A carta

-Onde estão todos? Preciso que comprem vacinas, a caminhonete tem de ser vistoriada para o seguro; quando quero alguém todos somem da minha frente. - começa a ralhar Seu José.
-Preciso mesmo passar no correio, posso fazer isso pra você, com certeza os outros estão ocupados. - responde Lúcia, a esposa se Seu José.
Quando pintava uma folguinha, os empregados da fazenda sempre davam um jeito de ir à casa de Alice para ver os artistas trabalharem. O atelier estava maravilhoso, para não dizer curioso. Era gente esculpindo cada coisa estranha. Artistas com cavaletes e telas pintando em vários lugares retratando detalhes da fazenda “Amor-perfeito”. Até na cozinha tinha gente fazendo arte, esculturas em legumes e verduras. Tudo isso despertava muita curiosidade, até das ovelhas.
-Lolla estamos querendo ver a peça de arte em forma de ovelha. - foi falando Beto como porta-voz de um mini rebanho bem a porta da casa da fazenda.
-Nós combinamos até fazer uma fila para que todos apreciem e não causem tumulto dentro da casa.
-Não é melhor deixar a peça em exposição na varanda, assim não precisaríamos entrar. - foi falando Rubenita.
-Eu quero entrar, quero ver as outras coisas. - pede Cida.
-Claro que vocês podem entrar. Sigam-me! - e Lolla foi conduzindo a turminha para uma apreciação mais detalhada.
-Que está acontecendo? - se assusta Alice com uma interminável fila de ovelhas circulando pela casa.
-Estou mostrando arte! - fala Lolla decidida.
Nisso, na cidade, Lúcia faz as compras, vistoria o carro e passa no correio.
-Dona Lúcia, sua encomenda chegou.
-Que bom! - junto com pacotes, extratos e propagandas Lúcia foi logo procurando o que mais lhe interessava: uma carta resposta. Com um sorriso no rosto foi saindo sem que o funcionário do correio entendesse.
Na fazenda...
-Seu José, tudo tem corrido tão bem por aqui que fiquei a pensar se o senhor não gostaria de fazer um culto de agradecimento a Deus, por tantas bênçãos. - propõe Jocilei.
-Vou pensar Jocilei. Preciso consultar a Lúcia sobre isso.
-Com certeza o senhor vai gostar, enquanto isso gostaria que lesse os Salmos 103 da bíblia que lhe dei de aniversário.
A caminhonete estaciona na porta e Lúcia entrega as chaves para Jocilei estacionar. Deposita nas mãos do marido as correspondências, menos, óbvio, a tal carta.
-José nós precisamos de um computador, hoje em dia quem não tem um está totalmente por fora...
-Para que? Se eu quisesse ser moderno moraria na cidade.
-Não é nada disso, vai nos auxiliar em tudo, coisas podem ser feitas através do computador como compras, mandar e receber mensagens, nos comunicar com pessoas do mundo todo. Pense nisso, querido!
Huuuummm! - vai resmungando Seu José enquanto pensa no “querido?!”.
No quarto, Lúcia abre a carta para ler mais uma vez.
““... chegará à sua cidade no dia 10.
Atenciosamente
“ANIMAR”.
Lúcia estava se sentindo incomodada, precisava conversar urgentemente com seu marido. Foi para a sala e entregou-lhe a carta aberta para que lesse.
-Veja se eu entendi bem. Aqui diz que está chegando um roteirista para passar uma temporada conosco, a fim de conhecer a Lolla. E que vai fazer um filme da vida dela! Como surgiu isso?!
-Eu escrevi pra eles contando a história e eles se interessaram. Por favor, querido, pode ser muito interessante.
-Vou pensar. - por causa daquele “querido”, Seu José foi respondendo:
-Pensei. Aceito!
No curral, Lolla curtia mais uma deliciosa refeição naquela pastagem verdinha.

Continua amanhã...