nas costas, mas com uma aparência mais ameaçadora).

SANFONA

Ai! Levei o maior... (atchim!) digo, tombo!

OLERÁCEO

Mas você não é um sagaz escalador de paredes?

SANFONA

Acho que a fome me enfraqueceu... (atchim!) além desse frio (atchim!) assombroso!

VERDUGO

N-não quer se deitar pra dormir um pouco? (pisca para o resto da turma, que assente).

SANFONA

Não! Ai! Estou com fome. Muiiiittttaaaaaa fome, entendeu?

VERDUGO

(Escondendo-se). E-entendi, entendi!!!

SANFONA

A-a-atchim! Fora a rinite e o frio!

ABOBRINHA

É uma pena que a gente não possa fazer nada, não é?

SANFONA

Ei! Esperem aí... Agora que você falou... eu tava pensando em abrir uma exceçãozinha!

VERDUGO

(Voltando a se esconder). O que você quer dizer com isso?

SANFONA

Estou pensando em saciar minha fome pro aqui mesmo...

OLERÁCEO

Eu sabia que você não ia resistir a este apetitoso queijo!

SANFONA

Que queijo, o quê? Pelo jeito vou ter que voltar ao velho hábito! Chelép! (esfregando as mãos e com a língua pra fora).

UVONILDA

Você quer dizer... voltar a comer vegetais, novamente? (entre animada e receosa).

SANFONA

Biduzona! Nham! Nham! (Começa a avançar em direção à turma).

VERDUGO

V-você não quer reconsiderar?

ABOBRINHA

Adeus, mundo cruel! Pelo menos eu não vou ter que servir pra ralar o rim!!

OLERÁCEO

Espere um momento, meu caro “lepidóptero”...

SANFONA

(Partindo pra cima do açaí). Que helicóptero, o quê? Se eu fosse um helicóptero eu já tinha voado daqui, atrás de algo mais... apetitoso!

OLERÁCEO

(Apenas para o público). Tsc. Tsc... Platéia, lepidóptero é o nome científico da lagarta, depois que ele vira borboleta, tá? (Volta-se para Sanfona). Eu gostaria de lembrar que seus amigos não gostariam de saber que você quebrou a promessa, justamente na parte da alimentação...

VERDUGO

Boa, Oleráceo!

UVONILDA

É isso mesmo! E eu faço questão de espalhar tudinho o que aconteceu aqui!!

ABOBRINHA

E quem disse que escapa alguém? Ele vai devorar todos, não é, seu Sanfona?

VERDUGO

Abobrinha!!

ABOBRINHA

(Encolhido). Desculpa, Verdugo!

SANFONA

É, talvez! Mas se vocês lerem o manual de procedimento Zen de minha turma, vocês verão que está escrito em letras garrafais: “em caso de escassez de carne, o discípulo poderá se alimentar de vegetais”! Rá! Rá! Rá!!!

VERDUGO

Ei! Onde está escrito isso?

SANFONA

No regulamento! Se você sobreviver, eu posso te mostrar!

VERDUGO

E essa agora?

OLERÁCEO

Ele está certo!

TODOS

O quê?

UVONILDA

Tá louco, semente de petróleo?

OLERÁCEO

Mas só que lá no cantinho, em letras bem pequenininhas também está escrito: em caso de uma lagarta resolver comer vegetais...

OS TRÊS

E aí?

OLERÁCEO

(Gritando). Salve-se quem puder!!!

(Começa um a corre-corre generalizado. Música animada. De repente, Abobrinha, que havia caído do palco, retorna com uma lata de salsichas de proporções imensas).

ABOBRINHA

Vejam o que eu achei!!

TODOS

É uma lata de salsichas!!!!

SANFONA

E parecem deliciosas!

VERDUGO

Estamos salvos!

SANFONA

Certo, agora, abram-na pra mim... (Esfregando o barrigão).

OLERÁCEO

Oh-oh!

ABOBRINHA

Taí um grande problema...

UVONILDA

Enorme. Faz tempo que aqui não tem um abridor de latas... xiiiii!

VERDUGO

Não digam isso! (Correndo de um lado para o outro, procurando). Não desistam sem tentar... Vamos, ajudem-me a encontrar...

(Todos começam a procurar de um lado para o outro – música animada).

