UM CANTO PARA YÚRI.
 
A nossa história diz respeito a um menino inteligente, assim como muitos outros que existem no mundo.
Acontece que temos, cada um, a nossa própria história e cabe somente a cada um de nós mudar o que deve ser mudado.
Esta, portanto, é a história de Yúri.
Yúri   era um menino um pouco triste, coisa comum a toda gente, mas uma tristeza de um jeito como nenhuma outra tristeza existia...
Dizem que aconteceu há muito tempo e que ele morava atrás de uma montanha numa casa pequena e muito simples, mas uma casa como nenhuma outra casa existia...
Mas por que Yúri era um menino um pouco triste?
Porque o mundo para Yúri, que vivia naquela casa pequena atrás da montanha, era um mundo todo em preto e branco, como nenhum outro mundo existia...
A vegetação rasteira do lugar, as árvores, as flores e tudo o mais na natureza se apresentavam a ele em apenas duas cores: a branca e a preta.
O céu era sempre branco durante o dia e o mundo inteiro, aos olhos de Yúri, era um mundo preto de um lado e branco de outro.
Até o arco-íris, depois que chovia, era preto e branco - quem diria! - como nenhum outro arco-íris existia...
Mas um dia, quando caía uma chuva miúda como nenhuma outra chuva caía, um bem-te-vi pousou na janela da casa de Yúri, que era uma janela preta e branca, e cantou:“Bem-te-vi! Bem-te-vi!”, como nenhum outro bem-te-vi existia...
O bem-te-vi, pousado na janela, estufou o seu peito amarelo e chamou Yúri que estava no quarto, um quarto pintado de preto e branco, e cantou novamente como nenhum outro canto existia:
“Bem-te-vi! Bem-te-vi!”
Muito curioso, Yúri correu para ouvir de perto porque o canto era um canto somente para ele, e um canto para Yúri era um canto como nenhum outro canto existia...
Assim que Yúri viu as cores do bem-te-vi, uma luz preencheu de amarelo todo o espaço do jeito como nenhum outro espaço existia.
E então Yúri exclamou:
“Também-te-vi! Também-te-vi!”
Em disparada e sentindo que algo novo e maravilhoso estava acontecendo, Yúri saiu de sua casa, que ficava atrás da montanha, e viu que não se tratava de uma casa preta e branca como sempre imaginara.
 Yúri percebeu, pela primeira vez, que a sua casa estava inteiramente colorida, com variados tons, como jamais vira.
Nesse momento, o pássaro de peito amarelo, que estava pousado na janela, bateu as suas asas e voou e cantou sem parar.
Alcançando as alturas, o bem-te-vi estava indo embora, enquanto cantava um canto um pouco diferente:
“Bem te quis! Bem te quis!”
Yúri estava feliz, mas feliz de um jeito como nenhum outro jeito existia...
(Querido leitor,
existe um convite para a vida, que pode ser o canto de um bem-te-vi ou outro chamado qualquer, a que você precisa atender com muita atenção.
Às vezes, um canto que canta de repente ou uma voz que você ouve do fundo de seu coração pode revelar um caminho que fará você enxergar as mais pulsantes cores da vida e, com certeza, um jeito de você viver feliz como nenhum outro jeito existe...).
Assim, depois que Yúri ouviu o chamado do bem-te-vi, que era um canto somente para ele, e viu que tudo à volta de sua casa reluzia em cores variadas, ele saiu a correr pelo campo, um campo que cheirava a todas as cores, e correu e correu para ver se via o bem-te-vi que, de tão distante, não se via mais...
... Mas, enquanto se embrenhava feliz no campo, Yúri ainda pôde ouvir o canto do bem-te-vi amigo que vinha de lá detrás do arco-íris colorido:
“Bem-te-fiz! Bem-te-fiz!”,
como nenhum outro bem havia...
FIM