Aninha e a fadinha
 
 
No grande pátio da escola as crianças esperavam pela chegada dos seus pais correndo de lá para cá em uma algazarra feliz que enchia o lugar de alegria. As férias de verão haviam chegado e aquele era o último dia de aula.
 
Aninha não brincava com os outros naquele momento, pois algo roubava toda a sua atenção: em meio aos arbustos do pequeno jardim na ala esquerda do pátio, uma fadinha se encontrava caída no chão.
 
A menina bonita, de pele morena, olhos grandes e castanhos e de traços suaves, se agachou próximo aos pedregulhos espalhados por ali e observou aquela curiosa figura. A criaturinha de aproximadamente dez centímetros de comprimento tinha orelhas pontiagudas, cabelos negros, pele brilhosa e alva, e usava um lindo vestido azul celeste.
 
- Você é uma fada? – perguntou Aninha com o rosto muito próximo da fadinha que se mostrava enferma.

- Sim, você consegue me ver? – respondia a fada tentando ficar em pé.

- É claro que consigo. Você é linda! – Aninha sorria mostrando seus dentes muito brancos e alinhados. Percebia que aquele ser não estava bem, e logo, questionava preocupada.

- O que houve? - a fada virou-se de lado e a garota ficou condoída com o que viu. – Oh! Meu Deus! O que aconteceu com seu braço?
 
Não houve tempo para a resposta, o carro da mãe de Aninha buzinou na frente dos portões da escola e rapidamente a menina correu, agindo rápido para não ser interrompida nem questionada. Pegou no porta luvas uma pequena caixa que a mãe possuía, e então, regressou até o jardim onde a fada de vestido azul permanecia deitada com aquele machucado no braço direito. A garota, com gentileza, colocou sua nova amiguinha dentro da caixa, vedando-a cuidadosamente com a tampa.
 
- Mamãe, eu encontrei uma fada! – dizia sentando-se no banco do passageiro e levantando a tampa para que a mãe pudesse ver o seu achado.

- Oh, que lindo! Um colibri. – exclamava a mãe da menina sorrindo e ligando o carro.

- O que? – perguntava Aninha observando o ser que dormia.

- Um colibri, minha filha. Espere. – momentos depois, com o carro parado próximo ao semáforo, a mulher mexia no celular procurando uma imagem em um site de buscas para mostrar a filha.

 
Em seguida, Aninha olhava intrigada para a figura de um lindo beija flor azul sem entender o porquê daquela confusão. A fadinha era tão bela quanto a ave, mas a diferença era gritante.
 
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Em casa a garota corria para o quarto enquanto os pais terminavam de arrumar as malas, estavam de viagem para o sítio do avô da menina que morava em uma grande fazenda no interior da cidade. Era a primeira vez que Ana iria conhecer a casa do avô, pois enfim, os pais conseguiam acertar as férias do trabalho para que todos pudessem viajar juntos, e eles já se mostravam felizes em poder passar algum tempo naquele lugar e esquecer-se da correria da vida na cidade.
 
- Você tem nome? – perguntava a menina pondo a caixinha sobre a cama do seu quarto.

- Claro, mas não dá para pronunciar em sua língua, por isso, me chame de Luz Azul.

- Luz Azul... – repetia Aninha pensativa observando a pequenina ensaiar alguns passinhos, se mostrando melhor. – O que machucou o seu braço?

- Na verdade, a pergunta certa seria: Quem? Quem machucou o meu braço. – houve um breve silencio, Aninha e Luz Azul ficaram observando o machucado e a fada voltou a falar. – Recebi uma pedrada de um homem. Sabe, nós, as fadas, andamos por aí, neste mundo cheio de pessoas diferentes, com o propósito de espalhar a beleza e a bondade. Mas... é difícil... muito difícil.

- Por quê? Por que os adultos confundem vocês com aves, como a minha mãe confundiu? – dizia a garota ouvindo a mãe subir as escadas, certamente para chamá-la e seguir viagem.

- Ah! Sim, isso acontece mesmo. As pessoas crescem e tudo torna-se comum, sem magia, seco... Muitas de nós são presas em gaiolas para que nossas melodias alegrem os corações humanos. Somos vistas como adornos, meros produtos de beleza.

A porta foi aberta e a mãe da menina disse:

- Vem, traz o teu passarinho, talvez o teu avô ajude você a cuidar dele, ele tem vários pássaros em gaiolas.

Aninha olhou para Luz Azul de olhos arregalados e recebeu em troca um aceno com a cabeça como se a outra dissesse: “Não falei?”

Naquele momento Aninha sabia que algo deveria ser feito, e por esse motivo, partiu levando Luz Azul consigo a caminho da casa do avô. No decorrer da viagem a garota observava a criaturinha dormir enquanto refletia por longos momentos nas palavras que ouviu.

“As pessoas crescem e tudo se torna comum, sem magia, seco...” “Somos vistas como adornos, meros produtos de beleza”Teu avô [...] tem vários pássaros em gaiolas”
       
Aninha, com o peito comprimido sentia as lágrimas chegarem ao imaginar que haveria várias fadinhas aprisionadas, chorando entristecidas na casa do avô. E pensava em abrir todas as gaiolas e deixar que aqueles seres de luz seguissem seus caminhos.

 
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Em pouco tempo, o avô os encontrou na passagem próxima a casa e foi cordial com todos, mas percebeu a tristeza da menina. Entretanto, sem se demorar mais nenhum minuto, Aninha correu em direção a varanda onde ficou assustada com o que viu.

Dentro de várias gaiolas, tristes e com as cores desbotadas, diversas fadinhas pediam ajuda em um coro uníssono:

"Liberte-nos!" "Liberte-nos!" 

A menina agiu apressada, e com a ajuda de um baquinho, abriu todas as gaiolas enquanto que as fadas partiam voando felizes no céu, ao passo que os adultos reprovavam a sua atitude e a mãe se aproximava para lhe puxar a orelha e levavá-la para um quarto.

Minutos depois Aninha se debruçava em uma janela para olhar a beleza das flores nos campos, indiferente as palavras que traspassavam para dentro daquele recinto.

“Desculpe-me não sei o que deu nela” [...] “Desculpe papai, nossa filha não é tão levada assim.” [...] Meu pássaros cantores! Meus pássaros!


 
******
 
- Você fez uma boa ação, Aninha. Obrigada. – dizia Luz Azul, voando de um modo torto, e ainda assim, muito belo, passando bem próximo ao rosto da menina morena que ria satisfeita. – Serei eternamente grata a você, minha amiga.

- Eu nunca vou me esquecer de você Luz Azul!

- Vai, sim. Todos crescem e se esquecem de olhar a beleza da vida. Mas isso é natural aos humanos. Lembre-se, Aninha. Seja sempre boa.

 
...

 
 
As férias de Aninha duraram pouco, mas a mensagem deixada pela fada Luz Azul persistiu por toda vida. 

 
 Obs: Para minha sobrinha: Sofia Maria. 
 
 
 
Maria Santino
Enviado por Maria Santino em 01/05/2014
Reeditado em 01/05/2014
Código do texto: T4789604
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