SANFONA

É isso mesmo! Todo mundo ajudando a encontrar um foram de abrir essa latinha, vamos! Quem tiver de moleza vai servir de aperitivo...

OLERÁCEO

Vamos, vamos! (Para a platéia). Alguém trouxe um abridor de latas aí? (Se alguém trouxer, tentar e dizer que, infelizmente, pequeno demais).

ABOBRINHA

Andem logo com isso!

UVONILDA

Deve estar por aqui! (Procurando).

VERDUGO

Achei!!

TODOS

O abridor?

VERDUGO

Não!um ovo cozido! (Traz um enorme ovo).

SANFONA

Droga!

OLERÁCEO

Ei! O ovo é um excelente alimento pra quem está faminto.

TODOS

Exatamente!

SANFONA

E o meu colesterol? Minha taxa de triglicerídeo?

UVONILDA

Por favor!!

VERDUGO

Assim, pleo menos, você não quebra a regra e, de quebra, ainda quebra o nosso galho!

SANFONA

Hummmm!! (Pegando o ovo e comendo)... Está bem! (nhac!) eu vou me contentar com esse (nhac!) ovo!

VERDUGO

Nossa! Que bom!

SANFONA

Pelo menos, por enquanto...

ABOBRINHA

Verdugo, Verdugo! (olhando o relógio) Tá na hora! Tá na hora!

VERDUGO

De quê, Abobrinha?

ABOBRINHA

De recomeçarmos os ensaios...

VERDUGO

Tem razão! Que atraso... Mas também, ninguém contava com problemas de força maior!

UVONILDA

(Olhando para Sanfona). E que força!

OLERÁCEO

E bote maior nisso!!

SANFONA

(“Se achegando” e com a boca cheia). Pessoal, que papo é esse de ensaio?

ABOBRINHA

É que, caso você esteja mal informado, está diante de um astro do Municipal...

SANFONA

Do Teatro Muncipal?

OLERÁCEO

Não! Do Mercado Municipal, mesmo!

VERDUGO

Exatamente!

SANFONA

E quem é essa celebridade?

UVONILDA

Esse lindo alface na sua frente...

VERDUGO

Obrigado pelo “alface”... Prazer!

SANFONA

(Batendo as mãos). ‘Bora pará com essa encarnação e falar de coisas sérias! (atchim!).

OLERÁCEO

Que tipo de coisa séria?

SANFONA

A minha participação no show de vocês, por exemplo!

VERDUGO

Êpa! Alto lá! Show de vocês, uma pupunha, MEU show!

ABOBRINHA

É isso mesmo Verdugão! Viva!!

VERDUGO

Não esqueça que agora você tem uma secretária...

UVONILDA

(Feliz). Êba!! Mais um pra gritar lá de trás!

OLERÁCEO

Sabe, Verdugo, eu, como diretor, acho que esse negócio de uma só pessoa se apresentar no palco num tá com nada. Fica meio monótono!

SANFONA

E muito... muito... solitário!

UVONILDA

(Pra a platéia). É nessa parte que eu entro... (Dando um pulo, faz algumas peripécias), tcha-ram!!

UVONILDA

Ei! Secretário já pode aparecer, é? Então... (também apresenta seu show).

OLERÁCEO

Viu, meu dileto colega? Todos aqui tem algo a apresentar ao público.

VERDUGO

Sei não... somos tão... diferentes.

OLERÁCEO

Aí que está! É essa diferença que dará um toque especial ao show!

SANFONA

Isto! Bem coloridinho! (mostrando o barrigão).

OLERÁCEO

Exatamente! Cada um aqui tem um função muito importante na vida!

UVONILDA

Alface, por exemplo, ai, ai, é uma planta hortelense, as família das compostas, tem o nome científico Lactuca sativa (que lindo!) e é perfeito pára uma salada e (suspira) para mim, também!

SANFONA

Isso é verdade! O açaí contém muito ferro que serve para fortalecer (atchim!) sangue e combater a anemia...

UVONILDA

E a uva, então? É ótima para comemorar o natal!!

UVONILDA

E adoro um bom vinho, também! (Aproximando-se de Verdugo).

VERDUGO

(Indo para o proscênio, empolgado). É verdade, platéia!.. A abóbora é muito útil pra fazer doces, colocar no cozido, e vários outros pratos...

