O velho e a cabra

Existia a muito tempo,muito tempo,um antigo moinho,e nele viviam dois velhos homens,sendo de que cada um deles possuía uma cabra a qual tiravam o leite e vendiam para o vilarejo próximo.

Certa vez,estando um inverno cortante, o velho gentil se pôs em direção ao celeiro levando com ele uma coberta de lã,o que fez o outro o indagar:

- Onde vai com essa coberta de lã?

-Vou coloca - la na minha cabra, pois mesmo no celeiro sei que faz frio e,coitadinha,deve estar congelando!-respondeu o bom homem.

-Mais que velho tolo!Desperdiçar uma boa coberta dessa com um animal, só pode está ficando gagá!

O velho gentil, fez que não ouviu e se dirigiu a porta da casa,ao abrir - la sentiu o vento frio e se apressou a chegar ao celeiro.E certo, encontrou o animal encolhido ao um canto em um monte de feno, abaixou - se e a encobriu,percebendo ao longe a cabra de seu companheiro tremula.Voltando a casa tratou de informar ao colega sobre a situação do animal o aconselhando a também leva-lhe uma coberta.O que fez o homem lhe dizer :

- Eu?! está mesmo louco se pensa que ei de levar uma coberta para uma cabra!Se se preocupa tanto faça isso você mesmo.

O homem disse que de bom grado o faria, mas que sua única coberta era aquela que deixara a sua cabra, e de novo o aconselhou a ir fazer o mesmo.De nada adiantando, foi se dormir.

De manhã, quando o velho rancoroso levantou, dirigindo- se ao celeiro para alimentar o animal, encontrou- o morto a um canto, e mau como era, decidiu trocar os animais.Colocou a morta junto a coberta, e,tirando a fita que as diferenciava, colocou a na viva.

O velho gentil acordando e indo ter também no celeiro, avistou o que pensava ser sua cabra morta e imediatamente pôs se a chorar junto a ela.

O outro que assistia cena, não sentindo nenhum pesar, ainda zombou:

- E agora?Do que lhe valeu usar uma coberta em uma cabra se está já estava predestinada a morrer!

Anestesiado pela dor,nada disse.E foi- se amargurado enterrar o animal próximo a uma colina onde gostava de deixa-la pastar.E assim, a luz do dia, quando já começara a cavar um cova rasa, foi que deu falta de uma pequenina mancha junto a orelha do animal, algo um um tanto imperceptível a um olhar desatento, mas que seus olhos cansados ainda poderiam distinguir.

Como se dando conta do que ocorrera e querendo vingar- se, enterrou o animal ali mesmo, prosseguindo suas tarefas diárias como de costume, e um pouco antes do crepúsculo esgueirou-se pelo celeiro e se escondeu em um pequeno alçapão de - só seu conhecimento - e aguardou que o companheiro retornasse.

Ia vindo o velho,feliz,pois a cabra que tinha pego era generosa no quesito leite e agora, sem concorrência, poderia vender litros e litros do mesmo.Se aquele velho não fosse tão tolo,pensava,poderia ter ganho muito dinheiro com aquele animal,mas agora que a sorte lhe sorria não a dispensaria!

Vinha fazendo planos,e já pensava em se livrar da velha cabra trocando-a por um animal mais novo,que com certeza lhe seria muito mais útil.Ou quem sabe,considerou,poderia até vende-la para aquele tolo sentimental,que deveria estar chorando pela cabra morta até agora.

Com esses pensamentos em mente,ia adentrando o celeiro puxando a cabra pela corda,quando ouviu um barulho,ou seria um voz?Não sabia.

-Deus vê tudo.

- Quem...quem está aí ?

- Deus vê tudo.

Os olhos do homem vasculharam de todo o celeiro e não encontrando nada,voltou perguntar:

-Quem está aí?-arriscou um passo,mas dessa vez a única coisa que ouviu foi o barulho da cabra derrubando um balde.Foi aí que entendeu:A cabra falara com ele!

O homem correu,mais do que nunca fizera na vida e quem vê-se a cena ao longe nunca imaginaria tratar - se de um sexagenário.O outro,saindo do alçapão, sentiu certa culpa pela peça que pregara no companheiro,mas,enquanto acarinhava a amiga,convenceu - se de que fora muito bem merecida.

Sobre o velho rancoroso nunca mais se soube,a não ser uma notícia sobre um possível homem enlouquecido que teria surgido em um vilarejo dizendo algo de ter falado com uma cabra.

O velho gentil ainda viveu muito tempo, e se sentido ainda um tanto culpado,prometeu ao bom Deus que por todos os anos que ainda tinha de vida ajudaria os pobres e os necessitados.Tendo mais felicidade na velhice do que teve na juventude, ainda continuava ordenhando sua cabra,agora com mais devido respeito,afinal,Deus vê tudo.