Um milagre de Natal

Era uma fria noite de Dezembro, véspera de da comemoração do nascimento de Cristo. Nas ruas de Londres, não se via quase ninguém. Uns preparavam a ceia dentro das aconchegantes casas, outros se aqueciam diante das chamas de lareiras. Fora das moradias, estava muito frio. A neve cobria todas as avenidas da linda cidade, que ficava mais encantadora com as luzes de do feriado. Nas praças da capital da Inglaterra, viam-se apenas alguns casais. Loucos e apaixonados namorados que se aventuravam no frio.

O Big Ben marcava onze e meia da noite. Mais trinta minutos e já seria Natal.

Passava pela rua uma garotinha, pobre, porém, linda. A jovenzinha não tinha mais pais. Os seus morreram logo que ela nasceu. Foi criada por seus tios até completar dez anos de idade, quando a jogaram na rua, solta à própria sorte.

Viveu solitária por dois anos, até fazer amizade com um cachorrinho, após salvá-lo de um carro que o atropelaria. Passara mais dois anos com o cachorro, mas, nesse Dezembro, por causa do frio, também se foi, deixando-a sozinha novamente.

A solidão era angustiante. Vagava sozinha pela cidade, mendigando comida.

Enquanto andava pela fria noite, parou diante da janela de uma bela e confortável casa. Olhou para seu interior e viu uma enorme sala de jantar. No centro da mesa, o peru brilhava aos olhos da garota. A vontade de comê-lo a consumia por dentro.

Todos os parentes se acomodavam nas cadeiras em torno da grande mesa de mogno. Os sorrisos estampados naqueles rostos mostrava a felicidade deles. Aquele era o maior sonho da jovem: ter uma família e ser feliz junto dela.

Os olhos espertos da garota viam tudo dentro da casa, inclusive a enorme Árvore de Natal num canto da sala. Inúmeras caixas embrulhadas em papeis multicoloridos foram colocadas embaixo dela. Uns grandes, outros menores, mas, para a menina, qualquer um daqueles, o mais simples que fosse, estaria ótimo. Nunca receber regalo algum.

Faltavam, agora, apenas cinco minutos para a tão esperada hora. A garotinha via-se sentada junto daquela família, naquela linda e farta mesa. Sorrindo e degustando aquela farta mesa.

Chegara meia-noite. Já era possível ouvir as doze badaladas. A família, então, começou o banquete. Os olhos da menina se encantaram com aquele momento e, nesse instante, sua presença foi percebida. Um dos filhos dos donos da casa a percebeu e avisou ao pai. A menina tentou se esconder, mas não teve tempo. Foi vista pelo homem.

Abaixou-se e começou a engatinhar pela calçada.

O senhor caminhou até a porta e a abriu. Colocou a cabeça para fora e procurou pela menina. Avistou-a, já um pouco distante.

Saiu pela porta e foi atrás dela. Ela nem sequer ousava olhar para trás. Para chegar mais rápido, o alto homem correu e logo alcançou a garota. Um toque sutil em seu ombro a fez saltar de susto. Quando se virou, o senhor sorria de um jeito bondoso para ela e, em seguida, deu-lhe um aconchegante abraço, então, retirou do bolso da calça, um embrulho que levava consigo e deu à menina. Aquele foi o primeiro presente que ela ganhara na vida. Sem abri-lo, devolveu o abraço ao senhor.

Retornaram juntos para a casa do homem que a acolhera. A garota sentou-se, junto de toda a família, à mesa e comeu daquele lindo banquete. Este foi, com certeza, o melhor dia da vida daquela jovem flor.

Pouco tempo depois, ela foi adotada por aquela família e, enfim, realizou o sonho que, para ela, parecia impossível. Este, sim, foi um verdadeiro milagre de Natal.