História de hoje - A caixa de recordações do vovô grilo

Quem conta um conto

Faz palavra criar asas

Faz do som, borboleta

Do ouvido, grande baú

Quem conta um conto

Diz bem mais do que já sabe

Faz o príncipe virar sapo

Faz da vida grande barato

Todo mundo pensa que é esperto, não é mesmo? Pensa que sabe mais, tem resposta pra tudo e nem tudo que acontece com os outros, pode acontecer com ele. Chico Grilo era assim! Um grilo de botas, chapéu de papel e canhota. Desde cedo estudou na Escola de Grilaria e vivia grilado pelo tanto de descobertas que ele fazia todos os dias. Descobriu, por exemplo, que quando era dia, não podia ser noite e a noite nunca acontecia durante o dia! Sol e Lua eram namorados, mas nunca se encontravam! Descobriu que o vento assanha as árvores e eles se enamoram, que as raízes são excelentes remédios; que os vagalumes enfeitam as noites, deixando-as mais românticas e uma cantoria de grilos nem sempre agrada.

Também descobriu que estava apaixonado porque sentia o seu coração bater descompassado quando via aquela Maria grilo passando timidamente em sua frente. Os olhos ficavam piscando, as mãos suando e a boca em formato de coração, querendo beijar aquela grilinha de cabelos negros como a noite e de voz tão suave. Certo dia, Chico Grilo foi a casa do vovô Grilo que se encontrava gripado. Como ele sabia que o vovô Grilo era um homem muito respeitado, pela idade e por ter sido professor da escola de Grilos e maestro da maior orquestra Grilada da região, entre um espirro e uma xícara de chá, os dois iam torcendo uma rede de conversa! Naquele papo de avô e neto, ele quis saber como vovô grilo e vovó grilo tinham se conhecido e se apaixonado. Vovô grilo o olhou por um instante, leu nos seus olhos o que estava acontecendo, bateu de leve no chapéu do neto e balançou um pouco a cadeira que estava sentado. Chico Grilo percebeu que o vovô grilo, mesmo se arrastando, foi a um baú antigo e voltou com uma bela caixa dourada, enfeitada com fitas amarelas e dois corações vermelhos com fotos em preto e branco. Os olhos do Chico Grilo pareciam que iam sair da caixola, as mãos ficaram inquietas e o coração disparado. Quando conseguiu falar, perguntou ao vovô grilo se estava certo ele pegar a caixinha da vovó grilo sem a permissão dela! Entre um espirro e o esforço de chegar à cadeira de balanço, vovô grilo deu uma risada grilosa e perguntou ao neto Chico Grilo o motivo que o fazia pensar que a caixa nas mãos dele pertencia a vovó grilo. Ele foi logo dizendo que quem tem caixa enfeitada daquele jeito é mulher. O vovô pôs os óculos, olhou para o neto e falou olhando dentro dos olhos dele: "Quem te ensinou assim, ensinou errado, Chico Grilo, homem também pode ser sensível e ter sua caixa de recordações enfeitada. Aqui dentro é como se fosse o meu coração, tem todas as cartas, todos os bilhetes, todos os papéis de chocolates, todos os ingressos das matinês que eu e sua vó íamos juntos, todos os frascos de perfumes, fotos, presentes como também as tristes recordações que nos acompanham... ".

O neto Chico Grilo ficou meio rosado, mas arriscou algumas notas de alegria para agradecer ao vovô grilo de ter aberto a caixinha de recordações dele e ele falou para o avô que também estava apaixonado e queria fazer uma caixa de guardar recordações igual a do avô.

Avô e Neto encheram duas xícaras de chá, fizeram um brinde e entraram pela noite em uma conversa sem fim, assim como eu entrei pela perna do pato e saí pela perna do Pinto, pedindo que você feche os olhos e conte bem alto até cinco!