Entre a espera e o ovomaltine (repostagem)

Espero ansioso pelos passos no corredor. É o anúncio da presença dela, chegando. Ouvido colado à porta. Só o silêncio. Como me parece absurdo o silêncio nessa hora. Quero abrir a porta, deixar uma pequena fresta para poder observar o corredor por onde ela vai passar, mas tenho medo que ela surja de repente e me flagre tomando conta, espreitando. Hoje parece que ela está demorando mais que o normal. Por que a demora? Resisto à tentação da fresta, mas não saio do lugar nem descolo o ouvido da porta. Atento. O tempo passa e a aflição aumenta. Daqui a pouco não poderei mais ficar aqui. Droga, chega logo. Talvez não tenha vindo direto para casa. Quem sabe foi a uma lanchonete, tomar um sorvete. E eu aqui, esperando. Pronto, Não dá mais pra esperar. Tenho que ir, já vai começar meu programa favorito na tv. Amanhã é sábado. Amanhã encontro com ela no play-graund. Corro para a frente da tv e me delicio tomando um gostoso ovo maltine enquanto assisto o coelho pernalonga. Afinal, com dez anos, ainda tenho muito que esperar.