ABOBRINHA

(Choroso). E tem gente que me joga para os porcos!

OLERÁCEO

É isso mesmo! Percebeu, Verdugo, que apesar da presença de todos nós (abraça a uva e a abóbora) o seu brilho estará garantido!!

VERDUGO

É! Tem razão! (com o olhar brilhante).

SANFONA

Ei, ninguém vai falar do valor da lagarta, não é?... atchim, ai... de novo!

OLERÁCEO

Ah é! Tinha esquecido de falar da utilidade da lagarta (abraça Sanfona).

ABOBRINHA

E qual é a utilidade da lagarta, Oleráceo?

OLERÁCEO

Bom! É...

ABOBRINHA

Roer as plantas?

OLERÁCEO

Bem, isso também... mas tem a...

VERDUGO

Comer vegetais?

OLERÁCEO

Sim, tem essa... mas eu queria dizer é...

UVONILDA

Destruir plantações?

SANFONA

Ei, sai pra lá! Quando eu fazia isso – que deus em livre e guarde – eu só estava me alimentando... atchim!

OLERÁCEO

Vocês acreditam que eu esqueci completamente o valor das lagartas para a humanidade?

TODOS (menos a lagarta)

Acreditamos!!

SANFONA

Ah é? Pois eu avho que um pouco de ferro fará eu recuperar as forças... (ameaça agarrar o açaí, que se afasta).

OLERÁCEO

(De um salto)... A-aplaudir!!

TODOS

O quê???

OLERÁCEO

(Aparentando autoconfiança). Aplaudir! As lagartas aplaudem com ninguém. Isso é essencial em um espetáculo...

SANFONA

(Olhando para as mãos). É verdade! Em termos de aplausos nós, lagartas, valemos por muitos...

VERDUGO

Bom!... Agora o melhor de tudo...

TODOS

Vamos ensaiar!!!

VAQUINHA

Querem parar com essa gritaria à toa?

VERDUGO

Quem disse isso?

ABOBRINHA

Eu não fui!

TODOS

Então, quem foi???

VAQUINHA

Olhem pra trás e descubram, seus palhaços! Muuu!!

Todos obedecem e percebem que foi a vaquinha da caixa de leite quem falou, movimentando apenas a cabeça.

VERDUGO

(Espantado). Ei! A vaquinha tá falando...

VAQUINHA

(Debochando). Nhém, nhém, nhém... olha quem tá dizendo isso!

UVONILDA

Venha cá! Por acaso está debochando da gente, é?

VAQUINHA

Eeeeuuuuu? ‘Magina... não é nada disso. Eu quero é trazer vocês para a realidade!

OLERÁCEO

Realidade? Que realidade?

VAQUINHA

Que vocês não passam de vegetais...

SANFONA

Opa! Quem você está chamando de (atchim!) vegetal?...

OLERÁCEO

Realmente, as lagartas pertencem ao reino animal.

ABOBRINHA

Isso mesmo! Animal irracional!

SANFONA

(Partindo pra cima de Abobrinha). O quê???

VERDUGO

(Segurando Sanfona). Calma. Ele quis dizer invertebrado, animal invertebrado!

ABOBRINHA

(Todo encolhido). E-e-exato...

SANFONA

Ah, sim...

VAQUINHA

Quer dizer que você não é um vegetal?

SANFONA

Você acabou de ouvir que não?

VAQUINHA

Então, diga-me, o que você faz o dia todo?

SANFONA

(Pensando). Bem... ultimamente, só descansando...

VAQUINHA

E vai me dizer que isso não é vegetar?

SANFONA

É... bem... bom... olhando por este ângulo, né?

VERDUGO

E qual o problema de sermos vegetais?

VAQUINHA

O problema é que se vocês estão aqui é porque o fim está próximo...

TODOS

Como assim????

SANFONA

Atchim!!! Ai, de novo...

VAQUINHA

É que, não sei se vocês perceberam que nós estamos em uma ge-la-dei-ra...

TODOS

Geladeira????

UVONILDA

Quer dizer que não é um condomínio?

VAQUINHA

Os únicos a serem dominados aqui são vocês. “Dominado, tá tudo dominado”.

OLERÁCEO

Quer explicar melhor, dona vaquinha da caixa de leite?

