MINHA PRIMEIRA VIAGEM DE TREM

- Eu não posso esquecer a minha primeira viagem de trem, porque ela começou muito mal para mim. Eu era um garoto, dos meus nove anos de idade e vivia numa fazenda do interior. Todos os dias o caminhão do leite vinha pelas estradas até a fazenda em que eu vivia, para coletar todo o leite excedente, transportando-o para uma fábrica de lacticínios. E era uma prática bastante usual na minha terra, esses caminhões do leite transportarem pessoas, mediante um preço irrisório, até a cidade mais próxima. Como a coleta do leite se fazia duas vezes ao dia, as pessoas tinham condução para ir e para vir.

- Naquele dia eu não estava bem, já que fiquei acordado por horas na noite anterior e mal pude dormir. Após o café da manhã eu estava nervoso porque eu iria viajar com um irmão mais velho (eu achava que elepoderia não saber como se comportar até chegarmos ao destino)! Nós iríamos até uma cidade chamada “Serra Azul”, para visitar uma velha tia que queria muito me ver. Eu estava vestindo meu uniforme branco de marinheiro, usando ainda a boina que completava o uniforme. Eu estou lindo, pensei. Na hora certa, subimos no caminhão do leite e formos embora. Após duas horas, nós chegamos na estação do trem. O trem era uma Maria Fumaça, alimentado à lenha, que gerava vapor, que fazia o trem andar. Eu estava feliz, e da janela ficava apreciando as montanhas, os rios, as arvores, os pássaros e os rebanhos.

- Quando o trem parou, eu vi alguns garotos; eles ficaram me encarando o tempo todo: “deve ser porquê estou bonito, pensei”. E só aí me lembrei de que durante a viagem eu vi um homem, usando o uniforme da companhia ferroviária empunhando um balde com água, caminhando de um vagão ao outro e, após algum tempo, retornava com o balde vazio. Lembro-me de ter perguntado ao meu irmão, qual o significado daquilo, e ele me disse que aquele homem apagava pequenos focos de incêndio nos vagões, que era um trabalho frequente naquele tipo de trem. Disse-me ainda que os focos de incêndio eram devido às fagulhas que saíam pela chaminé da locomotiva. Então, me aconselhou que eu saísse da janela ou pelo menos fechasse os vidros quando passássemos por túneis ou em curvas muito fechadas, senão poderia queimar minha roupa. Não lhe dei ouvidos até chegar ao destino. Vocês podem imaginar a minha cara quando chegamos à casa da minha tia: Meu rosto estava coberto do pó da estrada, devido ao caminho do leite, meu pé estava machucado devido ao sapato novo, e estava faminto! Certamente, minha tia deve ter tido uma decepção quando me viu, porém, eu jamais esquecerei a minha primeira viagem de trem.