O intruso

Minha mãe era todinha minha. De manhã cedo, pulava na cama dela e ela me acolhia com um lindo sorriso. Tomávamos café juntinho. Ela me dava na boca meu leitinho com bolachas de mel. Ajudava-me a fazer minha tarefa de casa e íamos ao parque em dias de sol. Muita água para refrescar. Na hora do almoço, com ternura me acompanhava. Preparava meu banho e me lavava com todo carinho. Eu adorava quando ela fazia massagens para que eu relaxar. Depois do banho, me levava a escola, onde eu passava um bocado de tempo. Ao sinal, saía correndo para o portão e a encontrava ali. Era bombardeado de beijos para todo lado. Ela me trazia de volta para casa, me dava outro banho, jantávamos e antes de dormir, brincava um pouco comigo e contava estórias. Ela era muito engraçada contando estórias. Andava tudo bem, até que a barriga dela começou a crescer. Só sei que depois disso, tudo ficou um saco! Ela dorme mais que a cama de manhã. Dependendo da comida, faz uma cara estranha... Ela se cansa rápido ao me levar a escola e ainda tem que sair de vez em quando para ir ao médico. Ela nem está doente! Mudou meu quarto todo. Meus brinquedos que podiam ficar lá agora foram levados para a área de serviço. Falamos menos sobre os desenhos da televisão e do que faço na escola, porque agora o assunto é outro. É roupinha de bebê, é nome de bebê, é quartinho de bebê... Não agüento mais! Acho que não gostam mais de mim. Quando vou pular na cama dela, meu pai já grita logo: Cuidado com a barriga! Na hora do banho, eles querem me convencer que já sei tomar sozinho. Nas tarefas da escola, tenho que me virar, e por aí vai... Quando meu irmãozinho nascer, eu não vou deixá-lo pegar em nenhum dos meus brinquedos. Não vou nem querer saber se ele gosta de desenho, eu gosto e vou assistir a todos. Quando a gente for brincar de luta, eu vou ganhar sempre dele. É, porque nesta noite vou rezar muito para ser um menino...