A BONECA CIGANINHA
Numa caixinha de papelão
Bem guardada ficava
Minha boneca Cigana
Com uma saia rodada.
Tinha os olhos bem negros
E uma sapatilha bordada
Com lencinhos e fitas
Com capricho engomadas.
Cacheados e compridos
Seus cabelos me encantavam!
Era mesmo muito linda
Todos elogiavam,
O cuidado que eu tinha
Quando as brincadeiras terminavam;
Ela voltava para a caixinha
Como nas lojas outras novas ficavam.
Mas uma irmãzinha mais nova
Que sempre a boneca pedia,
E eu nunca emprestava
Pois, sabia o risco que ela corria...
“Vai ficar descabelada a coitada”!,
Eu pensava enquanto a escondia,
No fundo de uma gaveta
Ou debaixo da pia.
Certo dia, pela manhã
Do catecismo eu voltava
Já pensando em brincar
Sempre muito animada
Fui abrindo a porta
E fui vendo a irmãzinha,
Puxando pelos cabelos
A boneca ciganinha.
Descobriu meu esconderijo!
Gritava aos prantos!
Tudo espalhado,
Acabou-se o encanto!
Pernas e braços já não tinha,
Era sapatilha na sala
E fitas na cozinha,
Eu chorando e alguém dizendo:
“Deixe com ela! É a caçulinha!”
Me prometeram outra boneca,
Igualzinho a Ciganinha!
Não acharam, isto é certo;
Fiquei sem a bonequinha.
Nada me fazia esquecer:
“Tudo culpa da caçulinha”!