(30/40) Gente nova no pedaço

Jocilei estava chegando com a caminhonete que Seu José lhe emprestou para buscar sua esposa, Dora que feliz da vida trazia nos braços seu filhinho João.
Na porta da casa, Lúcia e Seu José aguardavam ansiosamente a chegada do bebê como se fosse o seu neto.
       - Lúcia, depois de tanto filhote dos nossos animais, enfim temos um bebê de carne e osso. Essa fazenda precisava de renovação. Gente nova é sempre uma bênção, não é Jocilei? Na bíblia não diz que os filhos são herança do Senhor e o fruto do ventre o seu galardão? Agora me deixe pegá-lo no colo. Pesadinho hein! Qual o nome dele?
       - Ih! Agora é que será a menina dos olhos do José. - diz Lúcia - Dora, você não precisa se preocupar com nada, vá para seu quarto e cuide do Joãozinho.
        - Obrigada, realmente eu tenho uma tremenda família.
Passada algumas horas, chegam a casa, Ari e Alice, que vão logo perguntando:
        - Onde estão Dora e o bebê?
        - Ah! Já estão descendo para o almoço. Vocês vão ver que gracinha é o Joãozinho.
        - Deram o nome do vovô, é. Que legal!
        - Alice, ao pegar no colo o bebê, sente um misto de ciúme, inveja e desejo. E diz para Ari:
        - Amor, eu também quero um!
        - Eu sempre quis você é que ficou adiando. - fala Ari taxativo.
A notícia chega ao rebanho, logo se formam grupinhos a comentar:
        - Como deve ser filhote de gente?
        - Deve ser gente pequenininha.
        - Vamos lá ver?
Uma comitiva liderada por Lolla, com Rubenita e Cida e, Lolô vão até à casa da fazenda ver o bebê. Alice leva a turminha até o quarto. Chegando lá Cida se aproxima e...
        - Eu me chamo Cida, e você?
Silêncio. Alice e Dora caem na risada.
        - Vamos brincar lá fora? - insiste Cida. - Tem alguma coisa errada com ele. Não quer falar?
Rindo Alice responde:
       - O bebê de gente é diferente. Depois que nasce leva muito tempo pra falar, andar, comer...
        - Por quê?
        - Vou entender. Vou entender.
Lolla, Rubenita e Lolô estavam deslumbradas com o Joãozinho. Perguntam se podem lamber o neném... Dora e Alice se entreolham e, Dora responde:
        - Claro, no pezinho, no pezinho, tá?
Felizes elas retomam o caminho do pasto e vão contar a novidade. Lolô pergunta a Lolla:
        - Por que será que só deixaram lamber o pezinho? Não é esquisito? Eu queria lamber a carinha dele.
        - Nós também!
Entrando pelo portão da fazenda, um casal humilde de meia idade se aproxima procurando por Mose. Seu José vai recebê-los e tem uma surpresa quando pergunta quem são. Prontamente se identificam como os pais dele.
        - Sempre achei que o Mose não tivesse parente algum, ele está comigo desde os oito anos.
        - É que a gente foi a uma festa de romaria e o Mose se perdeu de “nóis”. Aí, a gente sem dinheiro mesmo “dexô” pra lá, ele era “muleque” esperto, ia se “virá”. No ano passado vi na TV o meu Mose, quando o “sinhô” caiu no buraco. Meu Mose tem uma pinta na “oreia”, que nem eu. — levanta os cabelos mostrando a pinta idêntica à dele.
        - Jarbas Fidélis e Marcelina, as suas “ordis”. - diz o pai do Mose estendendo a mão.
        - Fiquem à vontade, vou chamar o Mose.
        -Seu José entra na sala com a mão no ombro de um Mose super calado.
Nenhuma manifestação de carinho comoveu Mose. Para ele seus pais eram Seu José e Dona Lúcia.
        - “Nóis” veio “mora” com “ocê”. “Sô trabaiandô” e sua mãe é muito “trabaiadeira”.
Lúcia e seu marido vendo que Dora estava de resguardo acharam por bem ficar com eles e assim lhes dar trabalho e moradia. Quem sabe, mais tarde, Mose não os aceitaria como seus pais verdadeiros?!
A vida tem dessas coisas; filho que vem para pais e pais que vem para filho. 


Continua amanhã...