VAQUINHA

Se vocês, ou melhor, se nós estamos aqui é para sermos conservados até a hora da refeição.

VERDUGO

Como assim? Refeição?

ABOBRINHA

Acho que vão servir um almoço pra gente!! (chelép – lambendo os lábios).

VAQUINHA

Rá!! Vão sonhando... vocês serão o almoço!!!

UVONILDA

Credo!! Que história mais horrível!

SANFONA

Ei, que papo é esse de almoço? O único que tem esse privilégio aqui, sou eu, certo?

VAQUINHA

Santa ignorância! Acordem! Isto aqui é um conservador de alimentos! Daqui a algumas horas vocês vão acabar numa travessa ou numa jarra!!

VERDUGO

Ei, mas eu já estou aqui há vários dias!

VAQUINHA

Um dia e meio, dois, no máximo...

VERDUGO

E como você explica o fato do sol brilhar várias vezes lá no alto?!?!

VAQUINHA

Sol? Ah!! Você deve estar falando da lâmpada que acende quando uma pessoa abre a porta pra pegar alguma coisa e apaga assim que ele fecha...

Silencio. Todos olham... tristeza geral.

OLERÁCEO

(Choroso). É verdade! Eu ouvi algo respeito! (chuif!) mas sempre achei que era história de terror...

VERDUGO

Quer dizer... (chuif!) todo o meu esforço... (chuif!).

ABOBRINHA

(Consultando o relógio). Chefe! (chuif!) tá na hora, tá na hora!

VERDUGO

Tem razão, Abobrinha! (chuif!) tá na hora.

UVONILDA

(Chuif!) Na hora de quê?

ABOBRINHA

Na hora de...

VERDUGO

Na hora de ser comido!

ABOBRINHA

Isso! Na hora de... o quê?

VERDUGO

(Pulando no colo de Sanfona). De morrer!! Vamos, seu herbívoro de leia tigela, devore-me!!! Não tá com fome??

SANFONA

Ei, sai pra lá, meu...

ABOBRINHA

(Puxando o alface). Não, chefe, eu quis dizer que ta na hora de parar os ensaios... como a gente combinou.

VERDUGO

Sim! Eu parei com os ensaios, com os textos, com o show, eu parei com tudo!!! Vamos lá, sei que prefere os alimentos verdinhos... (tentando abrir a boca da lagarta).

SANFONA

Dá um tempo! Sai, tentação!

UVONILDA

Espere! Talvez a vaca esteja inventando tudo. Afinal, ela não passa de uma vaquinha da caixa de leite, não é?

Correm todos em fila, puxados pela lagarta.

OLERÁCEO

Vamos esperar até a última hora pessoal, não se entreguem...

ABOBRINHA

Chefinho! Chefinho!...

SANFONA

Parem!! (grita, de repente. Todos trombam e caem).

ABOBRINHA

Ei, não dá pra avisar que vai parar, não?

SANFONA

(Gemendo). Ai, estou sentindo uma coisa estranha por dentro...

VERDUGO

É fome! Vamos lá!

OLERÁCEO

Parece que ele não está bem...

ABOBRINHA

Olhem! Ele vai levantar!

SANFONA

Ai, que enjôo...

ABOBRINHA

Vai ver ele está esperando uma lagartinha!

SANFONA

Que nada, eu sou um espécime macho-man, capicha... dá licença que meus instintos estão me pedindo pra fazer algo... (inicia uma transformação).

ABOBRINHA

Ele falou intestinos?

TODOS

Psiuuuuuu!!!

Música suave para que a lagarta vire uma crisálida. Pedaços de sua fantasia com fecho velcho ajudarão. Ou outra solução criada pelo grupo. Enquanto isso, os outros ficam fascinados admirando. Após sua transformação vai baixando a música.

ABOBRINHA

Ei!! Aonde ela, digo, ele foi?

VAQUINHA

Na cerdade ela não foi! Está ai dentro realizando uma metamorfose!!

UVONILDA

Que raio é esse?

OLERÁCEO

Isso mesmo, metamorfose, quer dizer uma transformação... E essa coisa aí é chamada de crisálida ou casulo.

ABOBRINHA

Vejam!! A casa, quero dizes, o casulo, está abrindo!!!

Todos ficam maravilhados. Sanfona, desta vez, uma linda borboleta, sai da crisálida.

TODOS

Oohhhh!!!

UVONILDA

Que lindo!!

ABOBRINHA

Que asas!!

OLERÁCEO

Que interessante!!

VERDUGO

Que espetáculo!!

SANFONA

(Com voz de galã). Gostaram? Pois sou eu mesmo! Lindo e maravilhoso (pigarreia), modéstia à parte! (Poetando) Agora eu vou voar livre por aí, levando mais vida aos mais belos jardins.

VERDUGO

Isso é que eu chamo de superprodução. (Fica realmente maravilhado com o fenômeno).

OLERÁCEO

Cinematográfica!

SANFONA

Descobri, ainda, que possuo a função de polinizar as rosas, dando lindas variações de cores e perfumes. E agora vou me alimentar do néctar das flores, que é uma bebida deliciosa, segundo meus instintos.

ABOBRINHA

Ele falou distintivo?? (leva um cascudo de Verdugo) Aiii!

OLERÁCEO

Então, esta é sua verdadeira utilidade!

ABOBRINHA

Sabia que aquela história de aplaudidor era papo furado...

SANFONA

Bom gente! Tenho que seguir meu caminho... Mas quero lançar um convite a vocês que muito me ajudaram...

VERDUGO

Eba!! Quel é?

SANFONA

Eu posso levar um de vocês comigo para qualquer lugar.

VERDUGO

Ah, é! Basta esperar a porta abrir.

UVONILDA

Uau!!

SANFONA

Mas, infelizmente, tenho a minha missão e só posso levar um, apenas. Portanto, tirem a sorte para ver quem vai comigo.

UVONILDA

Poxa! Com a minha sorte eu nunca poderei ir...

VERDUGO

Olha, gente! Podem tirar a sorte vocês que eu não quero ir. Já aceitei o meu destino de servir de fonte de uma rica alimentação.

OLERÁCEO

Então, disputem só vocês dois, afinal eu nasci para fortalecer meus consumidores.

UVONILDA

Minha sorte mudou! Eba!!

ABOBRINHA

Dona uva, sua sorte mudou para bem melhor porque estou sentindo uma vontade enooooorme de virar doce... hummmmm! (Passando a mão na barriga). E tenho certeza que as crianças vão adorar!! Iaca, iaca, iaca! (rindo).

VAQUINHA

E eu lembro ter ouvido a dona da casa dizer que vai ter doce de abóbora no próximo sábado, na sobremesa...

OLERÁCEO

A natureza é mesmo sábia... eu tô louco para me juntar à minha turma no andar de baixo para virar suco ou aquele vitamina esperta...

VERDUGO

E eu, então... tô adorando a idéia de virar salada... contanto que não joguem sal nos meus olhos...

VAQUINHA

Comigo tá tudo bem, meu leite sai de vez em quando e faço parte da primeira e mais importante refeição do dia, muuuu!

SANFONA

Então, tá tudo certo! Você é a eleita...

UVONILDA

Eba! Tô tão feliz. Também adoraria virar suco, mas é que me sinto tão só e já percebi que o alface não quer nada mesmo comigo.

SANFONA

Agora que você falou, eu lembrei que andei por umas plantações com vários frutos da sua espécie... uma videira!

UVONILDA

Uau! Jura?

SANFONA

Eu posso te levar lá!

UVONILDA

Vai ser ótimo visitar os parentes e, quem sabe, meu par ideal... Um uvo maravilhoso!

VERDUGO

Boa sorte, dona Uvonilda...

UVONILDA

(Despedindo-se). Ah, meu querido Verdugo... Oleráceo, meu amigo... e Abobrinha... pena que nossos destinos são diferentes... vou sentir saudades...

VERDUGO

(Rasgando o texto). Tô muito feliz, afinal, todos fazemos parte de um grande espetáculo! O espetáculo da vida!

OLERÁCEO

E o seu grande show???

VERDUGO

Show?? Só agora eu percebi: o espetáculo que eu tanto queria e nunca pude ensaiar aconteceu aqui, naturalmente... não é fabuloso?

TODOS

É mesmo!! Iiiiiéééé´!!! Viva!!!

***** F I M *****

Hedvaldo Silva e Joni Bigoo
Enviado por Hedvaldo Silva em 10/06/2013
Código do texto: T4334994
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